***Miguel
Após conseguir me recompor de meu choro, me levantei e saí do quarto. Desci pela grande escadaria de madeira que dava acesso ao andar térreo, então caminhei até a cozinha parando de frente ao refrigerador onde ficavam estocadas algumas bolsas de sangue. Abri o mesmo e reparei que eu já estava ficando sem alimento.
Retirei uma das poucas bolsas que restava do interior do refrigerador, apanhei um copo no armário, que ficava ao lado, e segui para a sala de estar.
Despejei todo o conteúdo vermelho e viscoso dentro do copo e larguei a embalagem vazia sobre a mesa de centro. Me ajeitei na poltrona e liguei a TV em qualquer canal aleatório para espantar para longe aquele silêncio perturbador.
Ao mesmo tempo em que eu consumia o líquido, meus olhos se mantinham fixos nas imagens que passavam na TV enquanto minha mente vagava para longe. Eu estava com o pensamento totalmente focado na conversa que eu havia tido um pouco mais cedo ao telefone com Suzana.
Algo dentro de mim queria muito ir visitá-la e ver com meus próprios olhos como ela estava, mas ao mesmo tempo, eu relutava e me negava a atender essa vontade. Eu tinha medo... Medo de não saber como me portar diante dela depois do acontecido, medo de não saber usar as palavras corretas para me dirigir a ela, e assim, acabar a ferindo ainda mais.
- Ah, que porra!!! O que eu devo fazer???!!! - Soltei falando comigo mesmo enquanto passava a mão esquerda pela nuca meio que puxando meus próprios cabelos. Em seguida olhei para o teto e continuei. - O que eu faço, meu baixinho?! Eu devo ir ver sua mãe? Eu não sei o que fazer meu pequeno...
Pronto! Eu devia estar ficando louco. Agora havia me flagrado falando sozinho, como se Thales pudesse realmente me ouvir. Só conseguia pensar em o que ele diria se pudesse me responder... Será que ele acharia uma boa idéia eu ir visitar a mãe dele depois de tudo o que aconteceu?
Terminei de virar o restante do líquido vermelho garganta abaixo e me levantei da poltrona. Peguei a embalagem plástica vazia que se encontrava sobre a mesinha e voltei à cozinha.
Joguei o pacote no lixo e lavei o copo. Sequei o mesmo com um pano de prato e voltei a guardá-lo no armário. Agora eu me encontrava com as duas mãos apoiadas sobre a bancada da pia olhando a paisagem lá fora pela janela que ficava por cima da mesma. Não nevava, porém, tudo se mantinha encoberto pela neve até onde meus olhos conseguiam alcançar.
***
A campainha da porta da frente então começou a soar. Demorei alguns instantes até realizar alguma ação. Quem poderia ser? Será que ninguém respeitava minha vontade de estar sozinho? Eu precisava desse tempo. Um tempo a sós com minha dor, tempo esse, que eu sequer sabia quando chegaria ao fim...
Quando cheguei à porta de entrada, girei a chave e em seguida a maçaneta. Assim que abri a porta pude ver de quem se tratava:
- E aí, cara?! - Era Gabriel, que trazia consigo uma mochila pendurada no ombro direito por uma das alças. Junto com ele, estavam Zack, Nikky e Fred.
- Ah... Oi... - Respondi meio desanimado.
- Não vai nos convidar para entrar? - Perguntou Nikky com um largo sorriso.
- Ah, claro! - Respondi os dando passagem e apontando para dentro com uma das mãos.
Assim que todos entraram, eu tranquei a porta e os acompanhei até a sala de estar. Assim que adentramos o cômodo, os indiquei o sofá maior dizendo:
- Sentem-se, por favor... Fiquem a vontade.
- Obrigado. - Agradeceu Zack enquanto eles se sentavam.
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O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]
FantasiAh o tempo... O tempo pode ser tão bom... O tempo cura feridas, nos amadurece, traz novos conhecimentos. Mas esse mesmo tempo também pode ser ruim. Esse mesmo tempo pode tirar coisas e pessoas que você ama, pode te ferir profundamente, pode te cei...