CAPÍTULO 2

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HENRIQUE

- Paulo, você não pode entender o que eu sinto. Não consegui proteger a minha filha de um assassino, minha esposa está morta desde então.

Levantei-me da poltrona e caminhei até a janela do meu escritório, abri para deixar um ar percorrer o ambiente e continuei: - Lembra como Amanda tinha um brilho único no olhar? Como ela dança com graça e leveza? Como ela embalava a filha nos braços e...

- Henrique, por Deus, não se martirize. A dor já é o suficiente.

As lágrimas já escorriam do meu rosto. A dor de todos esses anos me tornaram velho, trazendo um ar preocupado e cansado.

Paulo era o marido de Danielle, minha ex esposa e minha sócia em uma das maiores empresas de advocacia criminal do Rio de Janeiro. Ele era médico da Marinha e precisava viajar constantemente. Nos tornamos melhores amigos quando ele mudou para a casa ao nosso lado. Ele me confessou que sentiu que traiu a nossa amizade quando se apaixonou pela Danielle. Mas com o tempo, ele viu que o casamento não existia. Tudo se resolveu no tempo certo. E a amizade? Essa nunca abalou.

- O que eu faço meu amigo? Já fiz todos os tipos de terapias, tomo remédios fortes. Mas os meus fantasmas me assombram. Só queria enterrar a minha filha. Quem sabe assim, eu teria Amanda novamente.

Deixei com o tempo ter esperanças de que Luna ainda estivesse viva. Conhecia muito bem os piores assassinos da cidade, mas A Nota era ainda pior. Doía em minha alma perder a minha princesa, mas hoje queria ter minha esposa novamente.

- Henrique, vou te dar um conselho. Você pode achar que é loucura, mas...

Desviei o olhar da janeira e encarei Paulo por um instante, ele cruzou as suas mãos e olhou para baixo. Parecia incomodado, como se estivesse ponderando o que falar.

- E se você salvar a Amanda... Contratando alguém para se passar por sua filha!

Olhei para Paulo sem acreditar no que ouvia. Esfreguei o meu rosto tentando controlar as minhas emoções.

- Você ficou maluco? Perdeu o seu juízo de vez? Eu sei que você é louco, mas agora você passou do limite. - Fui em direção a porta e a abri, pronto para expulsar o meu melhor amigo.

- Espere, não me mande embora. Só ouça. - Paulo ficou em pé e levantou as mãos em um gesto de rendição. - Um corpo de criança é impossível de ser forjado. Mas uma moça com a idade da Luna. Se passando por ela. Você pode passar meses treinando-a...

Confesso que precisei me controlar. Queria socar o seu rosto. Mas me obriguei a empurra-lo até fora do escritório. Danielle, de sua sala ao lado, ouviu o esbravejamento e foi ao nosso encontro.

- O que significa isso Henrique? - Danielle estava tentando se conter.

- Pergunte para o louco do seu marido - Respondi já dando de costas para voltar à minha sala.

Danielle tentou segurar o marido pelos braços, se preparando para soltar os cachorros em cima dele. Quando Paulo gritou ao mesmo tempo que corria para o elevador.

- Só pense nisso. Se quiser, eu conheço um cara. Ele pode te ajudar.

Eu bati a porta, mas ainda ouvia os gritos de Paulo que entrava no elevador para fugir da esposa.

- O nome dele é Rodrigo, ele...

E sua voz morreu quando o elevador fechou.

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