5 - Sobre Meninas e Recomeços

Capítulo 9

                Mau encosta a cabeça na cama, ao lado do corpo dela e aperta ainda mais forte sua mão. Ainda sentia vontade de chorar, mas tentava se manter firme, não queria desmoronar porque não sabia se iria conseguir se reerguer. Não sozinho.

Ele fica ali, daquele mesmo jeito, durante muito tempo e quando finalmente fica de pé novamente, sua cabeça latejou. Queria ficar mais, mas decide que precisava encontrar sua filha e ficar com ela. Malu estava sofrendo muito e certamente sentia-se sozinha por ter perdido tanta gente.

– Volte por ela. – Mau repete e se inclina para beijar o rosto de Anabel. – Eu volto depois. Desculpa pelo surto, é culpa da Bella.

Ele começa a caminhar em direção a porta, mas, antes mesmo de alcança-la, Carlita começa a ganir.

– O que você pensa que está fazendo? – Mau pergunta, virando-se para a loba que parecia ainda mais agitada. Ela tenta se levantar, mas só faz isso depois de passar bastante dificuldade. Assim que se levanta, começa a ganir mais alto. – Cala a boca, pink. Vai acordar o hospital inteiro. Eu nem entendo mais o que você fala, sua loba velha!

Carlita caminha a passos lentos até o leito de Anabel e continua ganindo. Mau a encara, não conseguia entender o que ela dizia, mas talvez pudesse tentar interpretar. A loba estava desesperada e inquieta, parecia sentir que tinha algo errado. Ou talvez, assim como Mau, ela também estivesse desesperada para Anabel voltar logo.

– Eu quero que ela volte também, pink, mas você precisa ficar quieta ou...

– Não a chame de Pink. – A voz soou tão baixa que, unindo-se ao barulho de Carlita, Mau mal pôde ter certeza de que era real.

– O quê? – Mau pergunta e aperta os olhos. Será que tinha enlouquecido? Não recebe resposta, mas caminha até ela. – Cala a boca, eu preciso ouvir. – Diz para Carlita. – Ana, você disse alguma coisa? Por favor, me responda.

– Eu disse... – Anabel começa, sua voz estava baixa e ele só tem certeza mesmo porque vê os lábios dela se mexendo. Os olhos de Mau se enchem de lágrimas. – para não chama-la de Pink.

– Chamo sim, quer ver? Cala a boca, Pink! – Dessa vez, por algum motivo, a loba obedece.

– Você prometeu que nunca mais iria chama-la assim. Prometeu no dia do nosso casamento.

– E você prometeu que iriamos ficar juntos pra sempre, mas ambos quebramos promessas.

– Culpada! – Anabel diz, finalmente abrindo os olhos. – Oi.

– Oi, Ana. – Mau diz e, dessa vez, não consegue controlar as lágrimas. – Você voltou.

– Sim, eu voltei. – Ela diz e levanta um dos braços, levando-o em direção ao rosto de Mau, mas não consegue levantar o suficiente e fica no meio do caminho. Ele inclina o rosto, indo em direção as mãos dela. Anabel limpa suas lágrimas e faz carinho em sua bochecha.

– Eu pensei que nunca fosse voltar.

– Eu também pensei. – Anabel diz e fecha os olhos. – Mas eu voltei. Por quanto tempo eu desapareci?

– Acho que um mês.

– Uau. Parecia bem mais.

– Você percebia o tempo? – Mau pergunta, e Anabel assente. – Você estava consciente?

– Não sempre. – Ela responde. – Eu ouvi algumas coisas, mas a maior parte do tempo eu estava lá.

– Estava onde?

– Com o Eric. Nós estávamos juntos. Ele não queria me deixar ir com ele, disse que eu precisava ficar aqui.

Mau fica imediatamente preocupado.