Catorze - Vozes Amadoras

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Capitulo Catorze — Vozes Amadoras

Um barulho foi ecoado no pequeno cômodo de azulejos brancos. Era eu, especificamente, minha barriga, roncando. Fazia dois dias que não comia nada, muito menos bebia alguma coisa. Dormia e acordava ali, naquele banheiro. Minha mãe estava extremamente preocupada comigo, contudo, eu não abriria aquela porta, e tinha medo do mundo que havia depois dela, do que teria que enfrentar depois dela. Era muito difícil aceitar que meu melhor amigo tinha se afastado de mim para sempre. Quando propus que nos separássemos eu não queria que ele aceitasse, eu queria que ele me dissesse que não havia necessidade daquilo e que eu poderia sim fazer o aborto, mas não foi o que aconteceu. Caio se afastou e levou com ele seus sentimentos por mim. Eu estava indignada! Por que ele não colaborava com minha indecisão? Será que ele não sabia que tudo aquilo que eu havia falado era para que ele discordasse?

Minha barriga roncou de novo.

Eu estava disposta a ir pegar comida na cozinha, porém não queria esbarrar em nenhum funcionário da casa, muito menos em minha mãe — ela havia feito uma viagem de última hora para gravar uma matéria na casa de um famoso qualquer e eu não sabia se já estava de volta. Decidi abrir a porta. A luz do meu quarto estava acesa, as cortinas fechadas e o ar-condicionado desligado. Isso queria dizer que já se encontrava de noite, e ao andar pelo quarto olhando cada detalhe, vi um pequeno relógio sobre o criado-mudo e lá me informava ser exatas três da manhã. Sem pensar muito corri até a cozinha antes que desmaiasse ali no chão.

Presunto, queijo e dois ovos foram meu lanche. Depois de picar tudo, joguei na panela e fiquei mexendo esperando que saísse algo bom, embora eu estivesse morrendo de fome, não poderia comer algo ruim. Cinco minutos depois eu estava sentada na mesa, olhando o nada e mastigando o lanche. Perguntava-me a todo o momento o que Caio deveria estar fazendo... Como doía o fato dele ter me deixado. Eu o queria ao meu lado! Agora eu estava abalada, mal e com raiva da vida! O destino tinha mesmo que pregar essa peça em mim? Tirar-me a pessoa que mais amava? Tudo bem, eu quem havia sugerido para que nos afastássemos, porém era uma proposta que ele devia recusar! Caio não podia aceitar essa ideia maluca, no entanto, ele aceitou, e lá estava eu, triste, na mesa da cozinha, comendo ovos!

Ouvi um barulho que vinha detrás de mim, olhei, assustada, era uma garota, ela devia ter seus dezessete anos. Eu já vi aquele rosto em algum lugar!

— Quem é você? — perguntei.

Ela encarou o chão e deixou o copo que estava em sua mão, na pia.

— Eu não queria te assustar, desculpa mesmo, eu sou a filha da governanta. Me chamo Renata. Com licença — ela falou apressadamente e já ia se virando quando eu falei:

— Onde você estuda? — Se eu a conhecia e ela era filha da empregada, dos tabloides que não deveria ser. Talvez fosse da minha escola, mesmo essa opção ser impossível. Quem pagaria o colégio? Era o mais caro, ela não teria dinheiro. Ou teria?

— Escola Campos — falou e abaixou a cabeça envergonhada. Como ela conseguia dinheiro para estudar na minha antiga escola?

— Sente-se aqui — apontei a cadeira em minha frente. Estudávamos no mesmo colégio. Então ela devia saber o que falavam de mim e era isso que eu descobriria. A tal Renata se sentou e perguntei: — O que andam falando de mim por lá?

— Que o Davi foi totalmente errado em gravar o vídeo e postar — ela falou olhando o chão. Isso estava me dando raiva. Eu sempre gostei de olhar nos olhos das pessoas!

— Olha pra mim enquanto fala — pedi, educada, ela o fez.

— O Davi deu um pé na bunda da Joyce e nenhum dos dois foram vistos mais no colégio.

Fiquei feliz ao saber disso. Bem que eles podiam ter ido para algum vulcão ativo do mundo e se jogado lá, mas eu não tinha tanta sorte.

— E de mim, o que falam?

Ela hesitou por um tempo e disse, como se estivesse com medo da minha reação:

— Que você foi irresponsável por cair na do Davi. — Que raiva eu tive naquele momento!

— E você, o que acha? Sou irresponsável?

Renata pensou um pouco e sua resposta foi essa:

— Eu acho que você só queria atenção, mesmo sendo tão famosa.

— Como chegou a isso?

— Você nunca teve amigos na escola e nem fora dela, o único era o Caio, e por isso a gente deduz algumas coisas.

— Ok. Obrigada, Renata, pode ir dormir. — Eu precisava cortar esse assunto antes que ela descobrisse algo a mais. Já que a fofoca pelo o visto rodava muito solta naquela casa.

— Rebeca, eu sei que você está grávida, todos na casa sabem, mas fomos proibidos de falar a alguém, então, se precisar de alguém, conte comigo, posso tentar te ajudar, sua mãe me disse que você está pensando em abortar, então me deixa te ajudar. — Renata sorriu e se foi, rumo aos quartinhos do fundo.

Eu fiquei ali mais alguns minutos, fixando o nada, tentando pensar em algo e tentando conter a raiva que eu tive ao perceber que minha mãe havia contado para aquela garota — que sequer eu sabia o sobrenome — sobre meus desejos.

•••

Agora era oficial: ele estava sem casa e sem pessoas para ajudá-lo. O que Caio poderia fazer agora? Estava sozinho naquela praça, apenas com uma pequena mala de mão, onde tinha a blusa de sua mãe e poucas peças suas. Ele queria mudar de vida, e tentaria ao máximo fazer isso, já tinha até uma ideia: começaria tocando violão para alguma banda iniciante, ou guitarra, com certeza alguém precisava dos seus serviços.

Caio pensava muito em sua amiga. Ele tentava não pensar nela, mas era difícil, com todo aquele discurso de que ele precisava sumir, Rebeca conseguiu deixa-lo magoado. Caio estava fazendo tudo o que podia por ela, por aquele filho que ela carregava na barriga, por que ela não deu valor? Por que não cuidou do único amigo? O jovem entendia que ela estava confusa e bem indecisa, no entanto, expulsá-lo de sua vida não era a solução, nunca seria. Ele tentaria viver sem ela, e iria conseguir, mesmo que doesse, aquele sentimento deveria ser enterrado para todo o sempre, porque era isso que Rebeca Volaes queria. Então, Caio Borges faria a vontade de sua amada. E como se lessem seu pensamento, naquele banco da praça alguém lhe entregou um folheto:

Concurso musical Vozes Amadoras, venha, cante e nos encante! Participe do maior concurso de vozes da América Latina!

O ganhador tem como prêmio cinquenta mil dólares e um contrato com a gravadora GravaK!
Inscrições abertas! Audições na Escola de Martin.
Queremos você!

Aquela era a chance de Caio. Ouvira uma vez que se engrenasse no mundo da música, teria um belo futuro.

E ele estava a fim de viver tudo isso.

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Oii!! Me desculpem atrasar tanto o capítulo de hoje, é que eu fiquei sem internet durante todo o dia! O capítulo não está revisado, desculpem. Se achar algum erro, comente!!

Curta!!

Beijo,
Suully!

♡02/01/2019♡

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora