CAPÍTULO 29

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HELENA

- Mamãe, o tio "Rotico" tá aqui e tá "chamanto".

Quando consegui dormir, sonhei com a Amanda. Estávamos em um metrô, aqui no Rio de Janeiro e eu tinha uns quinze anos. Estávamos de mãos dadas e uma torcida organizada passou por nós. Eles gritavam palavras de ordem e xingamentos. Fiquei tão impressionada com tanta gente de uma só vez, que não percebi que havia soltado a mão dela. No sonho, eu comecei a chorar como uma criança e correr de um lado para o outro gritando "mamãe". As pessoas em minha volta pareciam não me notar e isso me desesperou mais. Em algum momento do sonho, eu consegui acha-la. Amanda estava sentada no chão sujo, agarrando as próprias pernas e gritando histericamente. Eu abaixei e a abracei para demonstrar que eu estava ali, mas ela só sabia gritar "minha Luna, eu a perdi". Acordei com essas palavras ecoando pelo quarto.

Foi uma manhã difícil, estava mergulhada em pensamentos estranhos. Dona Maristela veio me ajudar, pois disse se sentir mais disposta. Seu Antônio tomou o seu habitual café da manhã, levando margaridas em um buquê e depositando em cada mesa uma flor para alegrar o ambiente. Naty estava mais agitada que nunca, através do método de alfabetização fônica, que era ensinado na escola, para ela aprender a ler.

A manhã se arrastou e a todo momento eu olhava para a porta esperando alguém aparecer. Seja Rodrigo, mostrando que estava sóbrio e que lidaria com a situação da Bianca com tranquilidade, seja Amanda, pra me dar aquele abraço tão caloroso novamente.

Só no almoço, Rodrigo apareceu com Bianca e sentaram em uma mesa, logo em seguida, Naty veio me chamar. Karol estava atendendo, mas eu cheguei ao seu lado e disse: - Pode deixar que eu atendo.

Ela foi para outra mesa, sem nem questionar, pois eu já havia atualizado ela, sobre o que tinha acontecido ontem. Como era o horário do almoço, apresentei o cardápio:

- Bom dia, bem vindos. Servimos almoço nesse horário, hoje o prato é peito de frango ou carne com as guarnições de arroz, feijão, legumes cozidos no vapor e salada fria.

Rodrigo estava de cabeça baixa, eu sabia que ele estava de ressaca. Bianca me olhou gentilmente e disse: - Vamos preferir o de frango hoje e quando tiver um tempinho, já que aqui está lotado, venha conversar com o Rodrigo, ele precisa falar com você.

Concordei aflita. "O que será que ele vai me dizer?" Ofereci suco de laranja, e ambos aceitaram. Após eles almoçarem, consegui um tempo para retornar na mesa e conversar com o Rodrigo.

Naty estava sentada na mesa deles dividindo um bolo de chocolate com a Bianca.
"Danadinha! Não perde a oportunidade de comer doces." Rodrigo me olhava com uma expressão indecifrável.

- Oi, sempre comendo bolo, né mocinha?

Naty deu um sorriso com a boca suja de chocolate e eu sorri de volta.

- Sua filha é incrível. Super doce e inteligente. - Elogiou Bianca e Naty depositou um beijo de chocolate em sua bochecha.

- Ela é incrível mesmo, mas não para de comer doces. Não sei mais o que fazer - Coloquei as mãos no rosto para sinalizar desespero, mas fez elas rirem ainda mais.

- Mamãe, a tia Bianca ta com neném na barriga, óia.
Ela levantou a blusa de Bianca na frente de todos.

- Filha, não pode tirar a roupa das pessoas.

Bianca ria divertida: - Deixa ela.
Essa mocinha é a minha mais nova melhor amiga.

Não é preciso dizer que a Naty ganhou o dia, foi a deixa para ela correr e pegar mais chocolate para ambas comerem.

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