O Vazio

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***Plínio

Eu mal podia acreditar no que meus olhos estavam a ver... O que poderia ter acontecido no túmulo do jovem Thales? A pedra que mantinha o jazigo lacrado estava rachada bem ao meio, e à nossa volta não havia qualquer sinal do que poderia ter acontecido com o corpo do garoto.

A mãe do rapaz estava desolada, ela tentava compreender a situação e queria que a déssemos respostas que nem nós mesmos tínhamos naquele momento.

- Onde está o corpo do meu filho?! - Suzana perguntava alterada.

- Nós sabemos tanto quanto você. - Respondeu Beatriz.

- Que loucura toda é essa?! Vocês dois podem nos dar uma explicação racional??? Que diabos! - Miguel agora perdia totalmente a calma.

Beatriz me olhou de lado, seu semblante estava desanimado. Eu não conseguia captar o que ela tinha em mente. Para nos ajudar ainda mais, uma fraca nevasca se iniciou, um vento moderado se fazia presente.

- O que faremos agora? - Perguntei para a garota.

- Me dêem um instante para pensar, por favor! - Respondeu ela caminhando de um lado para o outro enquanto mantinha um dos dedos polegares junto aos lábios.

- Beatriz... Roubaram o corpo do meu menino?! - Perguntou Suzana já aos prantos.

Um breve momento de silêncio tomou conta do local, só o que podíamos ouvir era o som do vento nas árvores ao redor. A fraca nevasca começava a reforçar a coloração branca do solo.

Quebrando então o silêncio, a voz de Miguel, que estava alguns metros mais distante de nós, nos chamou a atenção:

- Não! Ninguém roubou o corpo dele.

- Como pode ter certeza disso? - Perguntou a mãe do jovem Thales.

- Olha... - Miguel agora apontava para o chão enquanto começava a explicar. - Observando essas marcas, me parece que Thales saiu sozinho aí de dentro.

Quando fixamos nossos olhares atentos ao que Miguel tentava nos explicar, pude perceber que fazia sentido a teoria do rapaz. A pedra que lacrava a entrada do túmulo mostrava sinais de ter sido quebrada por dentro, e havia apenas um par de pegadas indo em direção oposta ao jazigo.

- Está tentando me dizer que o Thales arrombou isso por dentro? Impossível! Essa pedra é espessa. - Suzana discordou no ato. - Meu filho jamais teria força para fazer algo desse tipo!

- Antes não tinha mesmo. - Beatriz se meteu na conversa.

- O que quer dizer?! - Questionou a mulher.

- Que o Thales que conhecíamos pode estar mudado.

- O quê?!!! - Miguel exaltou o tom de voz.

- Olha... - Continuou a feiticeira. - Nós agora sabemos que, de fato, o Thales nunca foi um humano comum... E se depois desses incidentes todos ele mudou?

- Impossível! Eu me recuso a acreditar nesse absurdo. - Suzana se mostrava relutante.

- Nós vamos procurá-lo, Suzana... Mas eu quero que tenha em mente, que o Thales pode não mais ser aquele garotinho indefeso e sensível ao extremo que todos éramos acostumados. Temos que estar preparados pra tudo. - Explicou Beatriz.

Em um certo estado de negação a mais velha cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar copiosamente.

- Vamos! Temos que achar o Thales! - Intimou Miguel. Ele estava aparentemente decepcionado. Com certeza não havia recebido bem a notícia de que seu grande amor poderia se tornado outra pessoa.

- O que faremos? - Perguntei.

- De início, pedir ajuda dos nossos amigos... Quanto mais gente o procurando, melhor.

- Podem contar comigo. - Me ofereci imediatamente.

- Vocês podem dar conta disso, pelo menos até eu recuperar minhas energias? - Perguntou Beatriz. - Eu preciso avisar aos meus pais tudo que está acontecendo e tomar um banho. Você vem comigo, Suzana! Não está em condições de ficar andando por aí.

- De jeito nenhum! - Recusou-se a mulher. - Eu também vou procurar meu filho.

- Suzana... Venha comigo. Assim que estiver melhor vamos juntas, eu prometo. Antes de tomar qualquer atitude, primeiro você tem que se acalmar. Não vai ajudar em nada alterada assim.

- Vá com ela, Suzana... Confie na gente. Vamos fazer o possível e o impossível para achar o baixinho. - Reforçou Miguel.

- E é bom ter um adulto com Beatriz para ajudá-la a explicar toda essa loucura para os pais. - Completei.

- Tudo bem... - Choramingou Suzana. - Eu vou com ela, mas só por umas horas. Depois, vou atrás do meu menino.

- Por hora, então, ficamos combinados assim... Agora vamos até aos outros avisar sobre tudo o que aconteceu e pedir ajuda. - Explicou Miguel.

- Vocês vão ficar bem em voltar sozinhas? Querem que eu as leve? É coisa rápida. - Questionei.

- Não. Não precisa. - Recusou Beatriz. -  Quanto antes vocês irem até Gabriel e aos outros, melhor. Nós voltaremos caminhando mesmo! Um pouco de caminhada ajudará Suzana a se recompor e colocar as idéias em ordem.

- Tem certeza que isso é uma boa idéia, Bia? - Insistiu Miguel. - Eu não acho que seja a melhor hora pra vocês ficarem dando bandeira. Pavel está à solta por aí. E se ele vier atrás de vocês? Você está inofenciva.

- Não me subestime, Miguel! Tenho certeza que logo estarei totalmente recuperada, aí aquele desgraçado vai ter o que merece!

- Eu ainda não me sinto a vontade de deixar vocês sozinhas...

- Assunto encerrado! - Terminou a jovem em tom autoritário. - Vamos Suzana. E vocês dois, vão logo até os outros, já enrolaram demais!

Assim que concluiu as palavras, Beatriz pegou na mão de Suzana e começou a se retirar do local. Aos poucos elas foram sumindo na escuridão entre a fraca nevasca que insistia em cair naquela noite perturbadora.

- Bem... Agora somos nós dois! - Disse Miguel se aproximando de mim.

- Então, vamos... Para onde mesmo? - Perguntei um pouco confuso.

- Para o Clã Dos Vampiros... Concentre-se em nos teletransportar até lá, que eu me concentro na localização. Você não foi a sede do novo Clã ainda, ou foi?

- Não. - Respondi. - Acho que nem mesmo na antiga eu nunca estive antes... Digamos, que, nunca tive muita afinidade com o seu líder.

- Não brinca! - Miguel soltou um risinho inevitável. - Nunca ninguém teve muita afinidade com Gabriel, mas ele mudou bastante de uns tempos para cá... Depois que Thales entrou nas nossas vidas, o loiro se tornou um cara melhor... Não só ele... Rafael também.

- Então... Vamos nessa! Precisamos achar o menino Thales o quanto antes. Ele pode estar correndo muito perigo, já que o pai dele está à solta por aí.

- Nem me diga... Estou com um pressentimento muito ruim. - Miguel coçou atrás do pescoço e em seguida me estendeu uma das mãos.

- Vai dar tudo certo, meu amigo. Eu confio! Vocês já passaram por coisas terríveis e olha só... Mais uma vez tudo indica que vai terminar tudo bem. - Fui positivo.

- Tomara que você esteja certo...

Peguei na mão de Miguel e em um segundo desaparecemos no ar.

O Belo e O Fera: Despertar [Livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora