Vinte e Quatro - Nostalgia

375 32 9
                                    

Agora sim está certo :) :)

Capitulo Vinte e Quatro - Nostalgia

            Era um piano! Meu piano! Desde criança eu desejava ter um piano, agora eu tinha um, e um ótimo, ele era na cor preta e brilhava. Corri até ele e comecei a dedilhar as teclas, era suave e harmonioso. Minha história com os pianos é curta, quando eu tinha meus nove anos, fiz algumas aulas e eu amei o instrumento, mas eu não queria dizer a minha mãe que queria um piano, eram caros e eu achava que não tínhamos dinheiro. Com o tempo esse desejo foi se arquivando em minha vida, agora eu tinha um ali! Na minha frente!

— Eu demorei para chegar porque estava procurando seu presente — Samuel disse.

— Esse piano é importado? — indaguei, surpresa.

— Sim, tinha que ser! Você merece o melhor. Feliz aniversário! — o abracei. Sam estava se mostrando uma pessoa de extremo peso e importância em minha vida. — Toca alguma coisa!

— Vou tentar.

Comecei a dedilhar uma música clássica que aprendera quando ainda era pequena, meus dedos deslizavam pelas notas me fazendo reviver aqueles dias maravilhosos que eu tocava achando que meu pai ouviria.

Na minha vasta imaginação, meu pai sempre me ouviu tocar, porque eu achava que ele tocava muito bem — mesmo minha mãe não confirmando se tocava piano ou não —, eu queria que ele me ouvisse, então eu sempre dava tudo de mim. Não foi diferente nessa melodia de Bethoven que eu entoava ali. Eu revivia os momentos em que eu queria ser somente a Rebeca, o tempo em que eu não precisava me destacar e lutar para não colocarem um rótulo em mim, os momentos em que ninguém na escola ligava se eu era ou não filha de alguém famoso e só queriam saber como eu conseguia desenhar bonequinhos fofos tão facilmente.

Com lágrimas nos olhos eu terminei a música. Parecia que tudo tinha sido real. Parecia que todas as lembranças haviam sido de fato vividas por mim naquele momento, lembrei-me de tudo o que vivi na infância, dos meus amigos, das pessoas que eu queria longe por ser má influência, do medo que eu tinha dos alunos do nono ano. Era tão real que sequer percebi as lágrimas que eu tinha em meu rosto. Aquela era eu. Rebeca Volaes Trenton em seu estado mais frágil possível.

— Você é divina, meu amor — comentou minha mãe. Eu não conseguia olhá-la nos olhos, ainda estava chorando silenciosamente.

— Por que não me contou? — essa voz não era do Sam, vinha da porta, Caio estava ali, com um lindo buquê de tulipas. — Você toca tão bem.

Sequei meus olhos e passei direto por todo mundo. Não entendia o motivo daquilo, só queria ficar um pouco sozinha. Sentia-me pressionada demais, eram muitas pessoas em cima de mim querendo alguma coisa que eu não poderia dar. E todos eles queriam coisas divergentes, como? Eu não estava pronta para ser a filha perfeita que minha mãe queria, nem a enteada que o Sam merecia. Não estava pronta para ser a amiga perfeita para o Caio e principalmente, não conseguiria ser mãe. Eu só tinha dezesseis anos! Não tinha nem um dia que completara dezessete, como poderia ser todas essas pessoas maravilhosas? Me tranquei no quarto e me deixei chorar deitada na cama, em posição fetal.

Para que a vida aparecesse aqui na Terra, precisou-se de uma bactéria, que evoluiu e se tornou tudo o que vemos hoje, porém, não foi tão rápido nem tão fácil. A Terra tem bilhões de anos, ela precisou de bilhões de anos para evoluir. Por que eu teria que aprender a ser a Rebeca perfeita em tão pouco tempo? A Rebeca perfeita deixaria um descuido bobo transformasse em uma gravidez? A Rebeca perfeita deixaria seu melhor amigo e único amor escapar por entre os dedos tão facilmente? Será que ela conseguiria viver tanto tempo com tantos erros? Era tão difícil! A vida parece tão fácil a principio, mas, é tão complicado. Vale a pena deixar de correr riscos só para se ter uma vida nos padrões?

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora