CAPÍTULO 30

250 69 35
                                    

RODRIGO

Precisava da Helena como nunca antes precisei de alguém.
Caminhei muito durante a noite e tive várias oportunidades de sentar em um bar qualquer e me afundar em bebidas. Doía muito ver a Bianca depois desses anos e saber o que ela fez com a vida dela. Eu precisava de um tempo longe de tudo isso, mas me surpreendi pensando apenas na Helena. Eu e Bianca ficamos juntos por tantos anos e eu a amei com todas as minhas forças, então era uma grande surpresa que mesmo depois do seu retorno, eu pensasse na Helena.

Aquele beijo.

Aquele beijo doce. Eu ainda podia sentir o toque delicado dos seus lábios nos meus.

Olhando para a noite nublada, senti uma onda de arrepios passearem no meu corpo, recordando desse nosso momento.

Prometi a mim mesmo não me envolver com ela, seriamos apenas amigos. Mas eu não consegui me controlar, cada pedaço de mim e da minha própria vida pertenciam a essa morena.

"Não posso continuar vagando, preciso fazer algo útil". Voltei para casa. Mas não dormi. Bianca estava na minha cama e dormia um sono muito pesado, fiquei então na sala e fiz no meu quadro branco de investigação uma encruzilhada de informações.
Sabia o que fazer e quem procurar ajuda. Passava das 3 da manhã quando fiz uma ligação.

- Gonçalves? O que quer? Está muito tarde!

- Matias, preciso da sua ajuda. Venha até o meu apartamento. Rua das Oliveiras, edifício Boing II, apartamento 57.

Desliguei o telefone sem esperar sua resposta, pois sabia que ele viria. Resolvi tomar um banho e vestir algo mais confortável do que um terno. Entrei no único quarto do apartamento e sem fazer barulho abri meu guarda-roupa e peguei uma camiseta, short jeans, cueca e um chinelo.

- Rodrigo!

O quarto estava muito escuro, mas logo uma luz fraca do abajur foi acesa, olhei para trás abraçado com as minhas roupas e vi Bianca. Ela com dificuldades, em decorrência da gravidez já avançada, sentou na beirada da cama.

- Volte a dormir, amanhã conversamos. - Respondi com um sussurro.

Ela concordou com a cabeça e deu um longo bocejo: - Desculpa, estou muito cansada. Faz tempo que não tenho uma noite de sono em paz como essa.

Comecei a sair do quarto, mas decidi avisar: - O Matias está vindo. Mas volte a dormir, preciso conversar com ele em particular.

- Tudo bem. - Ela deitou na cama e se cobriu. - Que bom que você e o Matias ainda são amigos!

No banho eu pensei muito sobre a sua afirmação. Deixei uma deliciosa água quente percorrer o meu corpo e refleti um pouco.

Quando entrei para a polícia, fui acolhido pelo Delegado Matias. O que começou com uma camaradagem no trabalho, se transformou em uma grande amizade.

Lembro que logo que descobrimos que a Bianca estava esperando a nossa primeira filha, Yasmin, o convidamos para ser o padrinho. Ele aceitou muito emocionado. Nossa amizade ficou ainda mais intensa. Quando perdemos nossa bebê, ele estava lá para me apoiar. Quando Bianca me deixou, Matias continuava lá para me apoiar. Mas então os dias passaram e eu fiquei cada vez mais violento no meu trabalho. Descontava toda a minha dor naqueles que provocavam dor a outros. Levei advertência e respondi um Processo Administrativo Disciplinar.

Mas a gota d'agua foi em uma investigação. Era um estuprador de crianças, pedófilo desgraçado, já tinha atuado em três estados e agora estava no Rio de Janeiro. O achamos em uma mata estuprando mais uma vítima, uma garotinha de doze anos. Ele tinha acabado de cometer o ato. O cercamos. Estávamos preparados para prendê-lo em flagrante delito. Conversei com os meus colegas policiais e eles cuidaram da garotinha, prestando os primeiros socorros, enquanto eu estava encubido de levar o estuprador até a delegacia.

Tive a oportunidade que queria. 5 km dali eu parei a viatura, o retirei do carro. As próximas três horas eu o torturei. Nos encontraram rastreando a viatura. Matias estava com os outros policiais. Todos os amigos, amenizaram para mim. Fui exonerado, mas não respondi criminalmente. Eles me cobriram. Depois disso pouco vi ou conversei com Matias.

Já vestido, passei um café e abri uma embalagem de torrada. Havia na geladeira um patê de azeitona e eu arrumei em uma vasilha. Logo a campainha tocou e eu abri.

- Rodrigo, que bom que me procurou.

Matias me abraçou e eu sem recusar, o abracei de volta.
Sentamos e eu ofereci o lanche que foi bem aceito.

- Bianca está aqui!

Creio que disse na hora inapropriada, Matias engasgou com o café.

- O quê? Não acredito... Rodrigo... Ela voltou para você?

Passei um tempo atualizando ele de todos os acontecimentos, o que incluía Helena.

- Foi bom você ter me chamado meu amigo. Sei que é difícil lidar com a volta da Bianca e se ver apaixonado por uma amiga.

- Sim. - Concordei entre um gole e outro de café. - Mas te chamei aqui por outro motivo.

Ele se ajeitou no sofá e me encarou um tanto sério: - O que precisar!

- Desculpa te procurar tão tarde. - Nesse momento eu não sabia se me referi ao fato de ser de madrugada ou de ter o procurado depois de tantos meses. - Mas preciso da sua ajuda em uma investigação.

Ganhei a sua total atenção com as minhas próximas palavras: - Fui contratado para investigar sobre A Nota.

- Meu Deus Rodrigo, isso é grande.

Concordei com um aceno e continuei: - O Dr Figueiredo, Delegado Civil de homicídios está comigo investigando. Vou passar tudo o que temos se você decidir participar.

Matias ficou em pé. Com a ação inesperada eu comecei a me preparar para ouvir a sua recusa, mas esta não veio.

- Estou de plantão e em algumas horas faremos uma batida policial. Preciso ir em meia hora, então me conte tudo o que temos.
Sorri em agradecimento e me levantei. Virei o quadro branco que antes estava para a parede e começamos a trabalhar.

🎵

Ter Helena nos meus braços foi maravilhoso, sentir a sua pele, o seu toque, o seu beijo, tudo isso me preencheu.

Em um instinto mais selvagem, eu desejava cada parte do seu corpo e me deliciei com essa experiência.

Estávamos na sala nos preparando para descer, mas antes ela me fez um pedido inusitado.

_ E se eu for a Luna? Eu preciso saber.

Helena dizia enquanto segurava a minha mão. Eu a girei para ficarmos frente a frente e disse: - Você acha que é a Luna? Ou você quer ser a Luna?

Helena pensou por um momento e respondeu: - As duas coisas. Eu quero ser a filha daquela mulher. Pois quero receber aquele abraço todos os dias da minha vida. Mas também quero saber sobre o meu passado.

- Assim faremos, vou pesquisar sobre seu passado também - Eu disse depositando um beijo calmo nos seus lábios, naquele momento eu não podia falar sobre o teste de DNA, pois eu não sabia se ele já tinha saído. "E se a verdadeira Luna estiver viva? E se ela for Helena?" Pelo que sabia era possível. Helena passou boa parte da vida sendo criada pela família do marido. Mas uma fina findou minha torrente de pensamentos.

- Tio "Rotico".

Natália correu escada acima. Nos afastamos rapidamente e a esperamos ela chegar. Ela carregava o meu celular que eu tinha deixado na mesa da padaria. Quando eu atendi, era o Henrique.

Ele estava com a voz baqueada. Me pediu o endereço da padaria para falar com a Helena, pediu para que eu falasse com a Raquel sobre as suas atitudes e também para que continuasse com as investigações sobre o serial killer.
Resolvi não dizer que eu já estava no caminho da investigação, não podia dar esperanças a um homem tão sofrido. Dei um beijo na bochecha da minha princesinha e da Helena e fui até o apartamento da Raquel.

A Canção Perdida ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora