Quarenta e Três - O Medo Que Impede a Todos e a Mim

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Capitulo Quarenta e Três — O Medo Que Impede a Todos e a Mim

Mina me olhou nos olhos e sorriu. Não parecia querer dizer alguma coisa, simplesmente ficou ali, parada, me admirando. Eu não sabia se saía ou se falava alguma coisa, meu medo que ela me julgasse ou risse da minha cara aumentou e só me desliguei desse transe quando ouvi Renata dizer que meu celular estava tocando.

O tirei do bolso e atendi sem ao menos ver quem era.

— Oi.

— Meu amor! Você saiu daqui e nem me acordou, queria te ver, te dar um beijo de bom dia. — Por que o Caio tinha que ligar logo naquele momento?

— Desculpa, você tem andado tão ocupado que te deixei dormir. Afinal ontem foi seu aniversário. — Mina ainda me encarava e eu desviava o olhar para o chão. — Eu preciso desligar.

— Tá tudo bem? Você tá estranha.

— Caio, a gente se fala depois. — Ao ouvir esse nome, Mina abriu a boca e começou a dar pulinhos como se o chão estivesse quente. Com medo de sua reação, logo desliguei a chamada sem mesmo ouvir o que o meu namorado diria.

— Posso te abraçar? — indagou Mina.

Um abraço? De tudo o que ela poderia falar ela só me pediu um abraço? Eu assenti e às costas de Mina eu vi Renata na porta, dizendo que estávamos demorando demais na sala. Mina me soltou e eu vi lágrimas em seus olhos, mas ela sorria, eu me preocupei e a ajudei secar os olhos sem que borrasse sua maquiagem.

— Vamos? — chamou minha amiga. — Tenho que achar a outra sala que é aula de português.

Mina não falou mais nada. No caminho para a sala de português ela se calou e não olhou em meus olhos, mesmo assim nos acompanhou. Sentamos ao lado da porta da sala, no chão — depois de muita insistência da Renata por que eu queria ficar em pé — e tiramos nossos lanches para comer. Eu havia levado pão de queijo — iria demorar muito para que eu me enjoasse deles — e duas maçãs — mas não as tinha tirado da mochila. Tinha também um suco de laranja que eu pedi para a Geralda preparar. Tudo estava dentro da minha mochila, numa vasilha e na minha garrafa que levava o nome do meu pai. Renata tinha somente uma pera na vasilha, e quando olhei para o lanche de Mina, me assuntei quando vi um pacote de salgadinho e uma pequena garrafinha de refrigerante.

Eu quase briguei com ela. Oito e meia da manhã e ela com um pacote salgadinho?

— Você não vai comer isso, né? — perguntei.

— Sim, como isso todas as manhãs.

— Você é louca? — Renata perguntou.

— É que nunca dá tempo de eu preparar alguma coisa pra mim antes de sair, então eu compro pronto.

— Você não pode comer isso — falei vasculhando minha mochila atrás das minhas maçãs, logo achei e estendi para minha colega de classe — pega, come.

— Eu não posso aceitar, esse é o seu lanche, pode comer.

— Pega logo. Aproveita que hoje eu tô querendo ser uma pessoa legal. — Eu sorri e acabei arrancando outro sorriso dela também. Mina pegou minha vasilha e começou a comer as maçãs. — São maçãs-pera. São gostosas né?

— E enormes. — Rimos e continuamos a comer, caladas. Minutos depois, Mina perguntou: — Você é filha do ator de Hollywood, né?

— Sim, você já viu algum filme dele? — comecei a me empolgar, será que ela havia gostado do meu pai?

Eu cresci vendo todos os filmes do papai, ele tinha participado de dezesseis filmes como ator principal e outros vinte e dois como amigo do principal ou algo do tipo. O meu filme favorito dele era um de ação, onde ele não ficava com mocinha nenhuma e ganhava todas as perseguições que fazia quando a polícia estava atrás dele. Meu pai terminava como um herói. Um herói para mim, que além de ser um grande ator, era um ótimo namorado. Minha mãe me contara que quando eu nasci, ele tirou férias prolongadas e passou os oito meses de vida que lhe restava, ao meu lado. Claudia me conta que eu era muito apegada a ele, nem queria sair de perto dele quando ia mamar. Meu pai era meu melhor amigo.

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora