Trinta e Sete - O Sam e a Bebida

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Capitulo Trinta e Sete — O Sam e a Bebida

— Não vou embora! Eu vou passar uns dias fora, preciso esfriar a cabeça. Muita coisa está acontecendo e eu acho que vou surtar. — Ele parecia falar mais pra si do que para mim. — Eu vou para a fazenda dos meus avós no Mato Grosso, devo passar lá uns dias, mas volto logo. Não vou te abandonar, amo minha princesa também!

— Mas tá tudo bem? — ousei perguntar. Bem, Davi estava muito diferente de quando o conheci na escola, quando Sofia nasceu ele tinha mudado, talvez só precisasse de um ombro amigo.

— Nem um pouco. Eu estou indo para tentar achar um jeito de encarar meus problemas.

— Quer contar? — Nesse momento eu sentei ao seu lado no sofá e coloquei minha mão em suas costas, a fim de encorajá-lo. Sofia ainda estava em seu colo, ela se distraía com os números que tinha na camisa branca do pai.

— Eu meio que fui expulso da minha igreja. — ele encarava o chão enquanto dizia. — Eu sempre toquei baixo e guitarra lá, mas depois que me tornei pai ninguém quis saber de mim na banda, mesmo eu sendo um dos melhores músicos dali. Eu os entendo, sabe? Meu pai vive dizendo para ter compromisso com a obra de Deus e eu não tinha. Depois a verdade veio à tona.

Ele se calou. Eu estava não entendendo muito bem. Se ele era um dos melhores por que o tiraram?

— Eu não entendo nada dessa coisa de igreja, Davi.

— Com a descoberta de Sofia — ele continuou como se eu não tivesse lhe falado nada — as pessoas começaram a me julgar. Eu as entendo, imagina o filho mais certinho do pastor do nada aparecer com uma filha e com um vídeo vazado na internet? Meu pai conversou comigo e disse que não interferiria na escolha da banda em me tirar ou não. Mas eles me tiraram. Mesmo assim continuei indo à igreja para assistir aos cultos. No entanto quando a Sofia nasceu, tudo piorou. Eu perdi cada um dos meus amigos. As pessoas da escola não falam mais comigo, meus amigos da igreja foram os primeiros a se afastarem. Quem restou foram os meus pais e meus irmãos. E como se não fosse bom o bastante passar por tudo isso, estão começando a me esnobar. Sabe, as pessoas riem na minha cara, apontam o dedo para mim e dizem que não querem ser uma pessoa como eu sou. É como se eu fosse o verme que apodrece a maçã que está num cesto.

E pela primeira vez na vida eu vi o Davi chorar. Ele de fato estava mal, entretanto, o que eu poderia fazer para ajuda-lo? Eu não era conselheira, a pessoa que fazia isso era a Renata e não eu! E outra: ele estava falando sobre igreja, eu não sabia nada disso! Eu nunca havia entrado numa igreja evangélica, quando era mais nova eu ia às missas aos domingos com a minha avó, mas depois que cresci nunca mais sequer fiz uma oração ou uma reza. Porque ele estava falando aquilo para mim? O que eu conseguiria falar ao Davi?

Como se ele ouvisse cada uma das minhas dúvidas, Davi disse:

— Eu sei que você não pode me ajudar. — Ele finalmente levantou a cabeça. — Mas obrigada por pelo menos tentar. — Eu pude ver lágrimas em seu rosto. Elas traçavam um único caminho e paravam em seu queixo. — Eu posso ver a Renata?

— Pode, ela deve estar na casa dela, é lá nos fundos. — Davi me entregou Sofia e deixou a bolsa dela no sofá. — Davi? — o chamei quando ele cruzava a porta da cozinha. — Você não está sozinho. Você tem a mim e a Sofia.

— Eu sei que sim. Obrigada. — Ele deu um sorriso triste e caminhou até a casa de minha amiga.

O filme havia perdido a graça quando Davi deixou a minha sala de estar. Eu estava pensativa sobre o que ele tinha me dito. Nunca tinha sequer pensado que o Davi também poderia sofrer com aquele vídeo, eu sempre pensei somente em mim, na minha cabeça de adolescente ignorante não existia outras pessoas que sofreriam com aquele vídeo. Mas por que o Davi postaria aquele vídeo se o faria tão mal? O quanto o pai dele sofreu? A mãe? Eles são pastores, talvez tenham sofrido em dobro.

