CAPÍTULO 11

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HELENA

Após a organização e limpeza da padaria, Maristela abriu as portas de vidro da padaria e me entregou um bloquinho.

- Helena é só anotar os pedidos e me entregar. Aqui é um pouco movimentando, mas daremos conta. Pegue essa garrafa térmica e pergunta se os clientes aceitam café e sirva-os.

Eu olhei ao redor, já havia 10 pessoas.

- Eu não sei escrever e nem ler.

Disse em um sussurro morrendo de vergonha.

- Desculpa eu não ouvi. - Disse ela apontando para um aparelho que estava em seu ouvido. -Diga um pouco mais alto.

Eu me aproximei e repeti: - Não sei ler e nem escrever.

Ela me olhou com muita tristeza. Sentia meu rosto queimando, mesmo conhecendo ela havia pouco mais de uma hora, me importava com ela e queria agradá-la.

- Para tudo tem um jeito, menos para a morte. - Ela disse exibindo um sorriso gentil para me tranquilizar, havia algo nessa senhora que me transmitia paz - Se acalma minha menina, vamos resolver.

Eu agradeci muito. A saída que achamos foi a Natália escrever as letras iniciais no bloco enquanto eu atendia o cliente e perguntava o que desejava.

Maristela disse que quando a padaria fechasse me ensinaria que cada pedido seria um número e com o tempo eu aprenderia as letras iniciais. Os números eu sempre conheci muito bem.

- Querida deixa que esse senhor eu atendo.

Maristela saiu da cozinha e ajeitou os cabelos. Havia um senhor que acabou de chegar, estava em uma mesa mais próxima da cozinha e olhava para ela com muito carinho. Em pouco tempo ela me chamou.

- Helena venha conhecer meu namorado. Esse é o Antônio Joaquim. Meu amor essa é Helena e a sua filha Natália. Estou dando abrigo a elas.

O senhor tinha um olhar muito meigo. Apertou a minha mão e da Natália com muita delicadeza.

_ Se precisar de qualquer coisa, pode me pedir. Quero muito ajudar você e a sua filha.

Na minha atual circunstância, não podia desperdiçar nenhuma oportunidade. Pensei um pouco e respondi: - Se não for pedir muito e abusar da boa vontade sua e da Dona Maristela, gostaria de pedir para os senhores me indicarem para fazer faxina. Sou muito caprichosa e como não sei as letras, não consigo outro trabalho. Posso limpar as casas dos senhores de noite e ajudar a Dona aqui de manhã e de tarde.

Eles se olharam e ele logo respondeu: - A minha casa não precisa de faxina por uns dias, mas hoje um inquilino do meu prédio veio me pagar o aluguel logo cedo e perguntou se eu conhecia uma diarista. Vou te indicar.

Fiquei muito grata. Precisava juntar dinheiro e comprar roupa para a minha filha. Ela estava com um chinelo muito antigo que não servia direito e suas roupas estavam muito pequenas.

O dia passou tranquilamente, nunca me senti tão bem na vida.

Estava anoitecendo quando o senhor Antônio me chamou. Dona Maristela quis ficar com Natália em sua casa que ficava em cima da padaria. Comi mais um pão rapidamente e acompanhei o querido senhor.

Chegamos até um prédio azul e pegamos o elevador.

- Até um tempo atrás, eu sempre subia de escadas, mas já estou com 70 anos, né.

Ele disse, se divertindo e me fazendo rir. Saímos do elevador e paramos em uma porta.

- Aqui está a chave do apartamento. O senhor Gonçalves chegará daqui a pouco, mas você já pode começar. Ele comprou itens de limpeza... - Ele parou por um instante e fez uma expressão de nojo. - Mas já te adianto que deve ter um gambá morto ai dentro. Nunca quis entrar para não me desesperar.

Ele me abraçou e foi para o seu apartamento. - Boa sorte. - Disse com sinceridade, enquanto se despedia.

Fiquei parada na porta por dois minutos e decidi encarar. Precisava muito daquele dinheiro. Quando eu entrei, constatei que o Seu Antônio fez bem em nunca entrar no apartamento.

Peguei três sacos grandes de lixo e joguei tudo que via lá dentro. Joguei no sofá itens que deveria guardar. Abri as janelas para ventilar.

Seria uma longa noite.

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