Capítulo 10

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Yoongi

  Sentindo todo meu corpo doer, me sento na cama de forma desengonçada e solto um gemido baixo ao sentir minhas costas estalarem, parecendo que fui massacrado, esmagado por um caminhão. Tiro a franja que está demasiada grande do rosto e sigo até o banheiro, me encarando no amplo espelho e vendo as marcas em meu rosto.

Hoje faz dois dias desde a surra que os garotos que eu sequer lembro o nome, me deram. Decidi que não irei mais pra escola e isso está causando outra briga aqui em casa porque pela primeira vez, meus pais resolveram se importar comigo, querendo me obrigar a assistir minhas aulas.

Eu não irei nem a base de surras.

Meu celular apita e pego o mesmo, vendo no identificador o nome de Jungkook.

Ligação On:

— Bom dia...- murmuro baixo, sem vontade alguma de começar uma conversa.

— Bom dia, babe. Como você está? - sua voz soa amena e sinto uma angústia tomar conta de mim.

— Estou bem - minto.

— Oh...- murmura baixo - Você está em casa?

— Estou, por que?

— Nada...não tem aula? - questiona.

— Não mais...

— Você não está no final do ano letiv-

— Jungkook não estou entendendo - fecho os olhos com força ao sentir uma dor de cabeça absurda.

— Desculpe, só estou preocupado.

— Não tem porque ficar - minto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas - Você não está em casa?

— Não, estava agilizando umas coisas pra faculdade...

— Ah entendi....- ri sem humor - Eu acho que vou desligar um pouquinho, eu estou com dor de cabeça...

— Tudo bem, amor. Tome seus remédios e descansa.

— Irei fazer isso - murmuro e clico no botão de desligar.

Ligação off.

Deixo meu corpo deslizar pela parede e abraço meus joelhos me encolhendo o máximo que consigo, como se isso fosse fazer diminuir o tamanho do buraco que está dentro de mim.

— E-eu estou me p-perdendo....- soluço alto, limpando meu rosto na manga do casaco e afundando a cabeça entre meus joelhos, tentando a todo custo não ter a minha vida.

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Ouço o barulho dos meus pais abrindo a porta e as vozes alteradas conversando com alguém lá embaixo. Me levanto rapidamente, saindo de perto da porta, tentando não ouvir seus gritos.

Eu não aguento mais essa vida, eu não aguento mais ter que fingir que eu não me importo sendo que na verdade isso está me matando a cada dia que passa, me tornando oco. Sinto que Jungkook não irá continuar muito tempo do meu lado, eu já não sou um namorado tão presente e olha que só começamos a namorar por agora.

— Eu só queria não ser eu....- murmuro segundos antes de me jogar na cama, dopado com meus remédios para emagrecer.

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Levo um susto quando a porta de meu quarto se abre num estrondo, me fazendo acordar num pulo, encarando as feições nada boas de meus pais.

— Você! - papai aponta em minha direção e eu vejo uma cinta em sua mão - Você não passa de um desgosto para a família.

Encaro os dois sem conseguir deixar uma lágrima cair, acho que já chorei toda minha cota por hoje, não conseguindo derramar mais nenhuma lágrima, mesmo que meu interior esteja sendo massacrado ao ver meus pais me encararem desse jeito.

— O que eu fiz? - ouso perguntar baixo, sem saber ao certo se o errado sou eu ou eles.

— Você está namorando um garoto! - papai grita - Um garoto!

— Então foi por isso que você apanhou na escola? - mamãe grita histérica - Se eu quisesse um filho para namorar com menino eu fazia a porra de uma filha! Isso é um absurdo, isso é a coisa mais nojenta que eu já pude presen-

— Eu amo ele - é tudo que eu consigo dizer antes de ver meu pai se aproximar de mim e fazer a pior coisa que poderia ter feito.

Cuspir em meu rosto.

Nenhuma dor de nenhum soco, nenhum chute, nenhuma palavra cruel foi maior do que esse gesto de desgosto, de rejeição e de nojo vindo de meu próprio pai.

— Espero que arrume um lugar para ficar - minha mãe aponta seu dedo em minha direção e puxa o braço de meu pai para longe, não deixando ele encostar em mim novamente.

Quando a porta se fecha, ouço eles conversarem enquanto descem as escadas e agem como se não tivessem acabado de expulsar e renegar seu filho caçula. Nessa altura de campeonato nada mais me surpreende, então mais uma vez eu me joguei na cama e não tive nem forças para ver quem me ligava.

— Desculpa, amor....- sussurro antes de apagar por total, entrando em um mundo onde tudo era tão mais fácil.

Num mundo onde eu tinha Jeon Jungkook do meu lado para me fazer companhia, me abraçar, cuidar de mim, dizer - mesmo de mentirinha - que eu sou a pessoa que ele ama, que ele ficará ao meu lado até mesmo nesse momento que ninguém mais quis ficar.

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    Não sei ao certo quantas horas fiquei no quarto, somente fui obrigado a me levantar quando uma tontura muito​ forte me invadiu e percebi que estava quase vinte e quatro horas sem comer nada, sem beber absolutamente nada.

Pego meu celular, coloco no bolso e saio do quarto, tendo a certeza de que meus pais estão no restaurante e estão pouco se fodendo para mim ou para minha saúde.

— Vamos tentar reagir...- murmuro baixo, pra mim mesmo, rindo logo em seguida pelas besteiras que eu falei - Quero ver pra onde irei, eles me expulsaram, não? Esse deve ser o momento em que eu definitivamente irei morrer...

Abro a geladeira e pego um potinho de sopa da noite anterior e o coloco no microondas, me sentando em uma das cadeiras e apoiando meu rosto na mão enquanto espero os minutos necessários para requentar o alimento.

Quando ouço o barulho avisando que já está pronto, me levanto e pego a vasilha, me sentando de volta no mesmo lugar e começando a comer quieto, sem ninguém para me azucrinar ou lançar piadinhas sem graça.

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  Deixo a louça no escorredor da pia e seco minhas mãos na toalha pendurada perto da janela e suspiro, colocando a mão no bolso e vendo que não tem mais nenhuma mensagem de Jungkook, quando pego o celular.

Ele deve ter desistido, afinal, eu também desistiria de uma pessoa como eu. Não iria suportar ficar do meu lado aguentando todas as mudanças drásticas de humor e a carência excessiva às vezes.

Quando estava me virando para subir as escadas de volta para meu quarto, ouço a campainha da entrada tocar e arqueio as sobrancelhas, tentando achar alguém que poderia estar batendo na porta uma hora dessas.

— Quem é? - minha voz soa baixa e a pessoa do outro lado não responde, apenas continua apertando mais vezes no botão.

Impaciente pela demora para responder, destranco a porta e abro minha boca para lançar algumas palavras duras para a pessoa mas meus olhos automaticamente se enchem de lágrimas ao reconhecer a figura, também emocionada, parada em minha frente com os braços abertos em mudo pedido para que me alinhe em seus braços e não solte nunca mais.

Amor Virtual - YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora