***Plínio
Saímos do quarto da pousada e caminhamos até o topo da escadaria que dava acesso ao andar térreo. Gabriel, que estava um pouco mais à minha frente, parou erguendo o braço impedindo minha passagem.
A princípio, não entendi muito bem qual era a intenção do loiro com aquele gesto. Eu o encarei um pouco surpreso, ele simplesmente olhou para trás e levou o dedo indicador até a boca fazendo um sinal, que eu entendi por ele estar pedindo silêncio.
Inclinei minha cabeça para o lado e o observei confuso. O rapaz, então, em seguida apontou para a recepção da pousada. Do ângulo em que estávamos, não era possível ver perfeitamente o que estava acontecendo. O loiro aproximou seu rosto do meu e perguntou cochichando:
- Ei... Aquele não é o Kaio?!
Mais que depressa, eu foquei toda a minha atenção ao balcão da recepção. Não foi possível ouvir muito bem a conversa anterior devido a distância, mas pude entender muito bem quando o rapaz conhecido por nós se dirigiu à Félix, e disse quando já estava abandonando o local:
- Nos vemos mais tarde! Não se esqueça de que o alfa precisa falar com você urgente!
- Pode deixar! Assim que puder, eu irei até ele.
Engoli em seco. Eu estava totalmente apático enquanto Gabriel me olhava sem esboçar qualquer emoção em seu rosto pálido. Será possível?! Félix era um licantropo? Como não percebemos tal coisa antes?
- E aí, bons hóspedes! Bom dia! - A voz do jovem cortou o ensurdecedor silêncio, vinda do andar térreo.
- Bom... Bom dia! - Gaguejei.
- Estão aí já faz muito tempo? - Ele perguntou desconfiado.
- Não muito! - Intrometeu-se Gabriel em um tom ríspido, agora ele começava a descer as escadas.
- Ah... E aí, cara!? De ressaca meu amigo? - Félix todo sorridente e com a simpatia de sempre perguntou ao loiro.
- Não sei o que é ressaca, e não sou seu amigo. - Gabriel foi seco.
Agora nós já estávamos no andar térreo, à uma certa distância do balcão onde Félix se encontrava debruçado nos olhando sorridente. Ele arqueou uma das sobrancelhas e perguntou:
- Irão tomar café da manhã?!
- Não! - Respondi para evitar que Gabriel desse outra de suas más respostas ao rapaz. - Inclusive já estamos de saída, mais tarde a gente volta.
- Tem certeza que não vão comer nada? - Insistia ele.
- Sim. - Concluí. - Já comemos alguma coisa no quarto. Obrigado pela atenção.
- Que nada... Faz parte do meu trabalho.
- Vamos, Gabriel! - Passei pelo loiro o chamando, enquanto o mesmo metralhava Félix com um olhar intimidador.
***
Já à uma certa distância da pensão, ainda não tínhamos trocado uma palavra sequer... Gabriel caminhava sem olhar para os lados e mantinha sua atenção focada no caminho a sua frente.
- Não vai falar nada? - Perguntei.
- O que eu poderia dizer? - Ele deu de ombros.
- Ora! Acabamos de descobrir que estamos hospedados na pousada de um licantropo... E está me parecendo que isso te deixou muito incomodado, não quer falar comigo sobre isso?
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O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]
FantasiaAh o tempo... O tempo pode ser tão bom... O tempo cura feridas, nos amadurece, traz novos conhecimentos. Mas esse mesmo tempo também pode ser ruim. Esse mesmo tempo pode tirar coisas e pessoas que você ama, pode te ferir profundamente, pode te cei...