Cartas à Mesa

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***Miguel

Todos nós estávamos bastante exaustos. Pedimos que Plínio passasse a noite com Kaio no quarto e que, em hipótese alguma, ele abrisse a porta para alguém. Não queríamos nos envolver em mais problemas. Ninguém do Conselho poderia sequer desconfiar que mantínhamos um licantropo sem permissão no prédio.

Devido ao grande perigo que estávamos correndo perante os ataques das pessoas de olhar vazio, entramos em um consenso de passarmos o restante da noite nos alojamentos do conselho, quando o dia raiasse, retomaríamos nossas buscas por Thales.

Beatriz e Susy se recolheram, sem dúvidas, elas eram as que se encontravam mais desgastadas fisicamente e mentalmente. Eu e Rafael descemos para o grande salão, nos acomodamos em umas poltronas próximas a lareira. Tiraríamos um cochilo por ali mesmo.

- Cara, tá dormindo? - Ouvi a voz cansada de Rafael me chamar.

- Não. É meio difícil conseguir pegar no sono com tantos problemas em mente. - Respondi sem abrir os olhos. Eu continuava com meu corpo totalmente relaxado e a cabeça apoiada no encosto da enorme e confortável poltrona.

- Que loucura toda essa história, né? Esse tal amuleto parece ser bem perigoso mesmo. - Ele sussurrava. Sua voz aveludada cortava o silêncio daquele gigante ambiente.

- Nem me fale, irmão. Estou ainda mais preocupado agora que sei do que esse treco é capaz.

- Pois é... - Ele suspirou profundamente. - Temos que fazer de tudo para que isso não caia em mãos erradas mais uma vez. Da última vez que esse amuleto caiu nas mãos de quem não devia, nossas vidas se tornaram um inferno.

- Pode ter certeza que vou proteger esse objeto com minha vida, Rafa. Para alguém tirá-lo de mim, só se for por cima de meu cadáver!

- E eu acredito nisso. Te conheço bem, meu amigo. Sei como essa sua cabecinha é dura. Quando põe algo nela, saí de baixo. - Ele tentou conter um risinho.

Um breve silêncio voltou a pairar no ambiente. Mas não demorou muito até que o mesmo foi interrompido por um barulho de saltos estalando no piso.
O som dos passos se aproximaram cada vez mais de onde estávamos. Então a voz tão conhecida e rouca de professora Lourdes nos chamou a atenção:

- Meninos, o que fazem aqui?

Quando olhei para a velha feiticeira, ela usava uma camisola longa de seda preta. Ao redor do pescoço, plumas também da mesma cor do tecido, davam um ar de elegância e poder.

- Perdão, professora... - Tentei ser o mais cordial possível com a mulher. - É que devido aos últimos acontecimentos, achamos mais prudente ficarmos por aqui até que amanheça. Estamos sendo caçados lá fora. Preferimos não nos arriscar a voltar para casa tão fora de hora. Esperamos que a senhora não se importe.

- De forma alguma. - Ela dirigiu-se a mim com toda a doçura de sempre. - Fizeram muito bem em ficar. Vejo que a jovem Beatriz já os deixou informados de tudo que está acontecendo com os humanos comuns da cidade.

- Sim, senhora! - Balancei a cabeça.

- Mas temos que pensar positivo agora. Já estou trabalhando no antídoto para reverter a poção de Pavel. Podem ficar despreocupados.

- Obrigado.

Batidas na gigantesca porta de madeira do Conselho nos desviaram a atenção. Eram constantes, urgentes...

- Por Merlim! Quem será tão fora de hora? - Resmungou a feiticeira-mor indo em direção à mesma.

- É melhor tomar cuidado. Vai que seja alguém com más intenções. - Avisou Rafael.

O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora