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— Coloque isso onde encontrou. – ele disse firme com os olhos sérios sobre mim, alternei meu olhar para aquele livro, e pensar que em todos esses anos eu poderia ter tido um pouco mais dela. Ele sabe o quão isso é importante para mim e mesmo assim o fez. — Eu disse para você colocar isso onde o encontrou S/n.

— O quê? – gritei de maneira agressiva sentindo meus olhos arderem assim como minha garganta, era imensurável a dor que eu sentia, um misto de fúria e tristeza incapaz de ser descrito. Era a minha mãe, a mulher que me concebeu, era a minha pessoa favorita no mundo inteiro.

“ — Vem filha, vem! – a morena de olhos azuis chamou a garotinha de maneira animada, estavam num parque, rodopiando e brincando naquele gramado verde brilhante. Era verão, as famílias haviam saído de casa, estavam todos a se divertir.

— Papai, olha o que a mamãe me ensinou! – S/n disse alto para que o mais velho escutasse, ele estava sentado no local onde acabaram de fazer um piquenique, sorriu de maneira tão genuína assistindo a mesma dar uma "estrelinha".

— Que legal filhote! – respondeu rindo e batendo palmas assim como a morena de olhos azuis. Estava tudo no seu devido lugar, estavam felizes e ele não se imaginava querer estar em outro lugar a não ser aquele.

— Agora eu sou que nem você mamãe. – disse para a mais velha e ela sorriu se abaixando ficando da altura da garotinha.

— Você consegue ser ainda mais legal que a mamãe. – pincelou o nariz da menor que soltou uma risada fazendo um sorriso involuntário estampar os lábios da morena.

Em sua mente pensava o quão era grata por ter aquele pequeno ser em sua vida, era a razão de sua existência e a amava mais que qualquer coisa, tinha convicção daquilo.

— Te amo mamãe. – abraçou a mulher que fechou os olhos sentindo como se seu coração tivesse se derretido como manteiga.

— Eu também te amo filha. ”

O amargor em minha garganta apenas se aumentou ao ter aquele momento me atingido como uma bala de revólver, as veias saltavam de meu pescoço denunciando o quão nervosa eu estava.

— Sua mãe não está mais aqui. – tomou ar antes de dizer e caminhou em passos lentos até mim, meus músculos se enrijeceram e eu travei minha mandíbula. — Você era apenas uma criança, eu não queria ter que... – suspirou. — Entenda minha perspectiva.

— Eu estou tentando mas até agora não vejo razão e motivos plausíveis para ter me escondido a vida da minha mãe. – esbravejei. — Vida essa que você não fez questão alguma.

— Questão? – soltou uma risada sarcástica. — Eu era jovem, eu estava sozinho com uma criança, eu tinha compromissos e responsabilidades, e ainda não fiz questão disso? – perguntou retoricamente e eu continuei mantendo minha postura. — Você tem tudo o que quer nas mãos, te falta responsabilidade! — disse olhando em meus olhos. Sabe S/n, sua mãe costumava a dizer que isso é inevitável, a maturidade vem a tona e cabe somente a você lidar com isso. – abaixei minha cabeça assentindo com a mesma e mordi o lábio inferior segurando inutilmente as lágrimas que insistiam em cair.

— Certo, mas cadê ela? – seu cenho se franziu. — Cadê minha mãe? Você não acha que ela tinha responsabilidade o suficiente para me dizer isso pessoalmente?

— Como você ous-

— Como eu ouso?! Como você ousa! – esbravejei com a voz embargada pelo choro. — Eu sempre perguntava sobre ela, eu sempre quis saber mais sobre e você nunca... – não fui capaz de completar aquela frase. — Você tinha o diário dela! – gritei sentindo meus pulmões implorar em por ar e as lágrimas cobrirem meu rosto, minha cabeça doía e eu sentia um aperto forte no coração, um silêncio se instalou ali e eu levei meus olhos até as íris castanhas. — Por quê? – saiu quase num sussurro tendo minha voz falha.

Ele manteve seu silêncio com o olhar distante, eu me desviei de seu corpo que estava no meio da passagem da porta, passei as mãos pelo cabelo antes de suspirar e pegar minhas chaves. Não podia aguentar mais um instante em tal ambiente, aquela atmosfera estava acabando comigo, então peguei minhas chaves indo até meu carro.

— S/n! – escutei a voz de meu pai gritar porém ignorei, eu tinha que fazer aquilo, eu precisava pensar sobre. — S/n! Você não vai a lugar algum! – ele exclamou enquanto eu saia com o automóvel da garagem.

Logo dei partida o mais rápido possível dali deixando para trás a figura do homem, peguei meu celular e disquei o número de minha namorada. Eu sabia que era errado falar ao celular no trânsito mas não fiz muita questão de seguir a lei naquele momento de tensão.

— Alô? – a voz da latina soou do outro lado da linha denunciando que ela estava dormindo.

— Camila. – eu disse sentindo meus olhos arderem em lágrimas. — Eu... Você pode me encontrar? Eu apenas preciso que você venha me encontrar, por favor... – apertei o volante com uma das minhas mãos livres mordendo o lábio inferior, estava tentando segurar com todas as minhas forças a vontade de chorar.

— Você está me assustando, o que aconteceu? S/a, você está bem?

— Por favor, apenas venha até mim. – eu disse e desliguei a chamada desabando em lágrimas, a sensação de impotência era inevitável, eu praticamente vivi uma mentira. Todos esses anos, tudo o que eu sei ou pelo menos sabia, sobre minha mãe eram apenas mentiras medíocres.

Então fui desperta de meus pensamentos por uma buzina alta e um grito repreensivo de um homem, virei o carro com brutalidade antes que um acidente acontecesse.

— Comprou sua carteira de motorista? Louca! – a voz do motorista soou e eu ignorei voltando minha atenção ao volante.

Era quase madrugada então haviam poucos estabelecimentos abertos, decidi parar num parque qualquer. Me sentei na grama fitando o céu, as estrelas não estavam visíveis deixando o mesmo completamente "limpo" e mandei uma mensagem para Camila dizendo sobre minha localização. Eu apenas precisava disso, um espaço para pensar e me reencontrar no caos em que minha mente se encontrava.

n/a: sentiram saudades de good girl?

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