Do Asfalto ao Morro 2

Capítulo 58

Helô narrando

Tava de casa vendo os stories das meninas no churrasco da Gigi, tava tão desanimada que nem tive ânimo pra levantar da cama e ir. Até a Duda brotou, fiquei surpresa.

L7: Quer dar um rolê cmg? -apareceu no quarto-

Tirei a atenção do celular e encarei ele, que vestia uma blusa de manga longa com uma bermuda tactel. Era incrível ver o quanto ele emagreceu esse tempo que passou no hospital, e sei o quanto isso tá incomodando ele, pq ele tá comendo igual um leão.

- Tô cansada, quero descansar um pouco. -fiz bico-
L7: Cansada de que, garota? -entrou- Levanta logo daí, vamo ali cmg. -deu dois tapinhas no meu pé-
- Vamos aonde? -falei levantando-
L7: Quero só passar um tempo ctg, posso? -ele franziu a testa e eu ri-

Levantei seguindo ele até a garagem, ele tirou a moto de lá e fez um sinal pra eu subir na garupa, assim o fiz.

Eu não fazia ideia qual era a intenção dele com aquele "rolê pelo morro"
Passamos pelo churrasco no bar e ainda tava cheião, avistei as meninas de longe e acenei mas meu pai nem parou, continuou o caminho morro a cima.

Tava distraída olhando as ruas se passando rápido enquanto estava apoiada com a cabeça nas costas do meu pai, de repente senti a moto parar e levantei a cabeça para reparar o lugar.

Estavamos no ponto mais alto do morro, nem lembro da última vez que estive ali.

- O que a gente tá fazendo aqui? -desci da moto-
L7: Sei lá, queria passar um tempo ctg, e o único lugar que me veio na mente foi esse. -me abraçou de lado- Vc sempre achou a vista daqui tão bonita, desde pequena sempre gostou desse lugar. -sorri-

Aquela brisa fria me deixava em paz, me fazia esquecer das coisas que estavam me atormentando por um momento.

- Daqui da pra ver tudo, é lindo demais! -sorri-
L7: E vc fica mais linda ainda quando sorri assim. -me fez olhar pra ele- E ultimamente eu não tenho visto esse sorriso no seu rosto, isso me mata por dentro.
- Sabia que aí tinha coisa... -revirei os olhos-
L7: Heloísa, eu sou seu pai, posso ter esse jeito agressivo, mandão e tal mas vou estar sempre do seu lado pra tudo e tá acabando cmg saber que minha princesa não está bem.

Um nó já tinha se formado na minha garganta, o choro estava prestes a vim mas eu preciso segurar as pontas, eu estava trêmula e enjoada. Não sei o que tá acontecendo.

L7: O mlk é aqui do morro? -me encarou-
- Que mlk, pai? Não é na... -ele me interrompeu-
L7: Eu sou seu pai, te conheço muito bem. É daqui do morro ou não é? -neguei- Do asfalto? -assenti- Tá sofrendo por um playboyzinho de merda, Heloísa?

Afastei ele já nervosa.

- Tá vendo como vc é?! Não posso gostar de ninguém aqui do morro pq ninguém presta, de fora do morro é tudo "playboyzinho de merda" eu não aguento mais! Vc nem conhece ele pra chamá-lo disso. -falei enquanto as lágrimas que eu não pude segurar caíam- Ninguém conhece ele! Ninguém quis conhecer ele pra me ver bem. Tudo mundo só quis julgar e julgar. Eu tô cansada!

As palavras estavam sai da descontroladamente da minha boca, eu nem pensava em nada, só estava num profundo desabafo. Meu pai me encarava de braços cruzado encostado numa grande pedra, sua expressão era fechada, como se ele analisasse bem cada palavra que saía da minha boca com atenção e absorvesse tudo.

L7: Ei, ei! -veio até mim e segurou meus braços- Se acalma, filha. Sabe pq eu disse que ele é um playboy de merda? Pq se não fosse, ele não faria vc sofrer assim! Tu acha mesmo que ele te merece?
- Vc também já fez minha mãe sofrer muito! -falei baixo-
L7: E vc acha que eu me orgulho dessa porra? Se eu tivesse me enxergado que tua mãe é a única mulher que eu quero pra minha vida antes, talvez a gente não teria passado por metade das coisas que a gente passou. -respirou fundo- E talvez seu padrinho estaria vivo, mas eu fui um puta cuzão e...

Eu sei como esse assunto mexe com o psicológico do meu pai, a ferida que a morte do meu padrinho deixou ainda é exposta no coração dele.

- Não vamos falar disso, por favor! -falei mais calma-

Ele me encarou acariciando meu rosto e me olhou com ternura.

L7: Eu já tive a idade desses mlk aqui do morro, já tive a mentalidade deles e ouço o que eles falam das mina daqui, não quero que vc nem Mayra fiquem na boca desse povo! Muitos mlk aqui no morro prestam, Kayke é um deles. Nunca fui contra a relação de vcs pq sei que o garoto visa um futuro melhor e sabe que traficar não é vida.
- E vc acha que é isso que eu quero pra minha vida? Ser mulher de bandido? Nada contra, até pq minha mãe é e ela é uma das mulheres mais incríveis desse mundo. -ele cruzou os braços- Mas pra mim já basta me preocupar com vc e com meus irmãos quando vcs da saem, eu vejo o desespero que minha mãe passa e eu não quero isso.

Meu coração tava disparado, meu estômago revirava três vezes por minuto e eu nem sei pq.

L7: Me fala desse mlk. Vc diz que ninguém quis conhecer ele, eu quero! Como foi que vcs se conheceram? -olhou pra paisagem-
- A primeira vez que a gente se viu foi na praia, lembra da vez que eu chegou com o rosto vermelho em casa?! -ele assentiu- Foi ele que me deu uma bolada -meu pai me encarou- Mas foi tudo sem querer, pai. -ri- Ele é um mlk bom, conheci uns amigos dele, mas parece que não gostaram muito de mim.
L7: Azar o deles! Vc é uma menina incrível.
- Eu sei! -ele riu- Ele me tratava bem, dizia que gostava muito de mim mas que ainda não sabia se me amava, sabe?! -limpei a lágrima que insistiu em cair- É estranho conversar isso com vc.
L7: Eu e sua mãe somos as pessoas que mais vamos te apoiar nesse mundo, independente da situação. -me abraçou- Mas me diz, se vcs se davam tão bem, o que deu errado?
- A gente não se dava tãooo bem, brigávamos muito apesar de tudo, mas o senhor sabe que eu só suporto o ciúme seu e dos meninos pq não tem como eu chutar vcs pra longe. -ele franziu a testa rindo- Ele surta por qualquer coisa, tá sempre desconfiado, por isso a gente briga.
L7: Ele já tentou.. -engoliu a seco- Te bater, te sacudiu ou algo do tipo.

Eu sei o quanto meu pai vai surtar se eu contar os detalhes das minhas brigas com o Thiago, sempre foi tudo tão intenso, pesado demais pra eu falar logo com o meu pai.

- Não! -brinquei com os dedos- Ele só gritava muito, mas eu nunca abaixei a cabeça.
L7: Sabe o que eu acho? -encarei ele- Olha essa paisagem. -ele me trouxe pra mais perto me fazendo olhar- Essa vista é linda, aqui eu tenho paz e sossego. Se eu quero que ela seja só minha, jamais vou afastá-la de mim mito menos fazer algo que magoe ela. Então se ele te magoou, por mais que doa, vai passar. E não acha que falar isso pra vc é fácil pra mim, minha vontade é quebrar a cara desse mlk só de pensar de todas as lágrimas que vc já derramou por ele mas vc cresceu, e sua mãe tá me ensinando a lidar com isso.

Nem preciso dizer que já estava chorando horrores né?!

L7: Já fiz mal pra muita mina e não quero que vc passe um terço do que eu já fiz elas passarem. Sei que quando o coração escolhe é foda de tirar do peito, mas vc é nova, vai superar esse playboy de merda. -ri-
- Eu te amo muito! -abracei ele- Obrigada por estar sempre cmg.

Aqueles braços eu me sentia segura, meu coração estava em paz.