Capítulo 37

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                Lúcio corria ao redor de sua propriedade há mais tempo do que se lembrava e não conseguia parar. Ele estava exausto, estava com sede e com fome, mas não queria parar. Sua mente precisava continuar em movimento, não podia parar, então continuou e só parou quando seu corpo não aguentou mais e ele caiu no chão.

Ainda tinha alguma força para levantar, mas optou por não fazer. Ao invés disso, encarou as folhas das arvores que agora estavam de frente de seus olhos. Era apenas o início do verão, o que significava que ainda havia muitos resquícios da primavera. As arvores estavam em sua melhor forma, floridas e vivas, mas ele não conseguia ver beleza em nada.

A sujeira, o suor, o calor, de correr tanto e ainda ficar no chão, não o incomodaram, haviam dores maiores. Lúcio já não conseguia se concentrar em nada, sua mente ficava em Bella e no problema dela o tempo inteiro. Ele não tinha conseguido fazer ela mudar de ideia sobre tirar a criança e, a essa altura, nem achava mais que fosse possível.

Ele então decidiu se mudar de vez para a sua antiga casa, a que vivia com ela quando os dois estavam casados. Embora aquele lugar tivesse muitas lembranças ruins, era maior e ele poderia contratar mais gente e foi assim que fez. Contratou médicos e enfermeiras que ficariam lá o tempo inteiro, além de todas as outras pessoas para cuidar da casa. Não sabia se isso iria adiantar de alguma coisa se as coisas desandassem na gravidez, mas era algo que o acalmava.

E por falar em gravidez, Bella parecia ainda mais feliz com ela. Muito feliz mesmo, como Lúcio a tinha visto poucas vezes na vida, principalmente depois que a criança começou a se mexer. Ela quase conseguia esconder dele o fato de que estava doendo carregar aquela criança. Bella ficava acamada a maior parte do tempo, sentindo dores e não podia fazer muito esforço, e Lúcio fazia todo o possível para não ficar perto dela nesse tempo.

Lúcio sentou no chão e apertou os olhos e muitos momentos de sua vida começaram a passar em sua mente. Lembrou-se que aquelas corridas dele pela propriedade tinham acontecidos várias vezes e geralmente era quando ele queria fugir de seus pensamentos, o que era um sentimento bem frequente, ele passou a vida querendo fugir de toda a dor que a vida lhe causava.

Lembrou-se também que Genevieve tinha ido atrás dele muitas vezes. Ela sempre sabia onde encontra-lo em seus momentos de crise. Ela tinha a senha do portão de sua casa, então entrava quando quisesse e, intrometida do jeito que só ela sabia ser, o procurava pela propriedade, geralmente usando a bicicleta de Carlota.

Ele odiava isso. Odiava mesmo. Lúcio nunca foi do tipo de se fazer de difícil, que se afastava esperando que as pessoas fossem atrás, pelo contrário. Quando ele sumia, era quando não podia ficar e não gostava de ter ninguém por perto quando acontecia, ele gostava de ficar sozinho. Odiava que as pessoas o vissem sofrer. Mas Genevieve nunca o deixava sozinho, mesmo quando ele desejava muito e ele sempre odiou isso nela.

Contudo, naquele momento, sentiu vontade de vê-la. Queria que ela aparecesse por entre as arvores, invadisse seu silencio e o mandasse voltar para casa pra tomar banho e, principalmente, que lhe dissesse o que fazer. O que ele poderia fazer?

Lúcio não conseguia entender. Não conseguia entender porque a vida estava sempre querendo tirar coisas dele. Ao decorrer dos anos, ele foi perdendo tudo e, agora, mais uma vez, a vida ameaçava tirar a coisa que ele mais amava. Será que ele era mesmo tão ruim pra merecer algo assim? Ele não aguentava mais perder pessoas. Ele não podia mais suportar.

Lúcio ficou sentado no chão até o entardecer. Depois, levantou e caminhou até a sua casa devagar e sem nenhuma pressa. Assim que entrou, viu Bella sentada no sofá e sua vontade foi voltar para aquele chão que estava alguns minutos antes. Ela estava com um sorriso, um sorriso que desapareceu no momento em que colocou os olhos nele.

5 - Sobre Meninas e RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora