De volta ao caos

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Ela odiava o próprio medo,
odiava a raiz dele,
Mas sabia
que tinha que encará-lo
mesmo estando apavorada.

Me lembro de todo o medo que tive de me entregar a alguém, de me permitir e no fim, me decepcionar. Eu recuei de todas as formas, tentei impedir, lutei contra mim mesma numa guerra frequente e diária. Briguei com meus pensamentos quando eles se voltavam para ela. Nada adiantou. Não houve palavras, nem poemas feitos que fizessem eu esquecer o som daquele riso. As imagens dela martelavam em minha cabeça, e à cada batida despertava em mim, um novo sentimento. Não foi nada premeditado, não houve intenção, simplesmente aconteceu. Quando me dei conta não havia um dia sequer que eu não pensasse em nós. E foi aí que eu percebi que já estava fazendo parte da minha rotina, do meu dia a dia.

Como que pode acontecer tão rápido assim? Eu estava com mágoas no peito e em pedaços. Ela chegou e fez diferente. Esmagou a pedra que estava no meu coração, e agora ele vive chamando por ela. Sua ausência me faz falta. E ela não sabe o quão me faz bem. Sinto as melhores sensações quando ouço as vozes e as risadas manhosas, fico rindo à toa ao lembrar de nossos momentos. Estava precisando me sentir novamente assim, estava sentido falta do meu próprio eu. Isso me trouxe de volta ao que era antes. Me resgatou do caos em que eu estava vivendo e eu só tenho que agradecer. Minha vontade é de guardar numa caixinha só pra mim, para não sair mais da minha vida.
Eu Só peço que seja diferente e fique. Que ela Fique comigo pelo menos a vida inteira.
Mas infelizmente, mesmo com todo esse amor, eu preciso ser forte, eu tenho que ser forte, porque estou sozinha dentro desse jogo. 
Eu nunca permitiria que Caroline se metesse em todo esse caos, nunca permitiria que ela fosse a luta, eu me arriscaria duas vezes só para vê-la sem um arranhão.

Eu estava voltando do Qg do governo, o plano que criávamos a mais de seis meses já estava pronto para ser iniciado, e eu estava apenas preocupada porque eu não sabia se eu realmente sobreviveria a tudo isso. Eu dirigia meu carro em prantos, as lágrimas desciam levemente sobre meu rosto, e eu tinha que enxugá-las, pois não havia ninguém que iria fazer isso por mim.

Todas as malditas noites eu deito minha cabeça no travesseiro rezando para que o universo me dê uma chance, uma esperança disso tudo sair bem, eu estava vivendo na esperança de que exista algo capaz de me livrar de todos os os demônios. Eu estou praticamente sozinha porque todas as vezes que tenho minhas ideias e planos, não deixo ninguém entrar dentro disso, porque tenho medo de perder a minha familia.. Eu tenho que ser forte, porque ninguém cuidará disso para mim.

Acelero o meu carro e aumento o som ao mais alto volume, e a melodia que vem em tom de passarinho invade meus ouvidos me levando à outro mundo, viajando através de minhas tristezas e expulsando todas as impurezas de minha alma. Então eu às expulso e às exponho em palavras. Palavras que me lêem. Palavras tão confusas quanto eu, que só quem me conhece, talvez poderá entendê-las. Palavras que se perdem com um tempo por serem apenas meras palavras. E falo a vocês esse aviso, não tente decifrá-las, pois vocês se perderam dentro do meu caos.

- Alô? - Disse assim que a chamada foi atendida. - Haylley? - Questionei quando não ouvi a voz dela.
- Oi Day! Me diz que tudo foi resolvido!
- Quero você na casa do Dreicon em 10 minutos. Teremos uma reunião de última hora, e acredito também que seja a última delas. - Afirmei acelerando o carro para chegar o mais rápido possível.
- Você conseguiu? - Ela pergunta feliz.
- Está tudo correndo como deveria, apenas vá ao local e lá nos conversaremos sobre tudo que será feito. - Afirmei encerrando a ligação!

Nesse tempo todo de vida eu aprendi que nós somos capazes de sobreviver a coisas horríveis, pois somos tão indestrutíveis quanto pensamos ser. Quando os mais velhos dizem: "Os adolescentes se acham invencíveis", com aquele sorriso malicioso e idiota estampado na cara, eles não sabem o quanto estão certos. Não devemos perder a esperança, pois jamais seremos irremediavelmente feridos. Pensamos que somos invencíveis porque realmente somos. Não nascemos, nem morremos. Como toda energia, nós simplesmente mudamos de forma, de tamanho e de manifestação. Os mais velhos se esquecem disso quando envelhecem. Ficam com medo de perder e de fracassar. Mas essa parte que é maior do que a soma das partes não tem começo e não tem fim, e, portanto, não pode falhar.

- Day! - Dreicon meu irmão disse ao me ver adentrando ao escritório. - Como ficaram as coisas?Você resolveu tudo? - Ele questionou preocupado olhando os outros que estavam na sala.
- O plano começa em sete dias! - Disse me sentando na mesa, assustando os demais presentes ali. Haylley me olhou medonha, Macedo observou calado, Dreicon me encarou duvidoso, Vitão me encarou admirado.
- Mas Day! - Haylley engoliu a seco. - Como fica sua vida? - Ela perguntou me fazendo suspirar. - Sua família?
- Qual família? - Perguntei sarcástica. - Caroline? O bebê? Ou a casa? - Gargalhei fazendo com que eles se assustassem.
- Você não vai fazer isso Dayane! - Dreicon disse batendo as mãos na mesa.
- Fazer o que Irmão? - Perguntei me levantando. - Eu sempre deixei bem claro que não desistiria de nada, não me importe quem saía ferido desse jogo! - Afirmei rodando a sala.
- Ela não merece tudo isso! - Haylley gritou comigo. - Você vai corromper ela Dayane? Você vai perder a única pessoa que te amou de verdade? - Haylley disse indo até mim.
- Eu já ensinei a vocês tantas vezes! - Disse me curvando sobre a mesa. - Não crie expectativas sobre mim! Porque vocês sabem que eu não tenho um pingo de consideração com quem não merece. - Afirmei espalmando as mãos sobre a grande mesa do escritório. - A única pessoa que me amou de verdade está morto!
- Você é uma filha da put.... - Haylley disse depositando um tapa em meu rosto. - Eu não sei como te ajudei com tudo isso! - Ela falou se retirando da sala.
- Haylley! - Esbravejei antes mesmo que ela saísse. - Você confia em mim? - Questionei brava. - Confia em mim? - Gritei novamente.
- Eu confio Dayane! - Ela suspirou. - Mesmo depois de tudo que você fez, eu fui a única que confiou em você! Por que eu não confiaria agora? - Ela disse se retirando da sala.
- Você não pode fazer isso com a Carol! - Dreicon disse bravo. - Ela vai sofrer tanto!
- Eu preciso acabar com esse jogo! - Suspirei pensando em Carol. - Ela aceitou o meu pedido de casamento. - Sorri sarcástica. - O plano corre exatamente como eu quero.
- Depois de tudo? Como vai ser? - Macedo questiona duvidoso.
- Eu não posso prever o futuro ainda, mas eu sei que estou mais perto do fim! - Afirmei me retirando da sala. - Todos são apenas meros peões no meu jogo! - Disse batendo no ombro do meu irmão. -  E falta apenas mais um para conseguir o meu poderoso xeque-mate! - Afirmei saindo de cena e seguindo para onde todos os meus problemas seriam esquecidos. Eu iria para o meu velho amigo Bar!

A chegada do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora