Capítulo 8

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Mau bateu o martelo com força em cima do prego, prendendo o assento da cadeira a uma de suas pernas. Já tinha feito tantas vezes e por tantos dias que os movimentos já estavam ficando no automático. Não estava sozinho, Eduardo estava fazendo a mesma coisa ao seu lado, só que com uma mesa.

Os dois estavam fazendo aquilo há dias. Todas as casas estavam prontas, mas ainda não tinham todos os moveis, então os dois se juntavam para fazer, o que era bom porque deixava Mau distraído durante todo o dia. Não gostava nem de pensar no que teria que fazer quando aquele trabalho acabasse.

Volta e meia, mesmo completamente concentrado no trabalho, os pensamentos tentavam aparecer, os pensamentos sobre aquele dia e sobre tudo que aconteceu, mas ele os afastava. Se Mau se entregasse a eles, provavelmente enlouqueceria.

– Mau! – Eduardo diz com um tom alto e toca em seu braço. Ele para de bater no prego e o encara, assustado. – Não ouviu eu lhe chamar? – Mau estava desorientado, então nem soube o que responder. – Nunca pensei que você não ouviria algo. – Ele tenta dizer em tom de brincadeira, mas isso só faz Mau se lembrar que ele realmente não tinha ouvido algo e isso custou a vida de várias pessoas que ele se importava. – Trouxeram almoço para nós dois.

Mau olha pros lados, procurando a outra pessoa e encontra uma mulher de cabelo preto crespo, a pele negra e os olhos castanho. Mau a conhecia da Sociedade dos Lobos, o nome dela era Jess, ela era responsável por vigiar as crianças na hora dos ataques.

– Oi. – Ela diz, dando um passo a frente. – Meu nome é Jess. Nós nunca nos falamos, eu acho, mas eu sou a Jess, vivia na sociedade.

– Ela trouxe comida para nós. – Eduardo repete.

Jess o encara, assentindo.

– Eu fiz arroz com galinha hoje pro almoço e eu lembrei que ouvi uma vez que você gostava muito, Lobo Mau. E como você e o Lobo Ed têm trabalhado muito para tornar a vida aqui possível para nós, eu pensei em vir deixar um pouco para você. – Ela agora encarava Mau, aparentemente esperando alguma resposta. – Na verdade, a vida aqui já é possível e eu estou gostando muito. Esse lugar é ótimo e minha irmã já até mesmo conseguiu um emprego. – Mau, mais uma vez, não fala nada. – Hã, espero que gostem.

Mau espera ela se retirar para, imediatamente, voltar sua atenção para o móvel que estava a sua frente.

– Acho que ela gosta de você. Quer dizer... quem lembra a comida que o outro gosta se não estiver depositando uma atenção especial nele? – Eduardo diz, mas Mau nem sequer o encara e nem pensa sobre o assunto, pouco se importava com aquele tipo de suposição ou com aquela garota ou com os sentimentos dela. – Vamos, larga isso aí e venha comer.

– Não estou com fome agora. – Mau diz e percebe, pela dificuldade que teve em falar, que não emitia nenhum som há muito tempo. Não tinha conversado com ninguém desde que acordou.

– Vamos lá. – Eduardo insiste, ignorando o que ele tinha dito. Mau pensa que, talvez, se comesse logo, poderia se livrar do sermão para poder continuar o trabalho.

Larga o martelo em cima da mesa de madeira e percebe que suas mãos doíam, estavam calejadas, mas afasta a sensação de dor e se aproxima de Eduardo que entrega uma vasilha com comida para ele e senta no chão, Mau faz o mesmo.

– Eu não sei se é impressão minha, mas as pessoas da Sociedade realmente parecem felizes vivendo aqui, parecem mais leves, mesmo depois de tudo que aconteceu. Acho que merecemos isso. – Eduardo diz e então suspira. – Eu estou preocupado com você.

– Só estou cansado. – Mau logo esclarece, não queria ouvir sermão.

– A última vez que te vi assim foi quando a Jane morreu.

5 - Sobre Meninas e RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora