CAPÍTULO 52

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RAQUEL

- Mamãe, desculpa por tudo. Mãe, eu te amo.

...

Senti-me sufocada como se faltasse ar. Sai do quarto da Helena cambaleando, abandonei Amanda dopada e entregue a um sono sem rumo. Tropecei nos meus próprios pés, deixei a voz de Henrique ser apenas um barulho a mais naquele mar de agitação. Havia tantos policiais e pessoas preocupadas. Nunca vi nada parecido em minha vida...

Henrique dava ordens ao delegado, eles pareciam se conhecer, todavia era apenas uma preocupação de pai naquele momento, que não podia ser levada em consideração. O velho, aquele que namora a Maristela, estava pegando alguns exames e medicamentos da senhora e partindo de volta para o hospital, parecia ser um caso gravíssimo. Em contrapartida, Rodrigo foi com uma equipe atrás da Helena, outra equipe foi procurar a Natália.

Eu precisava sair, me afastar, sumir... Consegui escapar e andei sem rumo por um longo tempo. Andei, andei e andei, talvez tenha sido em círculos, eu não tinha o intuito de chegar a lugar nenhum, apenas andar. Ouvi meu celular tocar, puxei do bolso da calça e atendi nervosa quando reconheci o número:

- Cara, não é um bom momento para tentar conseguir mais dinheiro. - Esse puto estava me chantageando a semanas, arrancando grana para calar essa boca grande e ele não contar para Amanda toda a verdade.

- Se quer que a sua mãezinha saiba a puta que você é... tudo bem! - Durante todo esse tempo, precisei me calar em meio a tanta grosseria, contudo... hoje não era um bom dia.

- Chegou tarde queridinho, mamãe já sabe de tudo. Pode fazer o que quiser com essa informação, até enfiar no seu cu que eu não ligo. - Ignorei os olhares de pessoas que estavam na pracinha com seus filhos, pareciam nervosos com a minha boca suja.

Era uma pracinha que ficava a alguns quarteirões da padaria. O babaca desligou o telefone na minha cara. Sentei-me em uma sombra na grama e fiquei encarando os meus pés. Meu Deus, como seria a minha vida agora. Amanda descobriu tudo. Aquela cretina da Liane, ligou para o Henrique e avisou que contaria tudo, que não podia mais guardar aquele segredo. Henrique precisou esperar uma reunião com um importante cliente finalizar para poder me buscar na faculdade. Liguei para a portaria e soube que Amanda não estava em casa, já tínhamos imaginado que ela procuraria Helena, então fomos até a padaria.

Quando chegamos, fomos avisados por policiais o que estava acontecendo. Sorte que eu guardava alguns comprimidos na minha bolsa, um remédio controlado que Amanda usava e que era ótimo para jogar dentro de uma Vodka e passar o dia em outro planeta.

Ela estava fora de si, totalmente louca, conseguimos dopar ela antes que se machucasse. Mas meu coração doeu tanto... Ela me olhava com rancor, com raiva, com tristeza, também estava muito preocupada com Helena e Natália. Percebi naquele momento o quanto eu já amava aquela mulher, como uma mãe que não tive a sorte de ter. Eu queria agarrar essa oportunidade e fazê-la feliz, mesmo não sendo a sua filha de verdade.

Um nó ficou preso na minha garganta quando me toquei que eu poderia nunca mais vê-la. Mentimos para ela. Uma mentira ordinária que atingiu o ponto mais vulnerável daquela mulher que vivia em uma constante depressão. "O que fizemos?"

Fechei os olhos e o sol quente fez com que meus sentidos ficassem fracos. Gostava tanto dessa sensação. Fiquei um longo tempo ali até sentir que o sol não me tocava mais. Muitas pessoas tentaram mexer comigo, talvez saber se eu estava viva, mas eu mal respondia. Eu queria ficar ali até toda aquela situação passar. Na verdade, eu queria me esconder da Amanda, até ela me perdoar.

A noite chegou rápido, o movimento da avenida na lateral da pracinha ficou mais intenso e alguns caras estavam me azucrinando, isso me deixou nervosa. Fiquei puta, levantei-me e comecei a xingar um por um, até o momento que eu a vi.

Meu Deus, ela estava ali.

Aquela garotinha estava ali, de costas para mim. Vestia uma blusa escura, um pouco maior do que ela. O cabelo estava com um rabo de cavalo loiro, muito bagunçado. Ela segurava em uma mãozinha, um enorme e pesado leão de pelúcia. Eu empurrei esses caras e me aproximei um pouco mais. Eu tive certeza, era a garota perdida. Natália estava ali na minha frente e agora eu tinha uma escolha...

Ou eu salvaria o dia, levando-a até a padaria e entregando aos policiais e Amanda (talvez ela me perdoasse).

Ou eu poderia me unir ao babaca do Jhonny e extorquir essa família, arrancar cada centavo em troca da garotinha e assim fazer o meu pé de meia para nunca mais precisar ser puta.

Finalmente... a decisão estava tomada!

*

Um capítulo bem curtinho para deixar com gosto de quero mais.

O que acham que vai acontecer? Será que alguns meses deu tempo da Raquel virar um ser humano? kkkkk

A Canção Perdida ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora