CAPÍTULO 57

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HELENA

- ... quando Karol me ligou e disse que você estava bem, eu corri para o quarto dela... - Ele parou por um momento e deixou toda a sua emoção transparecer.

Sentia o meu coração vazio. Como se um pedaço de mim estivesse indo naquele momento.

- Helena... eu corri para o quarto dela e segurei nas mãos dela. Ela abriu os olhos e eu disse... - Seu Antônio falava com dificuldade, a dor era imensa e não havia nada que eu pudesse fazer, além de ouvir atentamente as suas palavras lamentosas. - Eu disse que você tinha sido resgatada, que estava bem, eu precisei dizer para ela...

Karol o abraçou, dando forças para ele continuar. Ele precisava me contar tudo aquilo, como uma missão que precisava ser finalizada.

- Eu precisei dizer para ela descansar, que todos estavam bem e que ela podia dormir. Eu precisei dar adeus a ela. - Seu Antônio concluiu a sua missão e encarou a terra que cobria o seu amor.

Eu disse adeus, aquela que me recebeu, que me amou, que me acolheu. Eu disse adeus aquela que me amou e me ensinou a amar. Disse adeus a uma mãe, a uma heroína... disse adeus a dona Maristela.

Naquele dia, saí do hospital e fui direto à capela. Dr. Henrique me levou e lá encontramos os nossos amigos, todos abalados, dizendo adeus aquela mulher que marcou as nossas vidas para sempre, ao nosso pilar.

Raquel continuava hospitalizada e Rodrigo não compareceu ao funeral. Ninguém sabia onde ele estava, apenas Figueiredo que disse apenas que ele queria ficar sozinho.

Havia tantas informações acontecendo ao mesmo tempo. A dor de perder Maristela sobressaía aos demais. Agora eu não tinha mais chão, não sabia o que fazer da minha vida, para onde ir, como criar Natália. Principalmente como viver sem os conselhos da dona Maristela.

**

-Sei que você não quer ouvir isso agora, mas é preciso dizer. Maristela lhe deixou isso.

Após o enterro, fomos até a padaria nos reunir para lembrar com carinho os momentos inesquecíveis que passamos naquele lugar. Danielle me entregou um envelope e me deixou a sós, em um canto isolado da padaria.

Abri, vendo muitas escritas. Da forma que eu sei, e que Maristela teve a paciência de me ensinar, eu li a sua carta.

"Você é a filha que eu sempre pedi a Deus e que não pude ter. Você fez os últimos meses compensar tudo o que já vivi. Helena, não se entristeça pela minha partida. Eu estou doente, infelizmente a vida funciona assim. Pedi para Danielle cuidar de tudo e lhe entregar essa carta. É engraçado que nesse momento, eu estou escrevendo e olhando você brincar no balanço do parquinho com a Natália. Você não percebe que estou escrevendo uma despedida, apenas sorri em minha direção enquanto a pequena pede para ser balançada ainda mais rápido. É a cena que vou imaginar quando eu der o meu último suspiro.

Sei que você pode achar que a vida está sendo cruel com você, lhe dando um pai agressivo, um marido da mesma forma e precisando fugir para sobreviver. Creio que agora você está em luto, por ter que me dar adeus. Não sinta injustiçada, você é maior do que isso. Não se vitimize, a vida é assim. Aprenda que os planos que fazemos nem sempre são os planos de Deus.

Olha, durante boa parte da minha vida eu perdi a fé. Mas eu consegui reencontrá-la nesse final dos meus dias, ao seu lado. Você me apresentou um Deus que eu nunca conheci, que eu precisava conhecer. Continue amando o Pai como sempre amou. Continue cantando as suas canções e sendo a melhor mãe que eu já conheci, mesmo tão nova e com tanto ainda para viver.

Levante a cabeça minha menina, a vida é apenas um sopro de vida.

Eu te amo Helena, apenas viva!"

Guardei a carta e fechei os meus olhos, meu corpo se movimentava conforme os soluços aumentavam.

- Ela deixou tudo para você Helena, e eu também estou deixando. - Ouvi a voz rouca do seu Antônio se aproximando, ele se sentou do meu lado e continuou a explicar, pois percebeu que eu não tinha entendido.

- Esse é o testamento que fizemos, aqui passa a padaria, o apartamento da Maristela e o prédio que eu moro para o seu nome. É o certo a fazer. Você é a nossa filha, não pode ficar desamparada. Eu estou indo para o nordeste, terminar o que ainda me resta da vida esperando o dia que vou reencontrar a Maristela. É como ela disse quando eu lhe perguntei onde eu poderia sentir a sua presença quando a saudade estivesse me matando: "... ache aquela flor, que cada um enxergue de uma cor, ali estará a minha alma, nesse dia nos encontraremos".

Seu Antônio despediu de todos e partiu. Não queríamos a sua ausência, mas o amor por Maristela o fez entregar a sua vida em prol da caridade. Nos próximos dias, tivemos informações que ele chegou até uma comunidade ribeirinha e ali passou a viver, dando aulas de matemática em uma escola local.

Seus dias terminariam assim, como Maristela pediu para ser.

A flor um dia ele encontraria, só então a saudade chegaria ao fim.

**

Mandei dois capítulos para voltarmos a ativa com a história. Infelizmente perdemos Maristela. Sei que não será fácil para vocês lerem esse capítulo, bem como não foi fácil escrever. Eu realmente imagino essa situação e Maristela foi impecável em sua sabedoria.

O próximo capítulo será da Nota, prepare para uma reviravolta na história.

Saibam que A Canção está chegando ao fim, em pouco tempo teremos todas as respostas.

Agradeço de coração todo o carinho e dedicação.

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