Capitulo Doze — Família do Caio
Quando estávamos perto o bastante, eu simplesmente me abaixei e deixei que as lágrimas caíssem. Nós iriamos nos beijar, isso era evidente, iriamos fazer aquilo que eu sempre quis, e foi quando me lembrei do motivo de estarmos ali, o motivo de estarmos naquela praça onde algumas pessoas já paravam para ver quem eram aqueles dois jovens chorando, parei. Não estávamos ali para isso, não queria que meu amigo me beijasse por consolo, queria que ele me beijasse por vontade de me beijar, de sentir meus lábios nos dele, não por estar triste e querer ficar alegre com qualquer outra coisa. O que me restava era oferecer meu ombro amigo, somente.
Eu estava tentando ser forte, tentando mostrar ao Caio uma força que eu não tinha, mas fracassei, não fui tão perseverante, não me mostrei prestativa, naquele momento eu me senti inútil. Todos nós sabíamos que logo isso aconteceria, todavia, não queríamos aceitar, Caio principalmente. Ele queria que tudo acontecesse com ele, menos com a mãe. Eu o entendia. Qualquer filho sente isso pelos pais, Eu era uma dessas. Se meu filho estivesse ali, ele estaria dizendo que me odiava e que não me via como mãe... Chorei ainda mais.
Senti os braços fortes de Caio me envolver e perguntei:
— Por que eu odeio essa criança?
Quando levantei minha cabeça, vi seus olhos mais confusos do que já tinha visto, porém ele tentou responder:
— Não sei, talvez seja porque você é uma criança, como já disse — a voz de Caio estava morrendo, sentia isso.
Tentando ao máximo enterrar esse assunto, eu disse:
— Sinto muito por Dona Antônia, não queria que fosse... Ninguém queria... Mas saiba que eu sempre vou estar aqui.
— Obrigado por estar comigo.
Eu notei tristeza nos olhos dele, mas quem não estaria triste?! Eu não queria vê-lo assim e ele ficou mais triste ainda quando disse:
— Tenho que contar para ele né?
— Infelizmente, sim. — Eu sabia que Caio odiava falar de seu pai, odiava tocar no assunto, mas era necessário naquele momento, não estaria falando dele se não fosse. — Posso dizer que o odeio?
— Nós o odiamos — Caio disse com um meio sorriso.
Lembrava-me do dia em que Caio me contou sobre seu pai, foi logo após eu lhe falar que o meu havia morrido. Eu fiquei chocada com a história que meu melhor amigo carregava em sua caminhada e com ódio da pessoa que carregava o título de seu pai. Se eu tivesse o poder de controlar os raios, com certeza o pai do Caio seria uma das minhas cobaias preferida, não por que ele fez mal ao meu amigo — por isso também — mas eu muito pensava no monstro que ele era! O monstro que deveria estar morto!
Seu filho também é um monstro para precisar da morte?, ouvi uma voz em minha cabeça. Eu realmente não estava querendo pensar naquilo ali, Caio precisava de mim. Então chamei um taxi e o tirei dali, também pelo motivo de algumas pessoas já estarem me reconhecendo e isso me incomodava.
•••
Quando chegamos em casa ficamos procurando uma forma de contar à minha mãe a tragédia. Seria difícil a aceitação dela, porque por mais que minha mãe quase não falou com Dona Antônia, ela a amava e se preocupava com a mãe do meu amigo. Contei do jeito mais simples:
— A mãe do Caio morreu...
Ela ficou atônita, surpresa e triste. Para minha mãe talvez, pensava eu, seria mais difícil lidar com essa morte, ela perdera o marido, a quem tanto amava, odiava o fato de ter que lidar com a morte assim, tão diretamente, tão compulsivamente; eu a conhecia, tinha certeza que naquela cabecinha as lembranças da morte do meu pai pairavam em seus pensamentos a fazendo lembrar-se daquele dia.
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Meu Mais Perfeito Erro (concluído)
Romance"Cometer erros para mim nunca foi normal, porém, cometi um que acabou com toda a minha vida." Rebeca se vê presa a uma única opção quando, por pura desobediência, engravida em uma festa. Depois de muito pensar, opta por um aborto, porém, sua mãe, as...