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***Rafael

Estávamos ali parados em frente a porta de entrada da casa de Miguel. O lugar estava totalmente silencioso, os únicos sons que podiam ser ouvidos eram o da leve brisa que cortava o ar carregando os flocos de neve que insistiam em cair tímidos e da campainha que Susy continuava a tocar insistentemente.

Eu só conseguia imaginar que nosso amigo realmente não queria nos ver. Já estávamos ali há um bom tempo, porém, nenhum de nós estava disposto a dar meia volta e abandonar Miguel em uma situação que com certeza era muito delicada. Precisávamos vê-lo. Precisávamos ter certeza de que ele não havia feito nenhuma besteira.

Muito ansioso e já sem paciência, Carlos começou a bater na porta sem parar e a gritar pelo nome do outro:

- Miguel! Por favor, cara, abre essa porta!!! Precisamos saber se tu tá bem meu irmão!

Porém, não recebemos qualquer resposta do interior da casa. O silêncio lá dentro se fazia presente e nós ficávamos ainda mais preocupados a cada minuto que se passava.

Eu nunca pensei que algum dia seria tão complicado falar com Miguel. Nosso amigo nunca foi de nós dar as costas ou nos deixar plantados nos lugares, principalmente quando um desses lugares era a porta da casa dele. Com certeza ele estava muito mal. Aquilo só me deixava ainda mais triste.

- Miguel! - Resolvi intervir. - Por favor, abre essa porta! Precisamos falar com você, cara!!!

- Abre logo, Miguel!!! - Susy agora demonstrava sinais de impaciência. Se eu bem a conhecia, poderia dizer que ela estava no limite, pronta para explodir.

- Por favor, Miguel! - Agora eu usava um tom de súplica.

Susy que estava no meio começou a passar a mão pela face. Pronto! Eu sabia que agora toda a paciência dela havia se esvaído. Em um suspiro ela se afastou um pouco da porta e deu sua ordem:

- Olha só, Miguel!!! Somos seus amigos e não aguentamos mais saber que você está nessa situação e teima em querer lutar com essa dor sozinho! Temos uns aos outros para exatamente nos darmos apoio em qualquer momento que seja! - Ela gritava sem parar. - Eu me afastei da porta e vou contar até três. Se você não abrir eu vou arrombar!

Carlos agora encarava a namorada com os olhos esbugalhados. Ele estava tão surpreso quanto eu. Mas se não havia uma outra forma, era melhor mesmo que deixássemos Susy tomar as rédeas da situação.

- Um... - Ela iniciou a contagem.

Eu estava tenso. Estava torcendo para que Miguel caísse em si e abrisse logo aquela porta para evitar que Susy a derrubasse.

- Dois!!!...

Agora faltava pouco... Carlos que estava mais próximo da porta, se afastou, pois tinha total convicção de que a namorada estava falando sério.
Quando Susy se preparava para investir contra a porta de entrada, ouvi passos lentos dentro da casa.

- Espere! - Falei estendendo meu braço a frente dela para impedí-la de derrubar a porta.

- O que foi? - Perguntou ela colocando as mãos na cintura enquanto me olhava contrariada.

- Não estão ouvindo? - Questionei levantando o dedo indicador próximo a um de meus ouvidos.

- Tem alguém andando lá dentro. - Concluiu Carlos olhando a namorada.

Susy então, se aproximou mais da porta com a aparente intenção de colar seu ouvido na mesma e tentar ouvir com mais clareza e ter certeza de que eram realmente passos que estávamos ouvindo.
Logo que ela aproximou mais o rosto conseguimos perceber um barulho que ao que parecia, eram de chaves girando na tranca.

Não demorou muito até que a porta foi aberta e avistamos Miguel. A aparência dele não era das melhores.

- O que vocês querem? - Perguntou frio.

- Como assim o que queremos?!!! - Susy se mostrava indignada com a pergunta.

- Cara, estamos preocupados com você! Você não atende nossas ligações, não responde às nossas mensagens, sumiu do colégio! - Explicou Carlos.

- Colégio pra quê?! Isso não faz sentido... Assim como não faz mais sentido eu tentar ser algo que não sou. - Disse Miguel, que em seguida virou as costas e adentrou novamente deixando a porta livre para nós.

Nos entreolhamos e seguimos Miguel. Eu fiquei por último e assim que passei pela porta a tranquei e fui me juntar aos outros na sala de estar.

Quando cheguei no grande cômodo, Susy e Carlos já se encontravam sentados no sofá maior enquanto Miguel havia se acomodado em uma poltrona e mantinha seu olhar fixo ao chão. Ele não nos encarava.

Me juntei aos outros dois no sofá maior e então comecei a falar:

- Amigo... Eu sei que está sendo difícil pra você, também não está sendo fácil para nós... Mas poxa, somos todos amigos, queremos o seu bem. Não aguentamos mais ver você nesse estado.

- E em que estado vocês gostariam que eu estivesse?! - Miguel foi totalmente ríspido. - Eu perdi a pessoa que eu mais amava há poucos dias! Como vocês esperam que eu haja???

- Escuta... - Começou Susy. - Eu também perdi minha melhor amiga. Eu sei a dor que você está sentindo, mas me ouça... Se trancar e tentar fugir do mundo lá fora não é a melhor opção. Isso só vai te deixar cada vez mais abatido. Isso vai te consumir se você não tentar seguir adiante.

- É isso mesmo, cara... Se ficarmos juntos, vai ser mais fácil passarmos por essa dor. - Completei. - Eu sei que nada pode ser feito para amenizar essa sua dor, mas se nos unirmos poderemos dar apoio uns aos outros. Não afaste seus amigos de você nesse momento tão delicado. Só queremos o seu bem, meu parceiro.

Quando concluí meu discurso, pude notar que Miguel estava entregue às lágrimas. Vê-lo daquele jeito era desesperador. Em tantos anos de amizade, com meu amigo se mostrando ser uma pessoa tão centrada e reservada quando se tratava de demonstrar sentimentos, eu sequer podia imaginar que algum dia eu o veria despejar tanto sentimento assim na frente de terceiros.

Carlos lentamente se levantou de onde estava e caminhou até a poltrona onde nosso amigo se encontrava, sentando no braço da mesma. Ele apoiou a mão sobre as costas de Miguel e disse em tom mais sereno possível:

- Nós somos seus amigos... Não vamos deixar você passar por essa barra sozinho. Nunca se esqueça do quanto a gente te ama meu parceiro.

- Eu não sei se vou conseguir lidar com isso, galera... Eu não sei se vou conseguir superar. - Miguel desabafava em tom pesaroso.

- De modo algum a gente quer que você supere... Não há como superar a história de amor linda que você e Thales viveram. Essa é uma dor que precisa ser sentida. Você só precisa aprender a conviver com ela, e nós estamos ao seu lado pra ajudar você a passar por esse período difícil sem enlouquecer. Seremos seu apoio e sua lanterna nesse caminho escuro e aparentemente sem esperanças. Por favor, não nos afaste. - Explicou Susy.

O choro de Miguel agora era seguido por um soluçar. Eu conseguia, de certa forma, sentir a dor dele. Nosso amigo estava sofrendo demais com aquela perda. Vê-lo daquela forma tão vulnerável era de cortar o coração de qualquer um. A única pergunta que me vinha à mente era: será que algum dia, toda essa dor pelo menos daria uma amenizada?

Eu próprio não tinha resposta para tal pergunta, já que nunca havia me apaixonado por alguém antes na minha existência. Nem quando eu era humano eu nunca havia amado ninguém da maneira que Miguel amava Thales.

Se amar for isso: dor, perda, sofrimento... Eu com certeza preferia manter meu coração vazio, solitário e frio.

O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora