***Miguel
Eu não entendia muito bem o valor do real sentimento até Thales aparecer em minha vida de forma tão repentina e avassaladora.
Nunca imaginei que em minha miserável existência eu pudesse viver um amor tão verdadeiro, tão intenso... O que eu mais me lamentava era a forma como ele havia me deixado. Não somente a mim, mas também a todos que o amavam incondicionalmente. Nossos amigos, Suzana...
O jeito precoce e totalmente doloroso como o baixinho havia morrido me assombrava todos os dias. Era ainda pior durante a noite, quando eu deitava minha cabeça no travesseiro. Dormir se tornou, para mim, uma tarefa quase que impossível. Eu estava acabado. Poderia dizer que meu corpo estava definhando. Parecia ser o início do meu fim.
***
Três dolorosos dias haviam se passado desde o sepultamento do maior tesouro que eu já obtive em minha existência em preto e branco. Cada vez mais eu tinha certeza que o colorido que Thales havia me trazido durante o breve momento em que esteve presente em minha vida, jamais voltaria. Eu estava sem esperanças de voltar a esboçar um mínimo sorriso que fosse.
Eu já não saía mais de casa. Não conseguia. Meus amigos bem que tentavam entrar em contato comigo, mas eu não os dava qualquer resposta. Preferia ficar trancado em minha enorme e silenciosa casa. Não queria ver ninguém... Não queria falar com ninguém. Eu sei que eles deviam estar super preocupados comigo, mas minha dor interna era maior do que qualquer outro sentimento. Eu precisava ficar sozinho, com minha dor... A dor da ausência de Thales era muito persistente e não havia nada que eu ou qualquer outra pessoa pudesse fazer para que ela parasse de ser sentida.
***
Era manhã do quarto dia desde a despedida final do baixinho. Eu estava deitado em minha cama. Assim como nas noites anteriores, eu sequer havia conseguido pregar os olhos... Com certeza eu estava com uma aparência de morto-vivo ainda pior.
Meu telefone começou a tocar. Ele estava ao lado do travesseiro e eu apenas o peguei e li no visor: Professora Lourdes.
Eu não atendi. Assim como não atendi às várias ligações anteriores de meus amigos que pareciam não se cansar de tentar entrar em contato comigo. Mas as chamadas da feiticeira-mor se mostravam insistentes. Atender? Não... Eu não queria e não conseguia falar com ninguém. Minha dor e teimosia eram mais fortes do que a persistência das chamadas da velha feiticeira.
Não suportando mais tanto incômodo, me levantei da cama e fui para o banheiro. Escovei os meus dentes, em seguida entrei embaixo do chuveiro e fiquei lá por longos minutos enquanto a água quente percorria todo o meu corpo. Seria maravilhoso se aquela mesma água levasse ralo a baixo toda a dor e sofrimento que eu estava sentindo, mas infelizmente, aquilo não era possível... Infelizmente essa magia não existia.
Depois de um bom tempo, saí do banheiro enrolado em um dos meus roupões pretos. Caminhei até à janela e abri as cortinas. O dia lá fora estava nublado. Uma leve brisa soprava balançando os galhos das árvores, e mesmo sem poder sentir, eu imaginava que com certeza o frio se fazia presente. O frio que era marca registrada de WorldHidden.
Fiquei parado de pé em frente à janela olhando aquele dia triste e escuro lá fora... Consegui perceber o exato momento em que tímidos flocos de neve começaram a dançar no ar. Agora eu tinha certeza que o dia estava realmente frio lá fora, a tristeza em meu interior só fez por aumentar, pois a neve me lembrava dos momentos mais felizes que eu já havia "vivido".
Momentos ao lado do meu baixinho, que agora, já não estava mais entre nós.
Thales... Até quando eu conseguirei suportar a dor de sua ausência? A pior de todas as dores... Pior que qualquer dor física que eu me recorde de já ter sentido em toda minha cruel existência...?
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O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]
FantasiAh o tempo... O tempo pode ser tão bom... O tempo cura feridas, nos amadurece, traz novos conhecimentos. Mas esse mesmo tempo também pode ser ruim. Esse mesmo tempo pode tirar coisas e pessoas que você ama, pode te ferir profundamente, pode te cei...