CAPÍTULO 18

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RODRIGO

A minha semana começou bem, mas tudo desmoronou. Certa noite, mais precisamente na sexta-feira, havia saído com a Fernanda, depois de ter passado o dia inteiro com as candidatas a serem a Luna, e acabei bebendo muito. Mais do que eu podia. Estava fora de mim quando cheguei no meu apartamento sendo carregado pelo motorista do uber.

Cheguei jogando o sapato longe e caindo no sofá, percebi a figura pálida, com olhos castanhos e o cabelo preto, me olhando assustada.

Gesticulei os braços para cima enquanto falava: - Bebi? Sim, bebi. Estou bêbado? Provavelmente! Sou perigoso nesse estado?

Ela ainda estava parada no corredor me olhando. Eu não lembrava mais o que disse, então decidi dormir ali mesmo. Helena havia limpado todo o apartamento e já estava de saída. Abri um olho enquanto tirava o seu pagamento da carteira, mas não consegui focar em entregar a ela, deixei o dinheiro no meu peito e apaguei.

Acordei no dia seguinte com algumas mensagens no meu celular e um remédio na mesa da cozinha com água. O dinheiro ainda estava no meu peito. Precisaria ir até a padaria pagar a garota pela limpeza. Tomei um banho gelado e mesmo com o remédio, a ressaca seria feia. Li a única mensagem que chamou a minha atenção, era do Henrique dizendo para eu ir no escritório na próxima quarta-feira. Aproveitei para mandar mensagem às meninas avisando que hoje eu não iria acompanhá-las no treinamento, teríamos um dia de folga.

Desci apressado até a padaria, mesmo sendo hora do almoço. Quando entrei, a pequena menina abriu um sorriso a agarrou as minhas pernas.

- Oi Naty, tudo bem?

Seus olhos azuis brilharam em minha direção - Tio "Rotico", a mamãe "compo" essa "sandaínha" linda.

Suas palavras infantis de alguém que aos poucos aprendia a falar, a deixava ainda mais fofa. Ela sentou em uma cadeira e levantou os pés. Era uma sandália fechada rosa com muito brilho. Ela estava radiante com aquilo.

- Você é uma princesa.

Ela concordou muito confiante. Correu até a mãe que atendia um cliente, informando-a que eu cheguei. Helena virou em minha direção e sorriu com muita compaixão.

- Desculpa por ontem. Eu estou envergonhado. - Disse admitindo a minha fraqueza.

- Eu quero te ajudar senhor Rodrigo. Só me diga o que eu posso fazer.

Ela tinha uma sinceridade tão grande, que eu quase desabafei toda a minha vida ali mesmo, na frente de uma porção de estranhos.

- Aqui seu dinheiro pela faxina de ontem. Não esquece, só Rodrigo, ok?

Ela pegou e agradeceu. Eu saí da padaria rumo á praia, precisava esfriar a minha cabeça e curar a ressaca.

🎶

A quarta-feira chegou, e eu procurei me manter sóbrio o máximo que consegui. Não vi Helena nesses dias e posso admitir que senti falta da pequena Natalia. Procurei evitar as ligações da Fernanda, que agora separada do namorado, estava louca para ter compromisso comigo.

Cheguei cedo no escritório Pottier e passei como uma bala para o elevador, evitando olhar para Fernanda que também tinha acabado de chegar e estava ligando o computador.

Ao entrar na sala do Henrique, já fui relatando os últimos acontecimentos da semana.

- Qual das duas tem mais disposição para mentir?

Ele me perguntou muito sério. Precisávamos em pouco tempo escolher qual das duas garotas seria a Luna.

- A Jaqueline tem mais coração, é mais bondosa. Infelizmente ela mente muito mal. Já a Raquel, é fria, mas mente de uma forma que convence qualquer um.

Deixamos combinado que faríamos mais testes até ter a escolhida. Antes de ir embora, conversei sobre mais um assunto.

- Henrique, gostaria muito de um favor pessoal. Eu conheci uma garota que vive com a filha de favor. Trabalha o dia inteiro em uma padaria no meu bairro, para comer e ter onde morar. Mas toda noite faz faxina em apartamentos. Gostaria de pedir, se possível, que a contratasse para trabalhar aqui de noite. Seria menos tempo de trabalho e não ficaria tão cansativo.

- Falarei com a Danielle sobre o assunto, ela trabalha com os contratos de nossos funcionários. Se ela concordar eu a contrato. Farei todo o possível. - Ele respondeu apenas casualmente, parecia muito mais preocupado com outras coisas.

Me dei por satisfeito e nos despedimos. Quando saia da sala, me deparei com uma mulher de cabeça baixa. Seus cabelos negros estavam amarrados. Ela entrou e fechou a porta.

- Amanda. Está tudo bem?

Eles conversaram por um breve momento, eu pensei várias vezes em sair da sala, mas não queria interromper.

- Esse é o Rodrigo. Ele é detetive particular. Cuida de alguns casos para o escritório.

Eu entendi que Henrique não podia mentir, em três semanas apresentaríamos Luna e ele diria que eu a achei em investigações particulares.

Apertei de leve a mão da mulher, muito magra e macia. Ela estava me olhando de uma forma diferente e a sua expressão corporal indicava que havia uma luta interna entre falar algo para mim ou não. Por fim, ela decidiu.

- Henrique, pague o que esse homem pedir. O contrate para achar o corpo da nossa filha.

Henrique estava assustado. Mas ela me olhou ainda mais determinada e disse: - Se achar o corpo da minha filha, morta por um serial killer, você será um homem rico. Henrique te passará todo o caso.

E sem mais conversas, ela saiu com duas mulheres a acompanhando.

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