Dez - Opinião Sobre o Aborto

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Capitulo Dez — Opinião Sobre o Aborto

Fazia agora uma semana desde a história de minha mãe. Durante esses dias, várias emissoras de tevê importunaram nossas vidas atrás de informações sobre uma suposta gravidez. Eu não sabia quem teria dado essa informação aos jornalistas, minha mãe desconfiava que fora o médico quem tivesse falado, o ser humano faz tudo por dinheiro, soltar na mídia que Rebeca Volaes estava grávida era algo pequeno que não teria consequências. Como não havia nada confirmado ainda, deixamos de lado essa história e resolvemos nos calar perante a mídia. Minha mãe estava mais quieta em seu canto nesse período, eu desconfiava que ela estivesse sofrendo, devia estar tomando as minhas dores para si e relembrando de tudo o que já sofrera. E era isso que me machucava, não queria ter essa culpa em minha vida, não queria ter minha mãe amuada num canto, triste por minha causa.

Mais um motivo para eu fazer esse aborto.

Caio não falou comigo durante esses dias. Eu queria não ligar para a opinião dele, queria poder acordar e não pensar nele, entretanto, eu não conseguia me enganar, Caio era a única pessoa que eu chamava de amigo, a única pessoa que eu confiava toda a minha vida, e a única pessoa que eu queria não estar brigada. Ele ainda não concordava com o aborto e algo me dizia que não iria concordar nunca, e entendia o motivo, mas me perguntava o porquê eu Rebeca, não podia fazê-lo, era somente um detalhe que eu nem levaria para a vida, uma vírgula numa redação cheia de pontos finais e pontos e vírgulas. O corpo é meu, minhas regras. Por que não podia abortar? Qual o problema tinha nisso? Ninguém reclama quando um Fulaninho lá da baixa da égua morre de fome, ninguém se sente mal quando ele morre, por que se preocupam tanto com a minha vida? Então quer dizer que para se preocuparem com você, você precisa ser famoso? Conhecido? Isso nunca foi amor ao próximo.

O dia amanheceu quente, logo desci e tomei meu café da manhã, sozinha — toda segunda Claudia trabalhava o dia todo —, pacientemente. Quando deram exatas oito horas da manhã fui pegar minhas coisas no quarto e quando voltei fui informada de que Louis já estava no escritório, onde fazíamos nossas aulas — eu estava tendo aulas com professores particulares em casa, minha mãe e eu achamos melhor assim. Louis era o professor de inglês, e era um cara muito bacana, e um ótimo professor, me ensinava maneiras e dicas de como aprender gramática e pronuncias difíceis. Ele era americano, morava no Colorado e fazer intercâmbio no Brasil era seu grande sonho. O sonho dele era ver as favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Louis me dissera que quase todas as pessoas que conheciam as favelas queriam visitá-las um dia, elas são únicas no mundo e bem peculiares. Bem, ele conseguiu ver de perto uma favela, mas — não me pergunte o porquê —, meu professor decidiu morar no centro de São Paulo mesmo.

Depois de uma hora estudando, ele me passou uma redação de inglês que contestei:

— Não vejo por que me ensinar inglês, eu já sou fluente. — Minha voz ecoou pelo escritório.

— Sua mãe — a voz de Louis apareceu — me paga pra isso, preciso te ensinar gírias, sotaques, tudo, então, vamos, faça, não é tão ruim assim, inglês é mais fácil que português e os dois você já sabe.

— Okay, teacher.

Voltei a fazer a redação e alguns minutos depois eu terminei, sorrindo para a beldade que eu havia escrito. Eu sempre amei a arte no seu todo, e não era diferente com a escrita, não sabia escrever tanto quanto sabia desenhar, meu mundo de traços e cores era a melhor coisa que fazia em minha vida, e a redação que eu havia escrito estava quase se igualando aos meus desenhos. Minha surpresa foi maior pelo simples fato de ter sido escrita em inglês, eu estava me sentindo a melhor escritora do mundo naquele momento.

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora