CAPÍTULO 25

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AMANDA

- O que vocês fariam na minha situação? Vocês são pais! Se a filha de vocês estivesse ali, a um passo de distância, quase duas décadas depois do sequestro, quais seriam suas reações?

Doze horas depois de rever a minha filha, eu estava em reunião com o grupo de apoio A Canção Perdida.

Onde inicialmente 80 famílias, contando com a minha, participavam quinzenalmente. Hoje em dia, apenas trinta e dois familiares continuavam.

Assim, falávamos das nossas dores de perder nossas filhas, bem como da revolta de não haver nenhuma resposta.

Fabiane apertou levemente a minha mão. Todos queriam respostas, mas eu não era capaz de dar.

Sentávamos em uma roda, em cadeiras brancas com o símbolo de uma nota musical riscada no chão bem no centro.

- Não entendo Amanda, ela é realmente a sua filha? Foi através do detetive que contratou? - Jonas me perguntava aflito.

Resolvi recontar a história, pois minhas emoções influenciaram a narração. Me atrevi a segurar as lágrimas, respirar fundo e descrever para aqueles pais o que aconteceu.

- De fato o detetive Gonçalves investigou a fundo sobre A Nota. Ontem, no início da tarde, meu marido me telefonou. Disse que através das investigações, Rodrigo achou uma pista, de que talvez Luna estivesse viva. Posso confessar que meu coração quase parou nesse momento. Então ele continuou a falar e relatou que uma moça muito parecida com nossa filha foi encontrada e que estaria no seu escritório de noite.
Dei uma ligeira pausa para digerir todo o meu relato, e logo continuei: - De fato, quando cheguei no escritório, vi que a moça, Raquel, era muitíssimo parecida comigo. Exatamente como imaginávamos que Luna seria quase duas décadas depois de ser levada. Mas eu não senti... eu não senti... não senti...

Procurei me acalmar, mas já sentia que lágrimas tomavam conta da minha face e eu as deixei cair livremente. Analice pegou água fria e eu bebi. Consegui unir forças e continuar:

- Meu marido estava feliz, como eu não via a muitos anos. Ele estava de mãos dadas com a moça. Mas eu não consegui sentir que ela era nossa filha. Senti raiva, pois eu sabia que ela era...

- Uma impostora! - Rogério concluiu a frase afagando o ombro da esposa Matilda.

Pouco tempo atrás uma impostora tentou passar pela filha do casal, mas um teste de DNA revelou que não era a filha Alice. Logo a mulher de 27 anos confessou que queria uma vida tranquila com a fortuna daqueles pais desesperados.

- Nunca me senti tão feliz em ser pobre - Relatou Júlia se referindo as impostoras que já apareceram, apenas para as famílias ricas.

- Mas Amanda, se você não sentiu que era a sua filha, por que nos disse que Luna voltou? - Liane perguntava angustiada. Sua filha, Patrícia foi uma das primeiras a ser levada.

_ Acontece que no mesmo ambiente, agachada no chão, juntando os cacos de vidro de um copo quebrado, havia uma moça. Eu segui o meu coração e me aproximei. Quando ela se levantou, me olhou fixamente e abriu um largo sorriso. Ela é idêntica a minha mãe quando me teve. Reconheci nela eu mesma. Mas isso não foi tudo, sei que eu possuo características comuns, mas o seu cheiro era familiar. Coração de mãe não se engana, é ela. Minha Luna. Minha filha voltou.

Os presentes começaram a ter suas reações. Uns esboçaram felicidade, outros estavam esperançosos. Mas a maioria dizia que eu precisava fazer um teste de DNA o quanto antes e demonstraram certa incredulidade. Logo todas aquelas vozes foram silenciadas com a chegada de alguém que nunca antes compareceu a nossa reunião.

- Desculpe atrapalhar. - Henrique entrou em nossa roda e puxou uma cadeira, sentando ao meu lado.

- É um milagre Dr Pottier, sua filha voltou - Disse Rute muito emocionada.

- Sim. A felicidade mal cabe no meu peito. - Ele respondeu parecendo bastante cínico. - Vim buscar minha esposa para fazermos o teste de DNA. Tenho certeza que todos entendem que precisamos de uma confirmação.

Todos os presentes concordaram. Simone deu continuidade a reunião enquanto eu e Henrique dirigimos ao Laboratório Santa Clara. Chegamos em alguns minutos e a ansiedade de ver novamente a minha filha, já estava me consumindo.

Naquele dia após as gritarias de Raquel, que com muito rancor dizia ser a Luna. Henrique me puxou para longe da minha filha.

Após a minha filha chorar angustiada com toda aquela situação, decidimos nos recompor. Rodrigo prometeu que cuidaria da minha filha até o dia seguinte, quando faríamos o teste de DNA. Eu mal o conhecia, mas Luna disse que confiava nele. Ela me abraçou ternamente e prometeu que logo nos encontraríamos.

E agora estávamos no laboratório, na sala de espera, sentados em poltronas confortáveis, não tiramos os olhos da porta, pois a qualquer momento a nossa filha chegaria.

Mas quem chegou foi Raquel. Não consigo descrever o que senti quando ela chegou a me abraçou. Me chamou de mãezinha e começou a relatar tudo o que viveu até o dia de hoje. Posso tentar dizer que nojo era a palavra apropriada.

Raquel chorava dramaticamente, deixando o delineado pesado escorrer no rosto branco. Ela me apertava em um abraço sufocante. Sem mais aguentar aquela situação, a empurrei com força.

- Querida, o que pensa que está fazendo com a nossa filha? - Henrique me repreendeu duramente e ajudou Raquel levantar do chão.

- Ela não é a Luna. Cadê a minha filha Henrique? - Minha voz estava sem controle, emoções tomaram conta completamente.

- Eu sou a Luna! - Gritava Raquel histericamente.

- Você está ficando louca Amanda. Foi o uso de tantos remédios que te deixaram assim?- Henrique estava enfurecido. - Onde já se viu, uma faxineira ser a nossa filha! - Ele cuspia as palavras com um ódio que eu nunca vi. Mas eu não conseguia me conter.

- Acha que eu não sei que você é capaz de mentir junto com essa daí só para me enganar. O que você ganha com isso Henrique? Em mentir que essa aí é nossa filha? Pois o que ela ganha eu sei, muito dinheiro nosso!

- Ela é a nossa filha. Ela foi encontrada pelo detetive. Você está louca em achar que a faxineira é nossa Luna. Olha bem para a Raquel, ela é igual a você. É ela Amanda. Acredite em mim. Você está descontrolada.

- Eu quero a minha filha aqui, AGORA! Ou eu sou capaz de quebrar tudo nesse laboratório. Imagine o escândalo no jornal local "esposa do Dr Pottier tem surto psicótico e causa danos ao patrimônio".

Eu precisava ser inteligente. Demonstrar que eu sabia que Raquel era uma impostora, ao mesmo tempo tentar trazer a Luna para o laboratório. Embora, eu não precise de um exame para ter certeza que ela é a minha filha. Mas eu percebi que a discussão com Henrique estava longe do fim, quando ele voltou a gritar que Raquel era a nossa filha, Danielle chegou.

- Veja como você fala com a sua mulher. Se controle Henrique. Vou levar Amanda para casa. Faça só você o teste com a Raquel.

Henrique não disse nada para a ex esposa, apenas me olhou com os olhos molhados em lágrimas e sussurrou desculpa. Saí do laboratório com a Danielle.

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