Mas por que ele tinha fugir dos problemas? Eu não podia falar nada, passei toda a minha gestação tentando fugir da responsabilidade de ser mãe, não tinha crédito algum para pedir ao Davi para não fugir de suas responsabilidades. Porém eu esperava que ele não sumisse e deixasse a Sofia sem um pai. Ela precisaria muito dele.

Sofia começou a chorar em meu colo e tentei dá-la leite, mas ela não quis. Então olhei sua fralda, pedindo muito a Deus para não estar suja, pois eu não conseguiria limpar aquela sujeira e não queria atrapalhar a conversa de Renata o do Davi. Olhei a fralda da pequena em meu colo e lamentei muito. A fralda de Sofia estava terrivelmente suja.

— Filha! – exclamei ao ver aquela lambança. — E agora?

Esperei por cinco minutos enquanto acalmava minha filha. Talvez alguém aparecesse e me acendesse uma luz. Não foi o que aconteceu então me encaminhei até a escada, subi lentamente até o quarto da bebê e a coloquei no berço, fui até o banheiro que tinha para ela em seu quarto e liguei o chuveiro, esperando a água ficar numa temperatura boa. Coloquei a pequena banheira para encher e fui tirar a roupinha de minha filha.

Sofia sorria para mim enquanto eu tirava sua roupa, nem parecia ter chorado minutos antes.

— Vamos tomar banho? — perguntei a ela com uma voz de criança. Ela respondeu com um gritinho feliz. — Deita aqui pra mamãe tirar essa frauda. — Deitei minha filha e tirei a frauda. Peguei um lenço umedecido e a limpei. Joguei tudo fora e peguei a toalha dela e coloquei no ombro. — Mamãe tá nervosa. Nunca fiz isso sozinha.

Peguei Sofia e coloquei no colo. Levei-a até o banheiro e desliguei o chuveiro. Abaixei-me perto da banheira e coloquei Sofia ali dentro depois de checar novamente a temperatura da água. Eu estava tão nervosa! Era tanta adrenalina que passava por minhas veias que eu me assustava! Sofia gostou da água, ela balançava as perninhas dentro da banheira. Estava tão fofa! Peguei o sabonete e passei por suas costas e depois em todo o seu corpinho pequeno, logo após eu tirei o sabão e tirei-a da água, a enrolando na toalha e voltando para o quarto.

Eu me calei durante todo o processo, eu simplesmente queria sentir. Sentir essa adrenalina assim como a pequena sentia aquela água gostosa. Eu queria sentir aquela adrenalina o máximo possível. Eu estava dando banho na Sofia pela primeira vez, ela não chorou, não ficou triste, pelo total contrário! Ela se divertiu e eu não havia feito nada errado! Missão cumprida com sucesso.

Coloquei Sofia no berço e fui até o guarda roupa, peguei de lá um macacão roxo, um par meias brancas e os produtos que eu poderia passar nela.

— Você está linda, mamãe! — falei a ela logo após a vestir. Ela sorriu pra mim. — Vem, vamos descer e ver se o papai ainda está em casa. — ao ouvir a palavra papai Sofia pulou feliz em meu colo. — Você gosta muito do papai, né? — ela sorriu em resposta.

Descemos as escadas e nos sentamos no sofá. Quando eu ia pegar o controle da tevê, a porta se abriu, revelando um Samuel bêbado, descabelado e com o terno todo bagunçado, assim como eu o vira no dia que saíra com o Caio. Mas hoje ele estava bêbado, Sam nunca bebeu — pelo menos eu nunca o vi beber, nem casualmente —, estranhei muito sua embriaguez naquele momento.

— Sam?

— Beca, filhinha — ele falava um inglês embolado. — Me desculpa. — Sam veio até o sofá e eu me levantei, ficando um pouco distante. — Eu precisava esquecer! — Ele se deitou no sofá e olhava para o teto. — É impossível ter acontecido o que eu não queria! Na verdade sua mãe nunca vai me perdoar, mas eu a amo muito! Muito mesmo! Ela precisa saber disso, Beca!

Que raio estava acontecendo ali? Havia algo errado!

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Me perdoem pelo sumiço e pelo o atraso de hoje, é que eu não estou nos meus melhores dias 💔

Beijo,
Suully!

23/03/2019

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora