Dezenove - No Supermercado

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Capitulo Dezenove — No Supermercado

A dúvida ainda estava na minha cabeça quando Sam começou a falar:

— Beca, você tem certeza que é isso que quer? Fugir das responsabilidades e jogar para cima da sua mãe aquilo que é culpa sua? Pensa um pouco, espera a bebê nascer, você tem pessoas a quem se apoiar, não precisa fugir. — O homem a minha frente pegou em minha mão e apertou, me transmitindo confiança.

Assim como Sam falara, não era justo que eu jogasse a responsabilidade de um erro que cometi em cima de minha mãe, ela não merecia isso. Então decidi aceitar as palavras do Sam, mesmo sabendo que não amava a criança, mesmo que eu não gostasse dela quando nascesse. Seria um erro deixar a bebê com minha mãe só porque eu sou irresponsável.

— Tudo bem então. Obrigada. — Nesse instante eu vi um garçom levar algo a uma mesa que muito me lembrava goiabada e instantaneamente tive vontade de comer goiabada. Minha mãe riu quando eu disse isso aos dois.

— Estava demorando ter esses desejos, mas não achei que fosse algo tão simples. Vamos pedir a conta e passar no hipermercado.

Minha mãe dividiu a conta com o Samuel e logo estávamos no carro, indo em direção ao local onde íamos comprar meu doce. Ainda estava cedo, era por volta das oito da noite, o mercado ainda tinha muita gente. Enquanto minha mãe dava alguns autógrafos eu saí de mansinho e fui até a sessão de doces. Eu segurava uma cestinha e nela eu coloquei a goiabada, o leite condensado e o chantilly. Depois eu coloquei algumas outras besteirinhas. Eu estava ali sozinha, o Sam ficou com a minha mãe caso aparecesse algum fã doido, e quando eu estava preste a voltar, um menino me chamou.

— Rebeca! — Ele estava no início do corredor, eu nunca o tinha visto, era um menino bonito, no entanto parecia ser um pouco mais jovem que eu. Ele foi se aproximando aos poucos, eu via que ele não tinha nem uma arma ou algum objeto que pudesse me matar então me acalmei e esperei que ele falasse o que queria. — Oi, eu sou Pedro! Eu sou seu fã! Eu tenho uma irmã gêmea e ela engravidou, e quando eu mostrei para ela suas fotos e as notícias, ela parou de pensar em aborto, agora nós dois nos espelhamos em você, obrigada. — ele falava com muita pressa, talvez temesse eu ir embora antes de ouvi-lo.

— De nada! Manda um beijo pra sua irmã, diz pra ela ser forte e persistente, ela consegue se livrar de todo o bullying e todo o preconceito. — Eu disse aquilo sem saber o que estava dizendo, todas as pessoas intimas a mim sabiam que eu pensava em aborto, mas os meus fãs não, e ouvir tudo aquilo me deixou com mais certeza de que tudo o que eu estava fazendo era a coisa certa. — Você quer uma foto?

— Sim! — falou entusiasmado. Depois de tiramos a foto ele pediu um autógrafo e eu assinei sua camiseta branca. — Tchau Rebeca, obrigado.

Esse garoto tinha feito eu me sentir muito bem, naquele momento eu voltava sorrindo para onde minha mãe estava com o Sam. Cheguei onde eles estavam e minha mãe assinava a blusa de uma garota loira e logo depois lhe deu um abraço.

— Vamos? Peguei tudo o que precisávamos. — falei levantando a cestinha.

— Filha — minha mãe me chamou, vindo até onde eu estava com o Sam. — hoje é o último dia daquela competição que o Caio tá participando, a gente precisa ver comendo um monte de besteira. Topa, Sam?

— Pode ser, ainda está cedo e eu não trabalho amanhã de manhã. — ele falou olhando seu relógio de pulso.

— Você podia fazer aqueles bolinhos de chuva maravilhosos, né? — minha mãe soou pidona.

— Tudo bem, eu fico pra comprar os ingredientes e vocês vão pro carro, antes que apareçam milhares de fãs aqui e nossa noite seja arruinada. — Sam entregou a chave do carro para a minha mãe e andamos até o estacionamento.

Dentro do carro, eu e minha mãe mexíamos nos nossos celulares. Eu havia entrado no Twitter para ver o que estavam falando da final da competição do Caio, eu queria que ele ganhasse, eu sabia que ele tinha talento para isso, sua voz era maravilhosa. Aproveitei para entrar no perfil numa rede social de fotos e postei uma que havia tirado no jardim da mansão Bolt. Minhas redes sociais estavam crescendo, todas elas tinham quase cem mil seguidores, não era muita coisa perto dos milhões de seguidores que minha mãe tinha, mas eu estava feliz com aquela quantidade de pessoas.

— Filha, dá um oi pra sua vó — Claudia falou me fazendo levantar a cabeça. Ela estava no banco da frente do carro e segurava o celular, onde eu via minha avó com seus óculos de grau nos olhos.

— Oi, vó! Benção?

— Deus te abençoe, meu amor. Como tá esse bebê?

— A bebê tá bem, semana passada ela chutou umas quatro vezes.

— Ah, que bom meu amor. Não esqueçam que o natal tá chegando e esse ano eu quero vocês aqui. Claudinha, traz aquele seu namorado advogado também.

— O Sam não é meu namorado, mãe! Ele é um amigo íntimo e meu advogado.

— Não importa, traz ele. Agora eu vou desligar que tá tarde e eu vou dormir.

Minha avó Ana não era velha, ou melhor, não era tão velha. Ela tinha sessenta anos, não tinha cabelos brancos, pelo contrário, o vívido ruivo ainda estava lá — tudo bem que o salão de beleza quem lhe trazia essa cor, mas ela ainda gostava — e era uma mulher bem teimosa. Quando minha mãe deu o sítio para ela, Ana chorou de alegria, era seu sonho ter um lugar para plantar e fazer um jardim bem grande. Meus avós eram pessoas bem pobres, moravam de aluguel numa cidadezinha de Minas Gerais, chamada São Francisco, quando meu avô morreu, Ana e minha mãe se mudaram para Belo Horizonte para tentar a vida e como um milagre, um daqueles caça-talentos viu minha mãe num parque e seus cabelos ruivos e suas sardas lhe chamou atenção. Minha mãe virou modelo aos treze anos e desde então não saiu desse mundo de flashes.

O Sam chegou alguns minutos depois com as sacolas na mão. Ele abriu o porta-malas e colocou as compras. Durante o caminho fomos ouvindo Meghan Trainor e eu ia cantando e dançando All About That Bass como uma louca. Sam se divertia ao ver-me alegre e eu gostava disso. Parecíamos uma família.

Minutos depois estávamos em minha casa, minha mãe estava na cozinha com o advogado enquanto eu tirava meus sapatos e me jogava no sofá com o controle remoto na mão. Liguei a tevê e coloquei no canal onde passaria o concurso. Não havia começado ainda, então descalça, caminhei até a cozinha onde minha mãe e o Samuel estavam.

Confesso que o quê vi não era esperado, não em minha casa, não onde eu estava: minha mãe beijava o Samuel com certa voracidade. Isso não me surpreendeu, eu estava ciente de seu caso com ele, mas era a primeira vez na minha vida que eu via minha mãe beijar alguém, isso me casou uma surpresa. Pigarreei. Eles ouviram e se afastaram rapidamente.

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Como prometi, aqui está o capítulo bônus de hj!! Até amanhã, meus amores!! ♡♡

Beijo,
Suully!!

♡08/02/2019♡

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora