O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]

Primeiro Passo

***Susy

Eu estava saindo do colégio naquele início de tarde. Flocos de neve espaços dançavam pelo ar com a leve brisa que se fazia presente naquele dia escuro e triste. Lembrar de minha melhor amiga Bia, e também do doce e amoroso Thales fazia com que tudo ficasse ainda pior.

A sensação de perda que não só eu, mas todos nós que éramos muito próximos aos dois sentíamos, estava nos consumindo.

Caminhei até próximo à saída do portão principal e logo avistei o jeep do meu namorado estacionado um pouco mais à frente. No banco traseiro, Rafael estava acomodado e olhava para o céu. Seu semblante era vazio.

Observar aquela cena a uma certa distância, fez-me lembrar da última vez em que aquele veículo estava completo, onde Thales e Beatriz também se apertavam nos bancos traseiros dividindo espaço com Rafael e Miguel.

Miguel já não respondia às nossas mensagens, não atendia às nossas chamadas... Desde o velório de Thales ele havia sumido. Não falava mais com a gente. Eu sinceramente, temia que ele pudesse acabar por fazer alguma besteira. Carlos havia me contado que ele nem para o colégio voltou mais. Precisávamos fazer alguma coisa para pelo menos tentar fazer com que nosso amigo saísse de dentro de casa. Ele não podia ficar mais tempo sozinho.

- Oi... - Cumprimentei os garotos enquanto abria a porta do jeep e me acomodava no acento ao lado de Carlos.

- Como foi o dia? - Quis saber meu namorado depositando um leve beijo em minha bochecha.

- Não há muito o que falar... A chatice e tristeza de sempre... Como se algo estivesse faltando. - Respondi fria.

- É porque realmente está faltando algo. - Intrometeu-se Rafael. - Faltando "dois algos", para ser mais exato!

- Rafa... Pega leve cara. - Pediu Carlos.

- Liga não, amor... Sabemos como é difícil essa situação. Eu só me expressei mal, Rafael... Foi mal...

- Sem problema, Susy... Eu sei que não fez por mal. É que eu realmente não estou sabendo lidar com a perda daqueles dois idiotas! - Rafael soltou um riso nervoso. - Quem poderia imaginar?! Que eu sentiria tanta afeição por eles. No início a gente só fazia por brigar. Quantas vezes eu machuquei o Thales...

- Rafa... - Carlos Interrompeu o amigo. - Eu também fui o maior cuzão com o carinha... Eu sei o que tá sentindo. Mas por favor meu chapa... Não se martirize tanto!...

- Isso mesmo, o que foi feito, foi feito! - Falei. - Passado é passado! Não adianta vocês ficarem se lamentando por certos tipos de comportamento idiotas agora. O importante é que no decorrer de toda história, Thales e Beatriz perdoaram vocês dois... E uma amizade maravilhoso nasceu.

- Olhando por esse lado... Você tem razão. - Concordou Rafael.

- Claro que tenho. - Fui direta. - E não só vimos uma grande amizade nascer, como também fomos testemunhas de um amor que até então, muitos julgariam improvável: o amor entre Thales e Miguel. - Nessa hora eu já podia sentir meus olhos marejados. - Me sinto muito feliz por ter feito parte da história de amor dos dois. Mesmo que tenha sido breve, foi intensa e sincera.

- Verdade. - Concordou meu namorado. - Quem diria né? Que um garoto humano pudesse virar nossas vidas de ponta a cabeça e domar o coração até então impenetrável de Miguel...?

- Falando nisso... - Rafa mudou de assunto. - Miguel não atende meus telefonemas, não responde nenhuma das minhas mensagens...

- Não é só com você. - Tranquilizei-o. - Ele está fazendo o mesmo conosco.

- Bem... Vocês acham... Acham que seria uma boa idéia a gente ir até à casa dele?

- O que você acha, amor? - Carlos me olhou com dúvida no olhar.

Eu fiquei em silêncio por alguns instantes enquanto encarava o nada. Eu sabia que com certeza Miguel estava muito triste, mas também pensava que ele não podia se isolar do mundo exterior e afastar os amigos. Aquilo só o faria se sentir ainda pior. Todos nós precisávamos de apoio. Se ficássemos todos juntos, seria muito mais fácil enfrentar tamanha tristeza.

- Susy!... - Rafael tirou-me de meus devaneios.

- O quê?! - Perguntei atordoada.

- E então... O que você acha? É ou não uma boa idéia irmos até à casa de Miguel?

- Olha... Sinceramente, não sei se é uma boa ou má idéia... Tudo bem que eu compreendo que Miguel queira ficar um tempo sozinho com sua dor... Mas na minha opinião, deveríamos ficar juntos. Seria bem mais fácil e menos doloroso passarmos por essa situação de luto.

- Então é o que faremos... Vamos tentar unir o que resta de nosso grupo. - Disse Carlos girando a chave na ignição.

- Se ele não nos atender... Derrubamos a porta! - Completei. - Ele não pode mais ficar sozinho. Nós precisamos nos unir novamente. Mesmo que a sensação de vazio não passe por completo, uma parcela passará com o tempo se permanecermos juntos.

- Verdade Susy... Pode não passar nunca, mas será mais suportável se permanecermos perto uns dos outros. - Concordou Rafa.

- Bom... Agora temos que convencer o cabeça dura do Miguel disso. - Disse Carlos dando a partida e acelerando o veículo.

Meu namorado dirigia rumo à casa de Miguel. Ao longo do caminho eu observava a paisagem daquele início de tarde.

Olhar aqueles flocos de neve espaços dançando pelo ar me fazia lembrar dos momentos incríveis que passávamos todos juntos em dias ou noites de nevasca na casa do pequeno Thales. A saudade só fazia por aumentar a cada instante.

Ah como eu queria que o tempo voltasse... Como eu queria poder reviver àqueles momentos novamente. Eu faria qualquer coisa para poder voltar no tempo e ter meus dois amados amigos de volta.

Eu aproveitaria muito mais cada minuto ao lado deles, faria muito mais por eles, diria o quanto eles eram especiais para mim. Tentaria ser mais aberta com relação aos meus sentimentos...

Eu só queria meus amigos de volta. Pena que isso era algo impossível de acontecer. A única coisa que restava a mim e aos outros, era nos conformar e aceitar a vontade do destino. O destino cruel que já havia escrito que perderíamos duas das pessoas que mais amávamos no mundo.