CAPÍTULO 65

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AMANDA

Acordei durante a madrugada, mais uma vez aquele terrível sonho me assombrou. Sequei o rosto molhado e olhei para o lado, ela estava ali, abraçando e suspirando em um sono tranquilo. Segurei o seu pequeno rosto e alisei sua bochecha rosada. Ela se aconchegou dos meus braços e eu pude trazê-la ainda mais perto. Seus cabelos caíram no meu colo e eu senti aquele cheirinho de bebê tão inconfundível. Molhei-os com as lágrimas que teimaram em cair. Foi só um pesadelo. Mais um sonho ruim que tive com a minha pequena Luna. Novamente ela estava sendo enterrada em um lindo jardim. Mas dessa vez, quando eu acordei, eu tive um bebê nos meus braços para consolar essa dor.

Abracei novamente a pequena criança e sussurrei no seu ouvido: - Naty, eu nunca deixarei ninguém fazer mal a você. Eu te amo.

Passei um longo tempo acordada, sabendo que ainda era noite. Olhei ao redor, o quarto de Luna tinha mudado. Foi necessária essa mudança, já que agora era o quarto da Natália. Pintamos o quarto de rosa, mudamos os móveis e toda a decoração. Estávamos dormindo na caminha, pois eu não conseguia dormir no quarto com o meu marido. A sua mentira foi muito grave, mas eu ainda não tinha forças para decidir o futuro do meu casamento. Maristela faleceu, e com essa perda a Helena não conseguia lidar. Meu coração estava em luto por ela, mas também doía muito quando eu lembrava de Raquel. Ela mentiu, me enganou em troca de dinheiro. Me fez acreditar que era a minha filhinha perdida..., mas ela salvou a vida da Helena e achou Natália.

Talvez o motivo da minha insônia era sobre o perdão. Não sabia se eu poderia perdoar Raquel, mas eu precisava tentar. Devia isso a ela, como uma gratidão depois de arriscar a sua vida. Foi um gesto altruísta, talvez o único que havia visto surgir dela. Então, sem conseguir mais ficar parada, levantei-me com todo o cuidado para não acordar Naty.

Olhei para a cama que havíamos colocado ali para Helena dormir junto. Ela estava quieta, não sei se dormindo ou tentando dormir. Mas não fez nenhum movimento quando eu abri a porta e fui em direção ao meu quarto. Entrei com muito cuidado, tentando não acordar Henrique. Mas ele estava sentado na cama, lendo um livro. Parei nesse momento e o encarei, não queria conversar. Depois de tudo o que ocorreu, talvez aquela fosse a chance de decidir sobre a nossa vida, mas eu não queria fazê-lo agora.

- Vou sair. - Disse, tentando ser direta. Peguei uma roupa no armário e fui para o banheiro. Ouvi que ele me seguia, mas não tentei pará-lo.

- Amanda, agora é duas da manhã. Onde pode ir esse horário? - Eu estava me vestindo apressada, tirando o pijama e colocando uma calça jeans e uma blusa sem manga. Notei que ele me observava.

- Não consigo dormir. - Pensei que essa resposta bastaria, mas ele continuava me encarando. Aqueles olhos que um dia me conquistaram, e que eu tanto via no olhar da Natália, estavam avermelhados. O baque dos últimos acontecimentos foi devastador.

- Vamos conversar, por favor. - Ele suplicou, tentando pegar na minha mão.

- Vamos sim, mas não agora - Eu disse após desviar do seu gesto. - Estou indo no hospital, está na hora de ver Raquel.

Nenhuma objeção. Henrique trazia informações diárias de Raquel, Helena também a visitava. Eu sabia que durante esses últimos dias, o seu estado de saúde teve picos críticos. Que ela quase morreu por diversas vezes, e que agora... já estável, conseguia permanecer acordada e estava se recuperando, mas teria marcas do espancamento. Henrique abriu passagem e eu saí de casa, chamei um motorista de aplicativo e informei o hospital.

Meu marido tinha transferido Raquel para o melhor hospital do Rio de Janeiro, e eu apoiei a sua decisão. Quando cheguei, pedi para ver Raquel, mas logo na recepção fui barrada. Não era hora de visitas.

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