A frente!

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aprendi com a dor
que eu sempre
consigo suportar mais.

Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo, olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os picos, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que ao entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira, o rio não pode voltar, ninguém pode voltar, voltar é impossível na existência, porque o rio precisa se arriscar e entrar no oceano, e somente quando ele entrar no oceano é que o medo desaparece. Porque então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano.

Quando eu estava próxima à completar um ano de idade, logo após os meus seis primeiros passos sozinha, acabei sofrendo uma queda, e batendo com a cabeça na mesa de centro da sala de estar. E até hoje, durante todas as manhãs, enquanto observo meu reflexo no espelho, olho para a cicatriz, e imagino se tivesse desistido de aprender à caminhar, por saber que poderia cair e me machucar novamente. Mas, ainda bem que, ao invés disso, eu escolhi seguir em frente.

Aos seis anos de idade, durante uma tarde de verão, a família resolveu realizar um passeio ao parque aquático da cidade. Chegando lá, após escutar minha mãe durante o percurso inteiro, impondo que eu não poderia entrar na água sozinha, resolvi demonstrar que já era "crescida o suficiente", e então, sem medir consequências, pulei na piscina mais funda do recinto, e , quando retomei a consciência, haviam diversas pessoas à minha volta, e minha mãe sentada ao meu lado, aos prantos. Após o ocorrido, acabei desenvolvendo um certo trauma, que mudou completamente a minha vida, até que, num belo dia, decidi me livrar deste medo importuno, e realizar aulas de natação. Uma experiência determinante para que hoje em dia, eu tenha me tornado uma amante das ondas. Em pensar que em outros tempos, sentia receio até mesmo de entrar em contato com a água do banho, mas, ao invés de me deixar ser consumida pelo medo, optei por seguir em Frente. Quem eu seria. se eu não seguisse em frente quando o universo conspirou contra mim?

- Day? Onde você está? - Caroline falava ríspida do outro lado da linha, enquanto eu estava sentada no terraço de minha casa.

- Bom dia Caroline. - Gargalhei. - O que faz você tão estressada a essa hora da manhã? - Perguntei maliciosamente.

- O que me faz ficar estressada? Hum... - Ela dialogou sarcástica. - Vou dizer a você!

- Me diga! - Provoquei do outro lado da linha.

- Você! Você me faz ficar assim! - Ela praticamente gritou do outro lado da linha.

- O que fiz a você desta vez?

- Você sumiu por exatos 5 dias Dayane! - Ela afirmou. - Você não deu as caras aqui em minha casa depois do nosso encontro, muito menos retornou as minhas ligações, nem se quer mandou uma mensagem avisando que iria ficar ausente... -
Ela disse magoada. - Eu odeio você! Como posso acreditar em alguém como você?

- Tudo isso é saudade, Caroline? - Perguntei sarcástica, sorrindo com suas palavras.

- Com toda certeza não. - Carol gritou do outro lado da linha, me fazendo afastar o celular do ouvido. - Isso é raiva de você, você ainda tem a coragem de falar que eu sou sua...

-Você é minha sim! - Afirmei maliciosa - E posso provar de corpo e alma que é verdade.

- Eu não sou sua, eu não sou de ninguém.

- Chego em sua casa ao final da tarde...

- Vá a merda, Dayane... - Caroline disse encerrando a ligação.

Acho um pouco inútil explicar a vocês o porquê de meu sumiço de alguns dias, mas logo perceberam que foram apenas cinco longos dias para Caroline, e para mim, lentos e chatos cinco dias.

Quando eu estava saindo do cemitério de Rose, recebi uma ligação de um parceiro meu da Polícia de Gold Coast. - Day! Acharam um corpo morto a sete tiros próximo à área dos traficantes! Acho que você gostaria de ver como isso aconteceu. - Lá fomos nós...Nós? Sim, eu e Haylley, minha fiel parceira de crimes estava de volta.

Basicamente os meus cinco dias foram apenas para descobrir o assassino do homem a sete tiros, se eu descobri quem foi? Mas é Claro que sim!

Flashback on:

Haylley e eu nos encontrávamos estrada a frente de Sydney, estávamos indo para Gold Coast investigar a causa e consequência de um assassinato.
Quando meu amigo Ray me ligou me informando que haviam matado alguém nas intocáveis áreas do país, estranhei, logo querendo ver de pertinho.

Como Haylley é uma pessoa tão disposta quanto eu para investigar coisas de meu passado, ela logo se prontificou a vir comigo para ajudar, como uma grande amiga que ela é.

Quando eu e ela terminamos, eu pedi para que ela ficasse em minha vida só mais um pouco, não me importava como seria.

- Eu não posso ficar por agora Day, mas prometo voltar e ficar para sempre, não me importa como, você me importa mais que rótulos.

Ela não precisou ir, não precisou sumir, não precisou partir para sempre. A rotina esmagava ela, mas olha o quanto ela cresceu, olha que sorriso lindo ela tem. E tem sim!. Ela se tornou um ser tão magnífico que sem ela aqui nada do que é hoje seria tão bom. Eu prometi que a faria lembrar todos os dias o quão importante ela é e o quanto merece estar aqui comigo. Ela sempre foi uma de minhas melhores amigas. Eu Prometi mostrar diversos motivos para entender seu valor. Ela não desistiu, ela insistiu e ficou em meu coração. Ela é especial e faz a diferença na vida de todos que a rodeiam. E que o mundo caia sobre mim, se eu estiver errada. Qual o lado ruim de poder contar com alguém que sempre amei? Haylley é minha amiga e não me importa quem a aceita.

- No que tanto pensa Lima? - Haylley me tira de pensamentos enquanto eu dirigia pela estrada australiana.

- De como a gente está vivendo esse agora! - Sorri direcionando minha atenção ao carro.

- A gente sempre foi assim, meio desajustadas. Uma hora namoradas, outra hora amigas. - Ela gargalhou. - A vida é assim.

- Agradeço por você ter ficado, Ok? - Disse passando a mão em seu cabelo e o bagunçando.

- Não deixaria que você passasse por isso sozinha, garota! - Ela retirou minha mão. - Quero você feliz com a Carol, e que eu possa ser madrinha do casamento!

- Pode apostar que se acontecer um casamento, você será a madrinha.

- Amo você, ok? - Sorri - Obrigada por ser minha amiga.

- Nunca que deixaria de amar você, sua amizade é importante... - Haylley sorriu. - Agora, acelere com essa máquina e vamos logo resolver isso. A Carol vai sentir sua falta...

- Eu já sinto falta dela Hay, muita.

A chegada do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora