Do Asfalto ao Morro 2

Capítulo 74

Heloísa narrando

A enfermeira veio me dar café da manhã e minha mãe acabou acordando junto.

Bia: Dormiu melhor hj?
- Nem um pouco. -senti o nó já se formar na minha garganta- Eu não tô pronta pra enfrentar tudo isso. Meu pai, uma gravidez, que ainda é de risco... Eu não tenho condições de viver isso!

Ela respirou fundo vindo até mim, sentou do meu lado na cama e me encarou.

Bia: Quando eu descobri que tava grávida do Henrique, eu tava na pior situação que eu poderia imaginar. Seu pai tinha acabado de ser preso, eu tava de frente no morro e para o seus avós eu tava viajando, como eu ia levar uma gravidez pra frente? -lágrimas já escorriam no meu rosto- Mas eu tive que dar minha cara a tapa, reuni forças até onde eu não tinha pra arcar com qualquer obstáculo que vinha na minha frente... Uns anos depois veio vc. -segurou minha mão- Seu pai tinha pego cadeia pela segunda vez, dessa vez ia pegar 45 anos de xadrez. Vc imagina como ficou minha cabeça? Eu tava no fundo do poço, mas, mais uma vez, tive que encarar a vida por vcs. Pelos meus filhos.

Ela veio pro meu lado me abraçando e me fez deitar no ombro dela enquanto ela afagava meu cabelo.

Bia: Quando vc se torna mãe, seu filho passa a ser a coisa mais importante na sua vida, independente de qualquer coisa, vai ser Deus no céu e seu filho na terra. Vc tem uma família que vai te apoiar...
- Vai? Vc acha mesmo que meu pai vai aceitar isso?
Bia: Eu achava a mesma coisa com seu avô, mas ele aceitou melhor que a sua avó.
- Meu pai não é meu avô, a senhora sabe muito bem disso... -solucei-
Bia: Vc só tem que pensar no que é melhor pro seu filho. Ele, nunca vão poder tirar de vc, então vc precisa zelar por ele acima de tudo.

(...)
dias depois

Chegou o dia que eu mais queria e, ao mesmo tempo, o que eu mais temia. Já tava ficando entediada de ficar nesse hospital, presa nesse quarto.

Dr: Continue tomando as vitaminas duas vezes ao dia e, é claro, muito repouso. -me entregou a alta-
- Obrigada por tudo, Dr. -forcei um sorriso-

Meus hematomas já estavam quase sarando mas meu rosto e meu corpo ainda estavam meio inchados.

Saí do hospital acompanhada da minha mãe, Gustavo tava esperando a gente na frente do hospital, assim que me viu veio me abraçar.

Gusta: Caralho, pensei que nunca mais ia te ver. -falou no meu ouvido-
- Ainda vai demorar pra vc se livrar de mim. -ri apertando ele num abraço-

Fomos abraçados até o carro, ele me ajudou a entrar e guardou minha bolsa no banco de carona.

Gusta: Mayra tá inquieta lá em casa esperando vc chegar. -sorri tentando aparentar tranquila-

Mas por dentro eu estava puro caos. Não sei o que vou dizer assim que eu ver todo mundo.

Pensei na possibilidade de eu gritar toda a verdade no meio da sala e depois me trancar no quarto, eles que lutem pra entender.

Chegamos no morro em alguns minutos e logo estávamos no portão de casa.

Bia: Vai dar tudo certo. -sussurrou pra mim segurando na minha mão-