Maresia

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Feito mar
Tenho lá minhas
Maresias.

— Ande mais rápido Day, já estamos atrasados. — Os gritos de Dylan ecoavam dentro de minha grande casa.

— Estou indo, vou apenas pegar o violão. — Afirmei descendo as escadas — Aliás, não existe um luau sem um instrumento. — Exclamei logo ultrapassando a porta de saída.

— Animada para o luau de hoje? — Fomos conversando e caminhando até a praia que aconteceria a reunião com alguns amigos.

— A medida do possível, mas isso não quer dizer que não estávamos precisando de um tempinho com nossos amigos. — Digo o abraçando de lado - Estamos trabalhando um pouco mais do que o necessário, você sabe disso.

— Eu sei... Eu sei... Mas é preciso Day. Trabalhamos com investimentos, você está em um grande negócio e está fazendo o seu trabalho, que é incrivelmente melhor do que o do Papai.

Bom, hoje era sábado e eu e meu irmão precisávamos de alguns dias de folga, já que não era justo apenas trabalharmos.Normalmente em nossos sábados livres, agíamos como adolescentes e sempre acabávamos em acampamentos na praia com bebidas e muitas pessoas.

Sempre andávamos em grupo, a mesma galera da época do colegial, Victor, Nathalie, Bruno, Elana. Eles me conheciam tão bem quanto eu os conhecia. Éramos feitos de fortes conexões em formas de grandes amizades.

🌊

Assim que chegamos na praia resolvemos nos adiantar, tratamos logo de montar as barracas e fazer a fogueira. Acampar na praias era muito divertido, juntávamos a galera e fazíamos um grande luau, pois era um programa comum em Sydney. Ao longo de alguns minutos separamos as bebidas, as comidas, e organizamos tudo. Nossos amigos foram se juntando e depois de mais alguns minutos já estávamos bebendo ao redor da fogueira.

Assim que um deles, o Victor começou a tocar o violão, algumas pessoas aproximaram e se juntaram a nós. Uma turma de amigos ficaram animados com voz e violão, foi nesse instante que meu coração entrou em descompasso como as ondas do mar, ela estava linda, aqueles olhos cor de mel, o cabelo combinava com o pôr do sol que no mesmo instante se acabava em um começo de noite, era tão lindo, mas mesmo assim eu só conseguia olhar em seus olhos e sorrir...

Ela se sentou do outro lado da fogueira e seu cabelo ruivo se confundia com a cortina de chamas que emanava da fogueira. Desde que chegamos, eu era a única ainda que não acompanhava o coro da galera. Mas para isso eu tinha uma justificativa, eu só conseguia sorrir ao deparar com aquela voz e com o nossos olhares que se encontravam a cada refrão tocado.

Por culpa de um cupido maluco, ou do arquiteto genial da minha vida (que como todo gênio que se preze, é louco). Levantei e fui até o Victor, peguei o violão e logo então  toquei "As coisas tão mais lindas", do "Nando Reis", disse que ia cantar, mas que ele me acompanhasse, ele acenou com cabeça, dando okay. Havia escutado essa música alguns bons anos atrás, quando viajei pra o Brasil, e disse pra mim, que cantaria ela um dia para alguma garota especial. Imaginava uma serenata, daquelas com pedrinhas na janela e buquê de flores no final, mas, porque não agora? pensei.

Assim que a música começou, fiquei um pouco tensa, rouca e um pouco desafinada, porém quando a olhei, ela estava ali a me fitar, algo no teu olhar parecia refletir o mesmo céu daquele início de noite. Eu já cantava mais a vontade, dava pra perceber nitidamente e as pessoas ali, certamente já tinham notado que eu não parecia focar em outra direção, a não ser a dela. Para minha surpresa, na quarta estrofe da musica, ela começou a cantar junto, cada vez mais equivalente. Se levantou e se aproximou, e mesmo com todo aquele calor, minhas mãos estavam gélidas como um iceberg polar.

A canção já estava quase no final, eu nunca ouvira uma voz tão linda na vida, meus pensamentos se confundiam, entre as próximas palavras da letra, e o que eu poderia dizer depois; um "oi" talvez? No final, cada uma iria para o seu lado então? No último acorde, ela me olhou e sorriu, as pessoas aplaudiram, tudo aquilo soava de uma forma ainda mais desesperadora para minha timidez estúpida. A galera ecoava aquele tradicional grito de incentivo. Eu olhei dentro dos olhos dela cor de mel, e naquele momento, senti coisas que nem imaginava existir, senti tudo, menos o meu chão. A fogueira queimava em mim, o céu estrelado caiu sobre nós, como um lençol cai bem em noites frias, o últimos dedilhados do violão embalavam nosso primeiro olhar fixo...

— Muito Prazer, meu nome é Caroline. -- Ela acusou baixinho, rindo logo em seguida. — Me desculpa pelo ocorrido ontem na praia.

— Me chamo Dayane — Sorri e estendi a mão, e em seguida voltei a dizer — Então quer dizer que você se lembra de mim? — Perguntei sorrindo e fitando seus lindos olhos.

— Lembro da sua arrogância tanto quanto me lembro de você. — Ela sorriu e voltou a dizer — Me chame de Carol por favor. — Logo ela se virou para ir em direção aos amigos que seguiram para o acampamento ao lado.

- Um lindo nome Caroline, falei em um tom alto o bastante para ela escutar. — Ela se virou em minha direção novamente. — Nome de origem Italiana. -- afirmei sorrindo para ela que me olhava de uma distância não muito longa.

— Cadê a sua arrogância agora? Não me parece a mulher que esbarrei ontem. — Ela afirmou me fitando. — Meu nome é de origem francesa Dayane. — Ela disse gargalhando chegando mais perto.

— "Tu as les plus beaux yeux" (você tem os olhos mais lindos) — acusei baixinho, deixando a distância entre nós menor.

- Falando Francês só para me galantear? Espertinha.
— Carol sussurrou em meus ouvidos e logo se virou seguindo para o seu acampamento.

E eu? Eu só conseguia sorrir.
Caroline... Caroline...Caroline... Você tem belos olhos para não serem conquistados por mim!

A chegada do OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora