out of head

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— E você? Me am-

— Srta. Cabello? – uma das empregadas chamou por Camila e ela engoliu em seco soltando nossas mãos rapidamente, desviei meu olhar para o chão e suspirei. — Seu pai solicita sua presença. – me lançou um último olhar como quem não quisesse sair daquela atmosfera.

De fato, eu também não queria sair daquele momento.

Eu estava completamente perdida, minha mente estava mais desorganizada do que nunca estivera mas eu havia o doce toque de seus lábios, eu havia suas juras e suas três palavras.

Camila me amava.

Um sorriso casto se formou em minha feição devido aos meus devaneios, não queria desviar meus pensamentos da garota mas eu precisava fazer aquilo, então caminhei pelo extenso jardim até chegar em uma fonte de estrutura clássica. Me assentei na mesma e respirei fundo buscando coragem em meu interior para tal, segurei o caderno na ponta dos dedos sentindo a textura do couro de sua capa e o relevo dos dizeres ali gravados. Enfim abri o mesmo e duas fotos antigas se revelaram, a primeira continha eu e os meus pais com sorrisos que estampavam felicidade, estávamos em uma praia, eu deveria ter uns quatro anos e vestia um maiô amarelo enquanto minha mãe um biquíni azul, radiante e simplesmente linda. Meus olhos se encheram de lágrimas pois ainda tinha resquícios de memórias da mulher exatamente assim.
A segunda era uma foto minha, mas recém nascida atrás tinha minha data de nascimento e os dizeres:

"o dia em que todas as coisas fizeram sentido"

Senti meus sentidos falharem mas permaneci firme, então prossegui.

Abril, 2004.

Por diversas e diversas vezes ao dia eu penso sobre as sombras e as vozes que me perseguem, por onde quer que eu vá, elas me perseguem. É uma maldição que carrego em meu peito, me visto em sorrisos para esconder a dor que me corrói, mas então toda o sofrimento se dissolve em amor quando a vejo.
Razão de todas as coisas boas existentes no universo, a verdadeiramente digna do amor. Ah minha pequenina filha, a cada dia mais você se torna o motivo de minha existência, me permito viver num mundo cheio de podridão por você e para você.
Então durma pequenina, serena e tranquila. Estarei aqui quando acordar ou ao menos, tentarei estar.

Sua mãe te ama incondicionalmente.

— Elizabeth

Respirei fundo, eu apenas queria abraça-la mais uma vez e dizer que estava tudo bem e que eu a amava também.

  Outubro, 2004.

Nossa casa cheira a carvalho, eu odeio estar aqui mas não odeio minha filha. Oh céus, como eu poderia odiar minha pequena? Jamais, eu digo que ela é a dona das melhores risadas e gracinhas de bebês, os outros bebês são bobos mas ela não. Ela consegue concentrar todas as coisas ingênuas, adoráveis e boas em si.
Mas
Mas
Mas eu ainda odeio este lugar
Mas
Mas ainda me pergunto o quanto falta para eu alcançar o delírio.
Acredito que não muito pois ando tomando muitos remédios, eles me deixam felizes temporariamente e tenho medo do que pode acontecer quando eu não tive-los e minha filha estiver perto de mim.

Eu morro cada vez que penso nessa possibilidade.

— Elizabeth

Então tinha mais uma página avulsa, um exame onde constava os problemas psicológicos muito além de depressão da minha mãe, ela tinha esquizofrenia? enxerguei as lágrimas fechando o livro com violência. Respirei fundo antes de sentir meu corpo perder o equilíbrio por breves instantes e minha pressão cair, continuei assentada tentando assimilar a situação, talvez as coisas façam mais sentido quando eu encarar quem esteve presente em todo esse processo.

Eu iria conversar com meu pai. 

Afinal, eu não poderia simplesmente viver na casa de Camila a vida inteira fugindo disso, eu queria respostas, queria finalmente saber o que de fato aconteceu e eu só conseguiria isso enfrentando o mesmo. Soltei o ar de meus pulmões me sentindo melhor, me levantei e fui em direção a casa principal. Enfim quando cheguei, me aproximei dos donos das vozes no hall de entrada, avistei Harry e Hailee e não consegui conter o sorriso.

— Você quer matar a gente do coração? – a garota disse me puxando para um abraço apertado.

— Desculpa. – eu disse baixo quando a mesma me soltou.

— Eu não sabia se queria ficar sozinha mas eles não paravam de me mandar mensagem. – a latina deu uma leve risada me abraçando de lado.

— Isso definitivamente deixou meu dia melhor. – respondi beijando sua bochecha. — Eu preciso tirar minha cabeça um pouco disso. – eu disse me referindo a tudo o que estava acontecendo.

— Saiba que estaremos aqui S/a. – Harry fez um carinho em meu ombro dando um sorriso casto onde suas covinhas se revelaram.

(...)

Pela tarde saímos, fomos a um shopping onde Harry e Camila insistiram em ir fazer compras. É cômico pois me lembrei da primeira vez que saí com a latina, ela não havia mudado nada, ainda tinha a mesma expressão de animação e histeria com suas possíveis novas bolsas e sapatos. Por outro lado, eu e Hailee estávamos completamente entediadas esperando as "madames" pois queriam nossa opinião.

— Acha que eu fiquei com cara de "passiva desesperada" ou "gay padrão"? – o garoto perguntou experimentando uma de suas combinações.

— Eu acho que essa calça vai rasgar se  você se abaixar. – comentei arrancando risadas de minha amiga porque de fato, sua calça estava muito justa.

— Ridícula, isso é sério. – comentou analisando sua bunda no espelho.

— Hm. – Hailee fitou o amigo e fez uma expressão pensativa. — Gay padrão, a camisa social deu esse ar-

Então eu me levantei e fui até a cabine onde Camila estava, ela estava demorando demais.

— Precisa de ajuda? – eu disse.

good girl | cc + youOnde histórias criam vida. Descubra agora