Mau estava sentado em uma cadeira, movendo o corpo pra frente e pra trás com as duas mãos entrelaçadas, tentando fazer uma oração, mas ele nem sabia fazer uma. Agora sentia-se arrependido por ter fingido prestar atenção quando a sua mãe lhe ensinava. Talvez se soubesse fazer direito esse Deus de quem todo mundo fala lhe ouvisse e lhe ajudasse. Tinha alguma palavra certa para ser dita? Ou uma forma de pedir? Deus provavelmente nem o conhecia porque Mau nunca tinha tentado mandar uma mensagem pra ele, então deveria se apresentar?
Por fim, desistiu de tentar falar com Deus e começou a orar para o seu irmão. Eric com certeza estava próximo de Deus naquele momento e poderia mandar a mensagem.
– Por favor, Eric! – Mau pede, baixinho. – Peça para Deus salvar a mulher que amamos, mãe das nossas filhas. Por favor... eu não sei mais o que falar, Eric. – Não sabia se seu irmão estava ouvindo, mas esperava que sim.
Ele tentou, mais uma vez, se concentrar em procurar qualquer vestígio dela pelo hospital, mas sem sucesso. Tinha muito barulho por cima e Mau não conseguia se concentrar. Ou pelo menos era isso que dizia a si mesmo porque não queria acreditar na possibilidade de não estar ouvindo nenhum som dela porque não estava mais ali.
– Mau? – Ruth diz, e ele levanta os olhos. Raul estava ao lado dela. – O que aconteceu? Por que está desse jeito?
– Eu não sei. – Mau admite e levanta.
– Não sabe o quê? – Raul pergunta.
– Quando eu voltei, depois de te ligar, não me deixaram entrar e a única coisa que me disseram foi que ela desmaiou de exaustão assim que a menina nasceu, só que eu acho que não foi isso que...
– Então a criança já nasceu? – Ruth pergunta, e Mau percebe que nem tinha prestado atenção nessa parte.
– Acho que deve ter nascido. – Mau diz e coça a cabeça. – Mas voltando... eu não acho que a Ana tenha simplesmente desmaiado, tem algo errado. E eu não consigo escutar nada nesse hospital, tem barulho demais.
– Você perguntou pra alguém? – Raul pergunta, completamente preocupado.
– Não, elas disseram que voltariam com mais notícias.
– Vai ficar tudo bem. – Ruth garante e se vira para Raul. – Pode tentar ir atrás de mais informações? Descubra se a criança já nasceu mesmo e se podemos vê-la.
Raul assente e se retira, saindo do corredor em seguida. Ruth o encara.
– Não precisa ficar desse jeito, vai ficar tudo bem com ela.
– Eu não tenho certeza disso.
– Ela está tendo um filho, Mau, não é nada grave e nem perigoso. – Ruth diz.
– É porque você não viu o que ela estava falando antes. Toda estranha e...
– Olá... – Alguém interrompe. Mais uma vez, Mau nem tinha notado ela se aproximar. – Anabel já está no quarto e pode receber visitar, mas peço que vá apenas um por vez e que faça um procedimento de limpeza antes por causa do bebê. Algum de vocês dois está doente? – Ambos negam com a cabeça. – Ótimo. E então, quem vai primeiro?
– Vai você, Mau. Vai te acalmar vê-la logo.
– Eu já estou calmo de saber que ela está bem. – Mau diz, embora quisesse mesmo vê-la. – E Anabel estava desesperada pra te ver, é você quem ela vai gostar de encontrar agora.
Ruth assente e acompanha a enfermeira pra longe dali. Mau sente vontade de chorar quando se dá conta, mais uma vez, que tinha terminado tudo bem. Dessa vez, estando mais calmo, ele nota assim que alguém cruza o corredor. Era Raul, ele caminhava rapidamente.
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5 - Sobre Meninas e Recomeços
Teen FictionLIVRO 5 Sinopse: "A vida é um ciclo contínuo, onde as coisas começam e terminam, onde perdemos e ganhamos. Não é possível parar ou voltar, é preciso sempre seguir em frente. Na última parte da história, os personagens terão que aprender, mais do que...