Quinze - Fruto de Uma Brutalidade

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Capítulo Quinze — Fruto de Uma Brutalidade

Eu estava com uma quantia gorda em mãos. Naquela maleta havia os milhares de dólares que a clínica clandestina me pediu. Eu olhava aquelas notas esverdeadas e me perguntava se era realmente isso que eu deveria fazer. Eu não precisava fazer isso, não precisava tirar aquela criança... Mas por que me sentia mal ao falar que provavelmente eu cuidaria dela? Por que lágrimas caíam do meu rosto quando eu me perguntava se era realmente isso que eu queria? Às vezes eu queria abortar essa criança, só que o fato de cometer o aborto não me descia pela garganta, eu não era tão mau a esse ponto. Eu tinha certeza que não mataria um bebê ainda em meu ventre.

Eu havia pegado essa quantia economizando ao máximo a minha mesada e em quatro meses eu já tinha o valor certo. Minha gestação agora tinha seis meses. Vinte e três semanas. Toda a mídia já sabia da gravidez que eu tanto tentei esconder. Eles sabiam — ou pelo menos eu achava que sim — que o filho era do Davi. As datas coincidiam. Vira e mexe havia uma hashtag com meu nome seguido pela palavra "grávida" nas redes sociais.

Davi me procurou quando a mídia descobriu que eu estava grávida, quando eu estava com cinco meses — um paparazzi conseguiu um close ótimo para uma gravidez de cinco meses ser percebida. Eu não quis negar. Era a verdade.

Lembro-me perfeitamente do dia em que o pai da minha criança apareceu em minha casa:

Eu estava sentada no sofá, assistindo a uma série quando a campainha tocou. A governanta foi atender a porta e meu olhar caiu sobre quem estava do lado de fora. Davi estava ali, sozinho, e me parecia arrependido.

— O que você quer aqui? — perguntei grossa, enquanto a governanta saía da sala.

— Podemos conversar? — pediu. Eu percebi que sua pele estava mais bronzeada, seus cabelos tinham crescido e, bíceps maiores eram perceptíveis, talvez tivesse passado uma temporada na praia. — Quero pedir desculpas.

— Então você aparece na minha casa, depois de cinco meses, que por coincidência foi quando saiu na mídia que estou grávida, e me pede desculpas?

— Eu sei que esse filho é meu. Eu quero assumir ele! Me deixa ser o pai desse moleque.

— Não é menino. Minha vó disse que é menina por causa da posição da barriga e não sei o que mais. Eu acho que seja mentira, mas não fiz o exame para saber. — eu não sabia por que havia dito aquilo, mas ele tinha direito de saber, era o pai!

— Me desculpa — insistiu. — Eu não sabia da existência desse serzinho, me deixe cuidar dele também.

— Vou pensar. Entro em contato. Tchau. — Fechei a porta em sua cara.

Minha mãe me aconselhou a permiti-lo cuidar do nosso filho. Eu não queria que essa criança sofresse sem um pai, e foi então que liguei ao Davi, dizendo qual a data da minha próxima consulta. Nunca havia visto Davi tão alegre quanto aquele dia...

Alguém bateu em minha porta. Logo eu fechei a maleta e a guardei embaixo da cama.

— Entra — eu disse e vi a porta de madeira, branca, se abrindo. Era Renata. O nosso convívio não havia mudado muito, eu continuava sendo a patroa da mãe dela e ela um ser qualquer para mim e confesso que estranhei o fato de ela estar meu quarto.

— Com sua licença. Eu vim te dar algo. — seus cabelos enormes não estavam mais lá, agora eles eram curtos, um corte Chanel, o que combinou muito com seu tom de pele claro. Os olhos castanhos ficaram mais escuros e em seus dentes não tinha mais o aparelho dentário. Renata estava linda.

Renata me entregou uma caixinha azul, envolta num laço amarelo. Abri. Dentro tinha a coisa mais linda que eu havia visto naquele dia: um pequeno sapatinho infantil na cor amarela feito de tricô. Eu sorri instantaneamente. Era lindo.

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora