"Eu passei a ver o mundo de outra maneira.
E não foi ele que mudou, fui eu."
(Gabriela P Matos)Carta para a amante de lares
Você deve estar por aí, colorindo seu quarto, terminando algum livro, ouvindo aquela banda que te recomendaram no terceiro ano.
Quanto tempo faz que você terminou o ensino médio? Você mudou o cabelo? o gosto por roupas? Fez outros caminhos ? Você deve estar por aí, dançando em festa e beijando alguém, fazendo juras de amor e prometendo o infinito, amanhecendo de ressaca sem saber como, nem onde e nem quando.Eu te procuro pra dizer que queria tanto te ver mais de perto, que queria que você me contasse as novidades como nos velhos tempos, se lembra?
Queria ver os seus olhinhos brilhando quando me contasse cada coisinha que teu pai dizia. Você ainda se lembra? De quando a gente sentava no mesmo lugar, você falava de alguma desgraça, eu acompanhava, depois a gente descia pra algum bar e jurava que aquela noite ia ser diferente, que podíamos ser felizes.
Você está feliz? Claro que sim. Deve estar feliz em lugares que não sei onde é, que nunca fui, que não me chamaram pra ir, que você nunca nem ouviu falar, mas que você foi só para o seu bem, apenas para tentar fazer dar certo nessa nova etapa da sua vida. E olha só, parece que deu certo. Você deve estar por aí, sendo maior do que achei que fosse possível, sendo mais bonita e mais feliz do que eu um dia desejei. Tomara que um dia você volte e a gente se encontre, que possamos conversar e rir, que me conte do seu novo investimento, do seu trabalho ou da banda que te recomendaram lá no ensino médio, que você só começou a ouvir agora.
Você está feliz mesmo Dayane? Faz tanto tempo assim? Eu ainda não consegui esquecer os seus olhos, muito menos a sua voz doce me chamando de amor. Como está tudo por aí na Austrália?
Por aqui na Áustria tudo está frio, assim como meu coração depois que eu resolvi partir.
- Isabelle— Quanto tempo faz Day? — A loira adentrava minha sala.
— Depois da última carta que você me deixou? Ou depois que você partiu? — Respondo enquanto observo a paisagem de costas a ela. — Não seja tola, você sabe muito bem quanto tempo faz Isabelle!
- Cinco Anos, faz cinco longos anos desde que eu fui embora. E você ainda continua com sua arrogância! - Ela diz se aproximando de mim.
— Ah Isabelle, não me venha com a mesma história de sempre — Cuspo as palavras com desdém. -- Faz cinco anos e muita coisa mudou. - Me viro e afirmo, a fitando de cima a baixo
— Claro! Você está diferente, seu cabelo está mais curto, você está mais firme e seu olhar não é o mesmo. - Isabelle disse me encarando - Você exala poder Limns, eu nunca duvidei que você , um dia, teria o mundo ao seus pés. — Ela disse se aproximando um pouco mais.
— Me responda Isabelle, qual o motivo dessa sua volta repentina? A Áustria não é tão boa assim como me disse há cinco anos atrás? — Indaguei chegando o mais perto possível.
— Eu me formei, voltei para casa assim como o prometido, ou você não se lembra da nossa promessa? — Encarei os seus olhos azuis com raiva.
— Quem foi que veio com o papinho de cada uma pro seu lado? Quem foi que jogou na minha cara os meus erros e me disse que seriam imperdoáveis? — Afirmei colocando todo o nervosismo em jogo. — Foi você, ainda teve a coragem de dizer que não era para ser. Eu chorei em ligações porque era uma trouxa, pedi perdão e implorei pra você voltar. — Sorri sarcasticamente — E mesmo assim você sumiu por anos. — Cuspi as palavras, em um tom autoritário e arrogante.
— Eu te mandei uma Carta Dayane, mesmo você sabendo de como minha vida andava difícil por lá. E quando eu volto para aceitar seu perdão, é assim que você me trata? - Isabelle diz usando todo o seu sarcasmo.
— Uma carta Isabelle? Jura? Eu fiquei relendo aquele papel insignificante por meses, eu esperei muito tempo por uma ligação, um sinal. Nem isso você teve a capacidade de terminar direito, ainda teve a audácia de falar que voltou porque aceita o meu perdão? Quem não aceita o seu perdão sou eu, você não é, e nunca foi digna dos meus sentimentos. - Afirmei logo me afastando.
— Você ainda continua com sua arrogância e petulância Dayane, mas eu precisava viver minha vida. O que eu poderia fazer? Nosso relacionamento à distância não iria para frente, você sabe. Mas agora eu voltei...
— Você não teve nem a mínima coragem de ligar para terminar tudo e ainda desapareceu do mapa. — Cresci com minha arrogância. — Fui eu que lamentei todos os dias a sua partida. Mas eu aprendi, e não desejo te ver de novo, então me faça o favor e desapareça da minha frente! — Falei apontando para a porta. — Agora!
— Que você se exploda junto com tudo que você chama de vida. — Isabelle cospe as palavras em minha cara antes de se retirar da sala.
Isabelle chegou em minha logo após a morte do meu pai. Ela sempre foi uma moça que queria o mundo ao seus pés, me fez acreditar em milhares de coisas, me ensinou que sentimentos nascem como o natural de uma árvore, crescem e permanecem ali para todo o sempre.
Isabelle era mais velha que eu, ja tinha completado a maior idade quando me conheceu, mas mesmo assim ela sabia lidar com toda a minha imaturidade. Até que um dia ela me disse que sentia demais pelas pessoas, e foi bem nesse momento que eu me apaixonei, jurando aos quatro cantos do mundo o que era o amor.
Eu me lembro perfeitamente daquela tarde fria, nós duas estávamos deitadas depois de ter feito amor. Conversávamos sobre coisas banais, ela mexia em meu cabelo e eu ouvia cada batida do seu coração. Era como se o mundo não existisse, era só nós duas, um colchão e nosso sentimento.
Lembro de seu sussurro no meu ouvido — Prometa pra mim que nunca irá me esquecer? — Eu só pude dar risada. Que garota tola, como se esquecê-la fosse possível.
No dia seguinte ela me disse que partiria, que essa mudança era necessária para seu futuro. "Me desculpe, mas eu nao posso me prender ao seu amor, preciso ser alguém na vida". Isabelle havia dito antes de partir, me deixando de coração partido esperando sua volta.
Isabelle era covarde, desaparecer do mapa e voltar quando sua vida tivesse feita já era de se esperar. Tentava voltar para a minha vida quando nada mais a restava, eu não podia confiar, porque sumir já havia virado sua maior especialidade.
Quando amadureci enxerguei aquela carta que ela havia me mandando de outra forma, ela não queria estar comigo, ela estava pensando em seu futuro e eu não a julgava por isso. Mas foi inevitável, precisei expulsa-lá do meu coração, da minha vida, da minha mente.
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A chegada do Outono
RandomSente-se, aconchegue em algum lugar; Uma xícara de cafe?De chá?uma água talvez? Me acompanhe em minha trajetória, prometo a você que irá se divertir junto com os personagens. Vamos logo com isso antes que meu café esfrie. Ah, antes que eu me esque...