Quarenta - Tal Como Um Girassol Amassado

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Capitulo Quarenta — Tal Como Um Girassol Amassado

— Eu estou grávida de quatro semanas.

— Mas mãe, você disse que não poderia mais engravidar!

— Na verdade, o médico dissera que havia uma possibilidade de eu engravidar, mas seria algo de zero vírgula zero um. O mesmo que impossível. Aí já viu, foi um acidente.

— Ok. Mas a senhora chamou a gente de Sampa pra dizer isso ou tem algo a mais? — Eu conhecia minha mãe e sabia que ela nunca faria isso atoa. Tinha algo a mais.

— Minha gravidez é de risco. Se eu me esforçar um pouquinho que for, posso perder o bebê e se eu tiver um azar muito grande, posso ir junto. — Ela não deu espaço para eu comentar e continuou: — Por isso chamei vocês aqui. Meu contrato com a Bolt vence daqui a um mês e eu não vou renovar. Quero me dedicar a esse bebê. Eu vou me mudar pra cá. Vamos morar aqui, Rebeca. — Eu estava em choque, só sabia assentir. — Eu não queria me afastar de vocês meninas, nem de você Marcus. — Claudia se referia à minha amiga e sua família. — Queria que vocês morassem aqui com a gente. Podemos refazer o contrato, posso pagar a escola do Marcus. Eu só não queria vocês longe de mim, ainda me preocupo com o Rogério. — Esse era o nome do pai da Renata. — Vocês perto de mim é mais seguro.

Holly se calou por alguns segundos. Pareceram horas para mim. Assimilei aquilo pausadamente. Minha mãe estava grávida e corria risco. Risco de vida, as duas vidas corriam risco. Isso era péssimo, certo? Eu entendia o fato de que me mudar para a casa da minha avó — eu já tinha planejado isso alguns meses antes, esse bebê só antecipou as coisas — no entanto, não queria que fosse por algo tão ruim. Por outro lado o sítio seria ótimo para ela, longe da poluição, do barulho e dos problemas que uma capital tinha. Ela poderia ter uma gestação tranquila agora e com a minha avó por perto, seria maravilhoso!

Não ouvi o que Holly disse, eu simplesmente saí da cozinha e larguei os pães de queijo e o café para trás. Eu fui até os girassóis, arranquei um e fui até o pé de amora. Sem me preocupar se teria alguma Maria-fedida ou algum outro inseto ali para perturbar meu momento angustiado. Eu precisava ficar sozinha e pensar.

Minha mãe corria risco de vida.

Meu irmãozinho também.

Como isso era possível?

Eu nunca reclamei por ser filha única e muito menos queria um irmão. Esse era o sonho dela. Minha mãe queria realizar o seu sonho: ter um irmão. E como ela não teve, ela tentou me dar um, mas não podia. Agora o sonho dela estava sendo estraçalhado por uma doença que era culpa minha! Se eu não tivesse nascido, nada teria acontecido. Se talvez eu não fosse grande demais quando nasci, ela estaria livre dessa doença. Por que minha mãe corria risco de vida? Por que eu teria que perde-la também? Já não era justo perder o meu pai?

Não é só a alegria de pobre que dura pouco — como Renata sempre dizia —, minha felicidade também.

Eu estava sentada no chão com as pernas cruzadas e com o girassol na mão. Eu me comparei a ele. Uma flor indefesa na mão de um ser superior que a qualquer momento pode ser estraçalhada por ele como eu fiz com o girassol. O amassei em minhas mãos e vi suas pétalas caírem aos pés de uma pessoa. Um homem. Temi levantar o olhar, mas quando o fiz, eu vi Sam, se abaixando e sentando ao meu lado.

— Você sabia que um dos meus filhos tem Síndrome de Down? — Neguei com a cabeça. Eu não queria conversar com ninguém, mas também não iria ser mal educada e lhe expulsar dali. — Eu me senti exatamente assim: confuso. Achando que a culpa era minha, o que na verdade poderia ser. O DNA dele é o meu. Mas depois ele me disse algo que esqueci tudo o que pensei; ele disse que me ama! Meu filho mais novo por alguns minutos disse que me ama mesmo depois de eu ter os abandonados. Isso é tão lindo e que me fez parar e pensar o quão longe o amor vai. Não precisa achar que essa gravidez de risco é culpa sua.

— Mas é! — rebati. Minha voz estava rouca e pesadas lágrimas desciam até meu pescoço.

— Sua mãe te ama tanto! Ela não vê essa gravidez como culpa sua! Ela vê essa gravidez como uma benção!

— Como uma benção que pode mata-la!

— Como uma benção que vai aproximar você e a Sofia dela! Quando você teve sua mãe durante noves meses em casa? Imagina as noites que você e sua mãe e sua avó vão poder sentar na varanda e contar as estrelas comendo um bom brigadeiro!

— Seria como as férias de verão, mas, prolongadas! — exclamei, sorrindo me lembrando dos dias em que de fato fazíamos isso.

— Sua mãe está tão feliz com essa gravidez que no momento que você saiu desnorteada da cozinha, ela ficou triste. Ela disse que se você não gostasse do bebê, ela poderia abortar — ele disse, triste. — Você é tudo pra ela Rebeca, não deixa sua mãe triste, por favor.

Eu estava deixando minha mãe triste? Eu não queria isso! Eu não seria o motivo do aborto que ela faria. Ela não iria abortar. Eu a ajudaria em tudo que ela precisasse! Eu seria a melhor filha do mundo inteiro!

— Ok, eu vou ajuda-la em tudo o que puder. Me desculpa. Ela pensou em matar o seu filho por minha causa, me desculpa.

— Claro, vem, vamos ver sua mãe. Mas antes, seca esse rosto e volta a ser a filha linda que eu tenho!

Sam me ajudou a secar meu rosto e entrelaçou nossos dedos. No caminho para a cozinha ele me fazia rir.

— Você já parou pra pensar que seu irmãozinho, porque eu tenho certeza que é um garoto — falou convencido — ainda nem nasceu, mas já é tio da Sofia? Já pensou quando eles crescerem e começarem a abusar disso?

— Eles vão nos dar dor de cabeça. — eu sorri.

Quando entramos na cozinha, todo mundo estava exatamente onde eu deixei. Eu abracei minha mãe e sorri. Sussurrei em seu ouvido que eu tinha adorado a ideia de ter um irmão ou irmã.

— Vocês vão mesmo ficar aqui? — perguntei para minha amiga. Eu já estava sentada à mesa e voltei para o meu pote de pão de queijo.

— Sim. Mas nós vamos morar na cidade – respondeu Renata. — Aí a gente vem pra cá de manhã.

— Por que na cidade?

— Ano que vem eu termino o Ensino Médio, e já quero tentar uma faculdade. Esse ano eu não estou estudando preciso me adiantar.

— Eu também quero voltar a estudar — falei comendo um pão de queijo. — Vó, me dá a jarra de suco, por favor.— pedi, já que ela estava perto da jarra.

— Você quer? — perguntou minha mãe, ela estava feliz?

— Sim. Aqui eu posso começar do zero. Como é meu último ano também, eu posso entrar na sua turma, Renata, o que acha? Eu acho que precisarei de ajuda para lidar com adolescentes idiotas.

Renata sorriu e me apoiou.

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BOM DIA!

Gostaram do capítulo? que milagre a Rebeca mudar de opinião tão fácil, né kkkkkkkk

voteeeeeeeem pelo amor de Deeeeeeeeeeuss, é totalmente de graça!!!

Beijo,
Suully!

30/03/2019

Meu Mais Perfeito Erro (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora