CAPÍTULO 6

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H E C T O R

Sentado na cadeira de couro, eu me pego olhando para um ponto imaginário no chão enquanto Dylan vai falando como andam as documentações para que eu compre um vinhedo em Portugal, em uma cidade chamada São João da Pesqueira, um dos três maiores centros responsáveis pela produção do vinho do porto. E mesmo isso sendo de extremo interesse da minha parte, não consigo sequer prestar atenção no que ele fala.

- Hector! - mais uma vez seu tom de repreensão atinge meus ouvidos. - Não vou mais perder meu tempo explicando as burocracias que essa sua compra leva, essa é a segunda vez que falo e você nem sequer prestou a atenção.

- Faça o que quiser, confio de olhos fechados em você... - dou de ombros agora começando a bater com a caneta na mesa.

- Disso eu sei, até porque sou seu advogado, mas também sou seu amigo e por isso sei muito bem o motivo dessa sua cara.

- Está tão claro assim?

- Mais do que claro, o que foi agora?

- Acho que não fiz um bom negócio em ter me casado com Lisa. Ela é muito...

- Linda, Doce, Educada e....

- Não era isso que eu ia dizer, mas já que você acha ela tudo isso, o que posso fazer, não é mesmo? Lisa é muito certinha, aquela carinha de santa dela me irrita. Hoje ela saiu chorando só porque eu a beijei, dá para acreditar? Ela chorou como uma louca apenas por te sido beijada.

- Você beijou ela? Não era você quem dizia com todas as letras que ela não era seu tipo? - bufo impaciente e logo me levanto, começando a andar de um lado para o outro.

Dylan é tão centrado em sua profissão que nem mesmo em uma coversa de amigos ele deixa seu lado "curioso" de escanteio. Ele sabe muito bem que explicar detalhadamente as coisas não é um dos grandes feitos dos Lonnies. Não vou gastar palavras para contar o motivo pelo qual beijei MINHA esposa, sendo que ele sabe que a todo momento ou em qualquer lugar que Hector Lonnie pisa, sempre terá um fotógrafo a espreita, esperando uma oportunidade de fazer um clique revelador.

Hoje vi um fotógrafo inexperiente que estava mal escondido. Vi ali a oportunidade perfeita de todos saberem que agora sou um homem comprometido, mas Lisa estragou tudo a partir do momento em que me empurrou e saiu correndo como uma louca. Eu só espero que o melhor momento aquele fotógrafo inútil tenha capturado, eu realmente espero, até porquê não quero ter que beijà-la novamente.

- Amanhã veja aquela famosa revista de fofoca e aí você terá a resposta para sua pergunta.

- Mal posso esperar para ver o que vão escrever de vocês. - sorri de lado - Mas agora vou indo, tenho um encontro marcado as 19 horas e agora já são 18 :30, tenho que estar no restaurante em tempo recorde.

Enquanto Dylan sai do meu escritório, olho as horas em meu relógio de pulso e arqueio a sobrancelha por ver que realmente são 18:30 e que Lisa ainda não chegou. Onde essa idiota se meteu? Eu só espero que, para o bem dela, ela volte para cá ou então terei o maior prazer em tornar a vida dela um inferno.

Afrouxo minha gravata e saio do escritório indo a passos pesados até a sala de estar, nada que meu famoso e inseparável vinho do Porto não resolva. Escolho uma garrafa de Porto Ruby, despejando um pouco do líquido na taça de cristal, quando o sabor doce natural invade meu paladar sinto a tensão se esvaindo me fazendo ficar calmo.

Barulhos de passos chamam minha atenção me fazendo levantar o olhar e a minha frente encontro uma Lisa de cabelos amarrados e vestida dentro de uma roupa de dança, me pergunto onde ela arrumou esses trapos, sendo que, hoje mais cedo ela estava de blusa e calça jeans.

- Posso saber onde estava vestida desse jeito?

- Dançando. - faz pouco caso se sentando na poltrona.

- Como tem coragem de falar isso assim na cara lavada? Eu deixei bem claro que não queria saber de você trabalhando.

- Eu não estava trabalhando, apenas dançando para relaxar, não vou deixar de fazer o que eu amo e muito menos ficarei dependendo do seu precioso dinheiro.

- Faça-me o favor! - Sorrio ironicamente - O que você ganha é uma mixaria, mal dá para você e sua mãe viver.

- Tem razão, é uma mixaria. - devolve o mesmo sorriso irónico que a pouco lancei em sua direção - Mas é o meu dinheiro e tenho muito orgulho disso.

- Que tipo de mulher você é? Outras dariam tudo para estar no seu lugar e não trabalhar mais.

- Acontece, Hector, que eu não sou essas outras. - se levanta ficando à minha frente me lançando um olhar que ela julga ser intimidador, mas que para mim é o mesmo olhar de mocinha inocente que ela tem. - Eu também não escolhi para estar aqui ou você realmente acha que eu quero estar casada com você? Eu sou jovem, Hector, tenho 23 anos e muitos sonhos a conquistar, quero ganhar o mundo com minha dança e não será você a me impedir.

Minha gargalhada quebra os breves momentos de silêncio que haviam se formando entre nós. Lisa é uma ótima atriz, ela acha que falando assim comigo irá me fazer recuar e mudar de ideia, mas ela precisará de muito mais do que apenas palavras de uma mulher que se diz ser determinada.

- Lisa ... - levo meus dedos a dançarem em seu ombro, fazendo ela recuar, mas logo trato de trazê-la novamente para perto de mim só que dessa vez bem mais perto.

Como eu bem esperava suas bochechas coram e seu olhar antes confiante e preso a mim, agora está acuado, perfurando o chão. Sorrio iternamente por isso. Eu sabia que essa pose de mulher durona não ia durar muito, no fundo ela sempre será esse ratinho acuado e inofensivo, ela sabe muito bem que um rato não pode caçar um gato.

Para provocá-la, levo meus dedos a baterem de leve em seu queixo pequeno, fazendo sua respiração ficar pesada e seu corpo todo tenso.Ver Lisa assim, toda recuada causa em mim uma sensação de autoridade e poder me deixando totalmente satisfeito por isso.

- O...O que você colocou no meu vinho naquela noite?

Fico surpreso com sua pergunta. Até poucas horas atrás ela não se lembrava de nada da noite em que eu a tinha nomeado como minha vítima perfeita.

- Não sei do que você está falando, eu não coloquei nada na sua bebida. - aproveito seu olhar desfocado para analisar um pouco mais a fundo seu contorno facial, mas sou pego no flagra quando seus olhos castanhos esverdeados fitam o fundo da minha alma.

- Para de mentir, eu nunca me casaria com você em sã consciência.

- Sou tão ruim assim? - finjo estar ofendido e cheiro a curva de seu pescoço fazendo seu corpo petrificar no lugar. - As mulheres se jogam aos meus pés. - sussurro em seu ouvido.

- Fi...Fica longe de mim, não gosto de você me tocando.

- Por que acho justamente o contrário disso?

Decido soltá-la e novamente tenho minha taça em mãos, voltando a bebericiar minha bebida calmamente, como se a míseros minutos não estivéssemos a poucos centímetros de distância um do outro. Lisa definitivamente não desperta nenhum tipo de interesse em mim, mas digamos que deixar ela envergonhada se tornou uma das minhas atividades preferidas.

- Pense o que quiser Hector, eu não sou como as outras.

Assim que ela sobe o primeiro degrau da escada uma idea passa pela minha cabeça, sem pensar duas vezes me prontifico a fazer meu pedido.

- Dance para mim...

- O quê?

- Quero que dance. - me sento confortavelmente na poltrona, lançando um olhar de puro divertimento para ela. - O que está esperando? Quero você dançando, agora!

Tudo Começou Com Uma Taça De Vinho #1 Onde histórias criam vida. Descubra agora