Sete Dias III

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***Miguel

A notícia tão em cima da hora sobre o julgamento de Pavel, fez com que minha sede de justiça se revigorasse. Mas no entanto, algo não me agradava naquela notícia. O fato de os licantropos, mesmo sobre feitiço e sem controle sobre suas vontades, terem que enfrentar o júri do Conselho Dos Clãs.

Nikky teve que voltar para a sede do Clã Dos Vampiros antes dos outros, ela tinha alguns assuntos pessoais para resolver. Gabriel, Zack e Fred continuaram em minha casa por mais um tempo. Eles insistiam em me fazer um pouco mais de companhia, mesmo eu insistindo que não era necessário.

Agora nós estávamos sentados à mesa de jantar, que ficava localizada em um dos cantos da cozinha. Ofereci alguma bebida à eles enquanto conversávamos.

- Então... - Começou Gabriel. - Divida com a gente o que está se passando aí nessa cabeça, Miguel.

- Hã...? Como assim? - Eu estava um pouco disperso.

- O que você tanto pensa? - Reforçou Zack. - Está tão aéreo...

- Não é nada demais. - Menti.

- Como não é nada demais? Está quieto já faz o maior tempão!

- Não sei, galera... Só não entra na minha cabeça essa história de os licantropos também terem de enfrentar o júri do Conselho. De certo modo, eles não tiveram culpa do que fizeram. Eles estavam sendo controlados. - Resolvi ser franco.

- É como eu digo, meu amigo... Certas coisas são incompreensíveis para nós. O Conselho é realmente muito severo e certas coisas nós nunca conseguiremos entender. - Explicou Fred.

- Eu só espero que eles sejam justos. Os licantropos já são punidos há séculos com o banimento de WorldHidden, e nós nem mesmo sabemos o por quê. - Confessei.

- Verdade. - Concordou Zack. - Eu confesso que queria entender o motivo que levou o Conselho a tomar essa medida há séculos atrás. É uma história tão mal contada. Não é à toa que os licantropos não se dão muito bem com os seres mágicos que habitam WorldHidden.

- Só me pergunto uma coisa: será que algum dia teremos a resposta para essa pergunta? - Murmurou Fred.

- Isso nós não sabemos, meu caro... - Disse Gabriel dando um tapinha no ombro do amigo.

- Mas tem certeza que por enquanto é só isso que está tirando seu sossego, Miguel? - Zack foi direto.

- Confesso que não. - Eu agora passava a mão pela parte de trás do meu pescoço.

- Então desabafa, cara... Põe tudo pra fora! Somos seus amigos.

- É que não sei... Algo que aconteceu essa manhã tem me perturbado muito... Eu queria fazer, porém, ao mesmo tempo não sei como fazer... - Desabafei bastante tenso.

- Como assim? Seja mais claro, por favor. - Pediu Fred com olhar interessado.

- Nem sei por onde começar.

- Pelo começo??? - Ele disfarçou um sorriso.

- Isso mesmo, cara... Manda tudo de uma vez. Fala tudo que está te preocupando. - Zack disse colocando a mão esquerda sobre minhas costas.

Então eu parei e pensei por alguns instantes, e então, resolvi me abrir com eles. Quem sabe eles me ajudariam a tomar uma boa decisão e também a ter uma boa idéia sobre o que fazer:

- É que hoje cedo a mãe de Thales me ligou. Ela estava com a voz tão abatida.

- E então...? O que ela queria? - Quis saber Gabriel.

- Ela foi tão amável comigo, pessoal... Ela disse que quer me ver, que eu sou como um filho pra ela e que será mais fácil enfrentarmos esse período de luto se estivermos juntos.

- E qual é o problema disso? - Questionou Fred. - Isso é uma coisa boa, sinal de que ela tem afeição por você e não te culpa de nada, meu amigo.

- É que eu me sinto inseguro, Fred... Eu não sei como me portar quando estiver frente a frente com ela depois do que aconteceu. E se, eu falar alguma bobagem? Ela vai ficar ainda mais magoada. Eu não vou saber o que fazer, o que falar...

- Ei... Pode parar, cabeça dura! - Gabriel foi direto. - A mãe do garoto que você ama te oferece um colo de mãe e você ainda tem dúvidas? Por que isso cara? Não há motivos para temer.

- Olha... - Zack se intrometeu na conversa. - Se você não souber o que falar de início, apenas use a notícia que lhe trouxemos... Fale sobre o julgamento, vá a casa dela como que para dar essa notícia.

- Não sei se seria uma boa dizer a ela que o pai do filho dela está para ir a julgamento essa noite e que, com certeza, será condenado a morte. - Franzi o cenho. - Tá ouvindo o peso disso, cara?

- É... Parece meio pesado agora, ouvindo você falar desse jeito. - Zack recuou.

- E outra... - Continuei... - Ela trabalha em uma das clínicas do doutor Albert. Ele já deve ter dado a notícia sobre o julgamento a ela.

- Não é pra tanto também, gente... Você pode simplesmente chegar lá e perguntar se ela está sabendo que o julgamento do Pavel é essa noite. Diga que quis a dar a notícia pessoalmente. Daí em diante tenho certeza que ela saberá levar uma conversa, se ela já souber, ela vai dizer. Suzana está triste, mas é uma mulher muito inteligente. - Fred explicou calmamente. O nerd realmente tinha idéias que pareciam simplificar as coisas.

- "Problema" resolvido, meu jovem. - Disse Gabriel fazendo aspas com os dedos.

- Vocês realmente acham uma boa eu ir visitá-la? - Teimei.

- Sim! - Responderam os três em coro.

- Já que vocês dizem que é uma boa, mais tarde eu vou até a casa dela. Mesmo que isso vá me doer muito. - Eu voltei a ficar muito triste naquele instante.

- Ei... Por quê?... - Perguntou Fred.

- Vai ser a maior barra entrar naquela casa de novo sabendo que o baixinho não vai estar lá... Dói, só de imaginar o quão triste aquele lugar deve ter se tornado após a partida dele.

- Amigo... - Zack começou a falar em um tom de voz doce e sereno. - Eu sei que é difícil, mas você tem que voltar a levar sua "vida" adiante, mesmo que aos poucos. Mas você precisa se libertar se quiser seguir em frente. E não há como se libertar se não enfrentar alguns fantasmas.

- Disse tudo, Zack! - Fred fez um sinal de positivo para o amigo. - E, Miguel... Você sabe que pode contar com a gente pra tudo. Não somos apenas seu Clã, somos sua família e amigos.

- Isso mesmo, amigão. - Concordou Gabriel. - Vamos te ajudar a passar por esses períodos difíceis. E não se esqueça que você também tem seus amigos mais próximos, a Susy, o Carlos, o Rafael... Tenho certeza que eles serão seu maior apoio.

- Valeu, galera! - Agradeci. Eu estava bastante emotivo.

Infelizmente, era nesse estado em que eu me encontrava atualmente. O sofrimento me corroía por dentro. Mas de certo modo, isso tudo estava servindo para me mostrar o tanto de pessoas especiais que eu tinha à minha volta e nunca havia dado muita atenção a isso.

Eu realmente tinha amigos muito especiais. Com eles ao meu lado parecia que tudo ficaria um pouco mais fácil.

O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora