CAPÍTULO 42

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HECTOR

Saio do banheiro esfregando a toalha em meus cabelos para secá-los. Ainda são cinco da manhã e Lisa dorme tranquilamente e vê-la assim acaba arrancando um grande sorriso meu. Caminho até ela e beijo seu ombro até chegar em sua boca onde deposito um selinho para assim deixá-la e ir até meu quarto.

Quando abro a porta do mesmo e me deparo com o os móveis destruídos sinto uma sensação estranha tomando conta de mim e tudo piora quando meus olhos voam até a parede manchada de sangue. Por breves minutos não me reconheço quando lembro de como fiquei ontem, aquele Hector de ontem estava descontrolado tentando a todo custo se livrar da dor e mais uma vez eu quebrei tudo achando que assim tudo iria passar, mas não, o que realmente aliviou meu sofrimento foi Lisa e suas sábias palavras.

Agora é como se tudo ficasse mais nítido, me permitindo ver que durante todos esses anos eu gostava de sofrer, porque mesmo podendo deixar Phoebe e Elisa irem eu preferi segura-las junto a mim, mesmo que isso me machucasse eu as prendi a mim achando que assim elas estariam vivas para sempre em minha memória e de fato elas vão estar, porque elas são inesquecíveis.

Más lembranças devem ficar para nos fazer sorrir nas horas triste e não para nos fazer chorar, não adianta lembrar para sempre se machucar. Quero tê-las junto a mim de uma forma saudável, que não me machuque, então eu preciso guardá-las apenas na memória e no coração e não aqui em minha casa.

Pego a correntinha de Elisa no chão e a aperto em minha mão, sentindo inexplicavelmente a presença do meu anjinho de cabelos loiros, uma lágrima cai enquanto esbanjo um largo sorriso que representa minha grande felicidade ao saber que sim, ela vai estar para sempre marcando presença em minha vida assim como Phoebe.

Vou até o criado mudo e pego a chave do quarto onde exatamente há doze anos eu não entro mais, respiro fundo enquanto a passos lentos, porém decididos vou seguindo pelo corredor até chegar na porta do último quarto. Conto mentalmente até três e giro a maçaneta, fazendo meus olhos capturarem um cômodo que esbanja abandono junto com o cheiro forte de mofo que faz meu nariz arder.

Passo minha mão no berço empoeirado, lembrado que com apenas dois anos Elisa já não queria mais usá-lo, varro meu olhar por todo quarto infantil e não sinto meu coração apertar, pelo contrário, sinto ele calmo, por hoje eu está disposto a deixá-las irem.

Pego a foto no criado mudo lilás e sorrio vendo como formávamos uma linda família que hoje não existe mais, elas se foram e só restou eu. Deixo a fotografia de lado e me concentro em desmontar os móveis para poder doá-los.

As roupas de Elisa já estão em malas assim como as de Phoebe, então tudo oque tenho que fazer é doá-las para alguma instituição, não faz sentido manter essas roupas aqui estragando e mofando enquanto existem pessoas necessitando. Junto todos os acessórios de Phoebe em uma pequena mala, até mesmo nosso anel de noivado, o único que ficou para representar nosso amor, porque a aliança que dei estava junto a ela no trágico dia em que ela perdeu a vida.

Ligo para uma das intuições que ajudo todo ano e peço para que venham buscar as coisas o quanto antes possível. A única coisa que sobrou foi a correntinha de Elisa que logo guardo no cofre.

- Está tudo bem? - Sorrio quando acabo de entrar no quarto de Lisa e ela me perfura com seus olhos ainda pesados de sono enquanto espera ansiosamente que eu responda a pergunta sempre lançada com urgência até mim.

Sento na beirada da cama e puxo Lisa para meu colo, fazendo seus braços rodearem meu pescoço. Seguro carinhosamente seu queixo induzindo seu rosto a virar levemente enquanto enterro meu rosto na curva de seu pescoço, aspirando seu cheiro único e altamente inebriante, mordo de leve seu ombro para agora me dedicar a sua boca que passo levemente meus dedos sobre ela, Lisa me olha sem entender nada e eu acho graça disso, ela ainda não entendeu que estou respondendo sua pergunta de um jeito diferente.

Tudo Começou Com Uma Taça De Vinho #1 Onde histórias criam vida. Descubra agora