Escolha existente

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Vem ó meu bem,
não chore não,
vou cantar pra você.

Carol assistia ao jogo concentrada, e enquanto isso eu apenas a observava, ela estava sentada do meu lado e tudo que passava por minha cabeça era: "como ela é linda!"

Fiquei a encarando até que ficamos frente a frente. Enquanto conversávamos pude perceber que ela não era de sorriso fácil, então tentei várias versões de minhas piadas sem graça e acabei obtendo certo sucesso. - Como o seu sorriso é lindo. - E de fato era, porém não parecia real, soava como uma pintura, encantando instantaneamente ao passo que escondia imersões de sentimentos bons e ruins.

Algumas de minhas perguntas pareciam incomodá-la, mas confesso, se não estivesse prestando atenção ao ponto de quase não piscar, não teria percebido, ela conseguia disfarçar muito bem. A minha vontade de conhecer cada detalhe sobre ela era tão grande, que mal pude observar a indiscrição atrás de meus questionamentos, mas logo tentei voltar um pouco no tempo e lembrar quais eram os assuntos que mais a deixavam constrangida. E logo percebi que estavam sempre relacionados aos seus sentimentos, ela parecia ter um medo enorme de deixá-los visíveis e isto só fez aumentar o meu interesse. Imaginar o trabalho que eu teria para tirar aquela armadura em volta dela, as noites que passaria em claro tentando descobrir os sinais ocultos que haviam em cada gesto que ela fazia, isso tudo me fascinava e devo admitir que desde o primeiro instante em que nos vimos, eu não conseguia esquecer aquele maldito par de olhos. Afinal, era contraditório, nunca gostei desses tipos que entram em nossa vida para deixar tudo fora do lugar e bagunçar até o que já estava totalmente em desordem. Mas talvez com ela fosse diferente, às vezes poderíamos descobrir coisas que realmente valessem a pena. E ela, sem dúvidas, poderia valer todo o esforço e dedicação que eu pudesse oferecer.

— Não quer subir? — Caroline me perguntava enquanto me perdia em pensamentos. — Day?

- Oi, me desculpe, me perdi em algumas bobagens. - Sorri fraco — Não posso subir Carol.

— Por? — ela perguntou decepcionada.

— Amanhã eu trabalho cedo e preciso ser responsável e descansar. — Sorri fraco. — Obrigada pela noite, Carol. — Afirmei deixando um beijo casto em seu rosto.

— Me avisa quando chegar em casa, já está tarde.

— Qual necessidade? Sei me cuidar. — Falei ríspida.

- Deixa de marra, Dayane, mande mensagem se quiser. — Ela disse se virando e partindo para o elevador. - Obrigada pela noite. — afirmou deixando um beijo no ar.

Logo após sorrir com o ato parti em direção a minha casa. - Ela havia se preocupado comigo? Questionei ao universo, arrancando esses pensamentos de mim. - Não seja boba, ela não se preocupou. - Falei ríspida para o silêncio que habitava em me carro.

Ao chegar em casa, estava tudo escuro, já se passavam de uma da manhã. Logo após tentei assitir um filme, não consegui e fui para a parte dos livros; - por que não ler? - assim, peguei uma coleção de livros de ficção científica.

E como eu mesma imaginava, sempre tinha umas frases impactantes no meio daquelas páginas que definia a vida de muitas pessoas, percebi que as histórias eram de ficção, mas na verdade os escritores só queriam passar algumas lições e mostrar que na vida você pode ser tudo o que desejar. Isso funcionou dessa vez, a minha cabeça viajou tanto, mas tanto, que quase faltou energia; Faltou fôlego. E lendo, a lição que apareceu foi que eu estava me esforçando, mas ainda faltava um pouco de mim. E falta, diariamente. Mas quem é que nunca olhou o horizonte e se sentiu assim, distante? Como se a vida fosse inalcançável. Sonhos inalcançáveis. Eu queria tanto ter braços maiores, agarrar aquelas estrelas que - eu juro - ficam sorrindo enquanto brilham. E isso não é ficção científica, em algumas partes nunca foi, pelo menos em mim! Acontece que eu já não sou mais o que eu era, que aquilo que pretendo ser não se clareia, tudo se confunde: os tempos verbais, a realidade e a ficção, os sonhos e os pesadelos, eu e os meus medos. A verdade é que talvez meus vícios nunca irão sumir, os traumas nunca cicatrizarão e as próprias verdades nunca aparecerão, aquele amor antigo talvez nunca seja esquecido . Se eu fosse Bukowski, beberia. Se eu fosse Vinicius de Moraes, comporia, aliás comporia mais. Se eu fosse eu, ainda não encontrei a resposta. E por ser essa dúvida tão grande e abusar demais dos adjetivos que me perco, que me estendo cada vez que me diminuo. Não há Bukowski que me embebede; não há Vinicius que me soletre. E não há ficção que me salve da realidade de seguir ao meu rumo.

A chegada do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora