CAPÍTULO 59

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RODRIGO

Há um ponto da vida onde a melhor decisão é a solidão. Talvez eu não escolhi o melhor momento para ter tal decisão, mas não conseguia viver refém dessa investigação. Procurar pistas de um caso considerado perfeito, era proporcional a achar uma agulha em uma praia. Estava tão envolvido emocionalmente com esse caso, que me ceguei para todo o resto.

Perdemos uma grande amiga, e eu não consegui me despedir. Maristela foi importante e fundamental na minha vida, pois sempre conseguia aconselhar maduramente aquilo que era necessário. Soube pela Bianca que o seu Antônio foi embora, isso também foi uma grande perda. Era um velho rabugento que eu amava perturbar diariamente, mas quando eu precisava de algo, sempre estava disposto a me ajudar. Queria ter mais tempo com ele, conversar mais, passear mais.

Em contrapartida, estou preso investigando esse psicopata!

Sem notícias distintas de Raquel, seu estado continuava como antes. Um coma induzido para o seu corpo se curar. As chances dela ter marcas eternas e sem solução médica, eram gigantes. Sentia culpa de tê-la arrastado para essa mentira. Contudo, ainda não sei o que motivou ela salvar a vida da Helena.

Bianca foi embora da minha casa, o que me fez passar mais tempo na rua investigando do que em um apartamento vazio. Sua mãe veio da Espanha para ajudá-la a criar o bebê que acaba de nascer, Breno. Não era a minha intenção intrometer na sua vida pessoal, mas o próprio Matias me procurou dizendo que eles estavam juntos. Isso não era nenhuma novidade para mim, eu sempre soube que ele a amava. Mas como um canalha, eu passei a frente e a conquistei naquela época. Bom, como o destino, ou como Matias sendo espírita gostava de parafrasear de um médium famoso: ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas todos podem começar agora e fazer um novo final. E assim eles estavam prontos para fazerem o final juntos. Ele criaria a criança como seu próprio filho. Estava feliz por eles, pois ambos mereceriam ser felizes.

Eu não tinha coragem da falar com a Amanda. Ensaiei diversas vezes pedir desculpas por ter entrado nessa mentira da filha perdida. O que me repelia ainda mais, era saber que Helena e Natália estavam em sua casa. Após a morte da Maristela, Helena fechou a padaria como um recesso de luto. E decidiu passar alguns dias com Amanda. Henrique me contou que Amanda mal falava com ele, Helena também estava em absoluto silêncio. A casa ecoava as risadas e cantos da Naty, que era a única disposta a perdoa-lo.

Eu sentia falta da Helena, saudades da sua companhia, das nossas conversas. Meu corpo sentia falta do seu corpo quente, eu sonhava com ela. Me perdia em pensamentos quando na verdade precisava focar na investigação. Mas o medo de ir atrás e pedir desculpas por todas as mentiras e entregar o meu envolvimento na fraude com a Raquel, me impossibilitava de agir.

Assim durou os próximos 10 ou 15 dias. O tempo passou de uma forma tão singular, que mal eu tinha tempo para refletir sobre o que eu já tinha encontrado.

Me isolei, isso mesmo... me isolei de tudo e de todos. Algo necessário depois do que eu descobri.

Depois de ver que Helena estava a salvo, decidi voltar para os pés do morro e tentar entrar em contato com o seu ex-marido. Meu plano era jogar tudo para o alto e matá-lo. Queria fazê-lo pagar por toda a violência que ele fez com Helena nos últimos anos. Mas para o meu espanto, após ele matar o chefe do morro, tomou a sua antiga posição. E chegar até ele, era um plano suicida que eu ainda não sabia como fazer. Em um lapso de memória, decidi ir para a antiga casa da Helena, onde ela foi criada quando criança e onde Maiky se abrigou nos últimos meses. Decidi procurar ali pistas. Pois eu não poderia me cegar ao óbvio, Helena teve um passado traumatizante e alguns detalhes de sua vida encaixavam na vida da Luna. Até mesmo a Natália ter a mesma cor dos olhos e uma grande aparência com a família do Henrique era no mínimo intrigante. Se eu descobrisse algo, ela poderia me perdoar.

Henrique havia dito que eles fariam o teste de DNA com a Helena, só esperariam um tempo para o luto por Maristela e também a Raquel acordar. Amanda queria conversar pessoalmente com a garota que fingia ser sua filha. Então eu abracei essa investigação pessoal sozinho e decidi agir.

Sabia que a minha equipe de investigação continuavam tentando tirar informações do Guilherme lendo os seus quadros. Karol mandou áudio explicando o que o seu namorado havia revelado sobre o dia que Luna foi raptada. Informei a todos que continuassem com as investigações, mas que eu precisava ir atrás de uma informação sozinho. Desliguei o celular depois de alguns dias e continuei examinando cada centímetro daquela casa que no passado pode ser o local que A Nota criou Luna como Helena.

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