O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]

Ataque

***Miguel

A madrugada seguia silenciosa. A fraca nevasca que atingia a cidade, enfim, havia cessado.

Adentrar aquele bosque novamente me fazia reviver lembranças que eu juro que queria esquecer. Um misto de sentimentos me inundavam. Medo, dor, preocupação... Mas ao mesmo tempo, confesso que aquele lugar transmitia uma certa magia.

Lembrei-me de um momento não tão bom de minha existência. Um dos momentos cruciais para mim, foi quando eu fui aprisionado em uma velha cabana em um dos pontos mais desconhecidos daquele bosque. De certa forma, quando Kaio me prendeu lá, foi um momento muito especial, pois foi naquela época que, finalmente consegui descobrir meus reais sentimentos por Thales. Aquela cabana velha, suja e repleta de mofo, foi uma ferramenta crucial na minha auto-descoberta.

Eu estava caminhando um pouco mais atrás de Susy e Rafael. Os dois estavam bastante atentos ao redor, buscavam qualquer indício, por mais imperceptível que fosse, de que Thales havia passado por ali.

Eu, no entanto, não conseguia me manter totalmente focado no que tínhamos ido fazer ali. Em minha mente, muitas perguntas sem respostas se embaralhavam e pareciam dar um nó em meu cérebro.

- Miguel! - A voz de Susy quase que sussurrando quebrou o silêncio daquele lugar escuro.

- Sim? - Chacoalhei a cabeça piscando os olhos várias vezes seguidas.

- Um dólar por seus pensamentos, amigão. - Brincou Rafa olhando para trás com um sorriso estampado no rosto. Ele continuava a caminhar com as mãos nos bolsos da calça.

- Eu também daria um dólar por eles, meu amigo... Mas infelizmente, nem eu mesmo sei o que tô pensando... Eu tô muito perdido. - Falei torcendo os lábios em seguida.

- Tudo está tão confuso pra gente também, Miguel... Eu também queria muito entender tantas coisas... - Susy indagou. A garota estava com o semblante levemente triste. Seus lindos cabelos negros com as pontas vermelhas se destacavam na escuridão da madrugada.

- Eu só queria uns momentos de paz, sabe? Ultimamente isso parece apenas um sonho inalcançável para nós. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, tantas desgraças seguidas. Quando isso terá um fim? - Comecei a lamentar.

- Ei. - Meus dois amigos pararam de caminhar e se viraram para mim.

- Uma hora toda essa loucura tem que acabar. O mal não triunfa por muito tempo, Miguel. Nós vamos ficar bem, eu tenho certeza disso. - Explicou Susy. - Eu sei que é tudo muito confuso agora, mas eu prefiro acreditar que, isso tudo está acontecendo com algum propósito positivo.

- Que propósito positivo todas essas desgraças incessantes podem ter? - Perguntei ainda mais chateado.

- De nos fortalecer? Nos tornar criaturas melhores, mais fortes e inteligentes? Talvez seja algum tipo de teste do além?- Rafael jogou no ar.

Susy franziu o cenho e encarou o loiro patinado, pendendo a cabeça para o lado involuntariamente. Ela parecia não levar muita fé no que ele havia acabado de dizer. Pensou por um segundo e disse:

- Estou surpresa de ouvir algo desse tipo vindo de você!

- O que foi? - Ele tirou a mão direita do bolso e levou até o topo da cabeça todo sem jeito. - Eu não sou um completo idiota, sabia? Tenho minhas crenças! - Sorriu tenso em seguida.

- Jamais poderia imaginar. - Susy continuou a chatear o amigo.

- Também estou surpreso. - Sorri sem desviar o olhar da feição dele. - Em anos de amizade, nunca ouvi você falar algo do tipo, algo que remetesse a alguma crença.