Vinte e Oito - Ana Sofia

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Capitulo Vinte e Sete — Ana Sofia

Eu não sentia cólica durante minha menstruação, era muito raro eu sentir algum incomodo, mas, no dia 11 de setembro, eu acordei sentindo uma cólica fraca. A barriga já causava incomodo por si só, então não me preocupei muito, a criança deveria estar se mexendo, somente.

Virei para o lado e encontrei Caio, ele dormia serenamente ao meu lado, seu cabelo estava em seu rosto, o deixando com certo charme. Estávamos em meu quarto, assistimos a um filme na noite anterior, mas acabamos dormindo ali mesmo. Não havia acontecido nada, não queríamos que tivesse, só queríamos sentir a presença um do outro, e dormirmos abraçados.

A dor se intensificou.

O relógio que estava em meu criado-mudo me indicou seis horas da manhã. Era sexta feira, provavelmente minha mãe estaria dormindo, já que nas sextas ela sempre entrava no trabalho mais tarde. Chamei por Caio uma vez, duas vezes, na terceira vez eu comecei a balançar seu ombro para lá e para cá. Comecei a ter contrações!

— AI! — gritei, sentindo um líquido escorrer por minhas pernas e ser absorvido pelos grossos lençóis da cama de casal. — CAIO! MÃE! AI! PORRA!

Gritei e Caio me olhou assustado com uma cara de sono.

— A bolsa estourou! — exclamei, e logo vi seus olhos arregalarem.

— Ai meu Deus! O quê que eu faço?

— Chama a minha mãe! Rápido!

Ele correu e eu fiquei no quarto, tentei me sentar na cama, com certa dificuldade, mas doía tanto! Quando finalmente consegui, Claudia apareceu na minha frente, vestida num tule preto com o olhar desesperado.

— Caio foi chamar um dos seguranças da casa para te levar até o carro, vou pegar uma blusa de frio para te vestir, aguenta um pouquinho. – eu só sabia assentir, não consegui pensar e nem fazer outra coisa.

Claudia se encaminhou até o guarda-roupa, pegou um cardigã, e me vestiu, prendeu meu cabelo num coque mais apertado e me calçou uma meia, já que meus pés estavam inchados e não cabiam sapatos. Caio chegou com o segurança mais forte que minha mãe contratou para a vigilância da casa e ele me pegou no colo como se eu tivesse o peso de um saco de arroz de cinco quilos. Senti-me extremamente leve. Caio vinha ao nosso lado, segurava minha mão.

Segundos depois estávamos dentro do carro. Eu só sabia chorar, não sabia o que fazer mais, sentia muita dor. Minha mãe entrou no carro com muita pressa e jogou a bolsa que fizemos para a bebê no banco do carona.

— AH, ESSE BEBÊ TA ME MATANDO! CORRE MÃE!

Minutos depois estávamos no hospital e eu estava numa cadeira de rodas sendo encaminhada para a sala de parto.

Narrando a cena com calma, depois de tanto tempo, eu descobri que em momento algum daquele dia eu praguejei ou xinguei o bebê, bem, era essa a minha lembrança. Caio passou o tempo todo segundando minha mão, eu o agradeço imensamente por isso, era o que eu mais precisava naquele momento. Minha mãe não mostrava desespero, pelo total contrário, parecia estar muito calma, ela se mostrava muito calma. Quando entrei na sala de parto, pedi para o Caio ficar do lado de fora e quis que minha mãe entrasse comigo. Eu queria que ela participasse desse ato comigo, queria que meu momento mais íntimo e mais gratificante fosse ao seu lado. E ele entendeu muito bem.

Deitada com as pernas abertas numa maca, ouvi alguém me pedir para forçar mais. Minha mãe me incentivava, aquela dor era horrível! Era pior que quebrar o braço, pior que quebrar a perna, pior até mesmo que dor dente!

— Mais um pouquinho! Ela já está nascendo!

Forcei. Forcei mais, fiz o impossível. Ainda deu tempo de ouvir um choro de criança invadir o cômodo, ainda deu tempo de ver o sorriso no rosto de minha mãe, mas o cansaço me venceu. Apaguei. Apaguei feliz, sabendo que minha filha estava ali, sã e salva.

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora