CAPÍTULO 27

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HELENA

- Faxineira, eu sem querer quebrei um copo. Venha limpar.

Eu estava tirando o lixo da sala de um dos advogados quando ouvi Raquel na porta me chamando. Apenas balancei a cabeça afirmando que iria. Entendi que ela queria me diminuir, só não entendi o motivo. Ainda assim, sou uma faxineira e o meu trabalho é limpar. Então fui até a dispensa e peguei um pano e uma caixinha vazia para colocar os cacos de vidro para porventura não machucar as mãos dos lixeiros que recolhessem esse lixo depois. Me dirigi a sala.

A conversa estava animada, mas enquanto eu limpava, percebi que o clima ficou pesado. Olhei de canto de olho para porta, ainda recolhendo os inúmeros cacos pequeninos de vidro e notei a presença de uma figura pequena na porta. Era uma mulher, não reparei em detalhes físicos, mas logo ela estava atrás de mim.

Levantei com a caixinha cheia de cacos na mão e passei o pano secando a água, percebi que a moça ainda estava atrás, então eu me virei e abri um sorriso para recebê-la. O que aconteceu depois, jamais havia imaginado.

Pois, quando fiz menção de sair, a mulher gritou um nome: - LUNA!

Era um grito de pânico e sem muita reação da minha parte, ela me abraçou e me fez sentar no chão com ela. Me ninou no seu colo e afagou os meus cabelos, cantarolando melodias e prometendo que nada de mal iria me acontecer.

Fiquei completamente perdida e confusa, me senti absolutamente desconsertada, pois aquele toque tão suave e carregado de amor me fez chorar. Eu parecia um bebê no colo de uma mãe. Mãe esta que eu nunca tive, fui criada por um pai bêbado que constantemente me batia.

Henrique parecia nervoso e puxou a mulher que me aconchegou nos braços, cuspindo palavras de ordem e dizendo que Raquel era a filha deles. Que ele tinha absoluta certeza disso. Eu estava envergonhada com toda aquela situação e com o meu choro descontrolado, olhei para Rodrigo pedindo ajuda. Ele me deu a mão e com muita delicadeza me ajudou a levantar. Todos estávamos agitados e concordamos que aquela conversa terminaria ali e que Rodrigo cuidaria de mim.

Estava zonza com tanta informação desencontrada. Em pouco, tempo me vi novamente no carro do Rodrigo, pois fui dispensada sem nem ao menos terminar a faxina. A impressão que deu foi que Dr. Henrique não iria mais me queria ali.

- Quem era aquela mulher? Por que ela me chamou de Luna? Por que o Dr Henrique está tão bravo comigo? - Comecei a disparar perguntas ao Rodrigo enquanto ele dirigia para a padaria.

- Vou te contar tudo Helena, mas por favor pare de chorar, isso está me destruindo.

Vi que suas palavras eram verdadeiras. Consegui controlar o choro quando chegamos na rua de casa.

- Vamos para o meu apartamento, não quero que a Naty te veja assim. - Ele disse já virando o carro na sua garagem, concordei de imediato.

Subimos ainda quietos para o apartamento, que estava bem diferente de quando eu conheci. De fato a vida dele estava mudando. Sentei no sofá e ele fez um chá de camomila. Comecei a beber e ele sentou do meu lado.

- Quase trinta anos atrás existiu aqui no Rio de Janeiro um Serial Killer que se intitulava como A Nota. Ele começou o seu trabalho cruel pegando meninas de 2 a 4 anos de idade, de noite e em suas camas e deixando apenas um bilhete preto com uma nota musical em branco. Houveram muitas investigações, mas sem nenhuma resposta. Ele era cuidadoso. Com o tempo, os investigadores não tinham mais esperanças que tais crianças estivessem vivas. Aquela mulher que hoje você conheceu, se chama Amanda. Ela é esposa do Dr Henrique e a filha deles, Luna, foi a última menina a ser levada. Isso já faz 19 anos. Com o mesmo modus operandi. Raquel veio até nós após as investigações que eu fiz. Acreditamos que ela é a filha deles. Mas por algum motivo desconhecido, Amanda se afeiçoou a você e entende que você é a Luna.

Rodrigo parou por um instante, levantou e pegou na mesa de jantar uma garrafa pequena de whisky e despejou o conteúdo em um copo.

- Me desculpa, Helena, não posso te dizer mais nada, pois não sei o motivo da Amanda ter feito isso. Só sei que minha cabeça parece que vai explodir.

Conheci o Rodrigo mês passado, mas nesse pouco tempo, nos tornamos amigos. Eu sabia que ele escondia algo, mas também sabia que ele só diria no tempo certo.

Levantei do sofá e tirei o copo de suas mãos. Coloquei na mesa e o puxei para um abraço. Enquanto ele me alinhava no seu corpo, eu disse: - Não volte a beber, você não precisa disso.... Você não está mais sozinho. Maristela e Seu Antonio te amam como um filho, Natália é apaixonada por você.

Continuamos abraçados quando ele me perguntou: - E você? O que sente por mim, Helena?

Dei um pequeno espaço entre nós e olhei nos seus olhos, estavam escuros como a noite e muito indecifrável.

- Eu sinto que você é um anjo na minha vida. Sinto também que a cada dia que passa, eu me apaixono mais e não sei o que fazer com esse sentimento.

Fechei os olhos, pois estava envergonhada de tal confissão. Ele passou os dedos no meu rosto e colocou uma pesada mecha negra de cabelo para trás. Não tive coragem de abrir os olhos. Logo em seguida, senti uma delicada pressão nos meus lábios.

Era uma boca macia que me beijava com carinho. Dei passagem para o nosso beijo ficar mais intenso. Ele apertava levemente a minha cintura e me levava para mais perto.

Tivemos que parar.

Não por quê queríamos. Mas porque fomos pegos de surpresa. A porta do apartamento abriu e ambos olhamos assustados. Uma mulher de cabelos castanhos e olhos verde estava parada na porta. Do seu lado havia uma mala. Ela sorriu para nós e disse:

- Deveria ter avisado que estava a caminho.

Eu olhei para o Rodrigo buscando alguma informação, mas as suas mãos estavam trêmulas. O seu rosto estava vermelho e apenas uma palavra saiu da sua boca e fez toda aquela noite acabar de vez.

- Bianca!

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