Capítulo 6 - Pergunta

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Optei por vestir um conjunto de pijama roxo após tomar um banho quente; uma camiseta grande e folgada, sem estampa, e um short simples, ambos confortáveis para dormir.
Como não estava com muita fome graças a enorme tigela de lámen, optei por comer algumas frutas que estavam na geladeira enquanto fazia uma boa xícara de chá preto, o meu favorito.
Notei que o dia havia sido divertido ao me pegar sorrindo sozinha na cozinha.
Já fazia tempo que algo do tipo não acontecia. Nos últimos anos permaneci focada apenas em meus afazeres na vila da areia que mal conseguia ter tempo sobrando para sequer pensar em alguma coisa. O que chegava a ser surreal, pois tinha vezes que eu acabava trabalhando muito mais do que o líder do meu país.
Tomei um gole do meu chá enquanto tentava afastar aqueles pensamentos ruins sobre o falecido Kazekage que começavam a querer surgir em minha mente de repente.
A última coisa que eu queria agora era que ele voltasse do além para tentar me assombrar...
Me obriguei a pensar em coisas boas enquanto apreciava o gosto daquele chá delicioso.
Foi quando me peguei pensando em Kakashi Hatake.

"Foi muito bom ter te reencontrado..."

Perdi a noção de quanto tempo fiquei plantada diante daqueles degraus antes de finalmente entrar no meu dormitório.
Para a minha surpresa, fiquei feliz ao ouvir aquilo. Mas, embora tivesse sido muito agradável ao mesmo tempo também havia sido um pouco estranho.
Eu havia feito um grande favor para Kakashi no passado mas havia sido só isso, nós não possuíamos nenhum tipo de vínculo. E não, nem ele e muito menos o amigo dele nunca ficaram em débito comigo. Eu havia feito aquilo por vontade própria.
Talvez fosse cedo demais para ficar fazendo deduções a respeito da forma como Kakashi me tratava, afinal, ele era um homem gentil e talvez agisse dessa forma com todos.
A única certeza que eu possuía era a de que ele era uma boa pessoa, havia notado isso desde a primeira vez em que nós vimos há alguns anos atrás.
O meu sexto sentido, a minha intuição não costumavam falhar.
- Hikari... Hikari... Deixe de paranóias... - Eu disse para mim mesma enquanto me deixava levar pelo aroma delicioso que saía de dentro da xícara que estava entre as minhas mãos. - Talvez você só esteja cansada demais... É isso! Nada que uma boa noite de sono não resolva.

Após desligar todas as luzes do dormitório, fui para o quarto e encostei a porta. Não demorou muito para o sono surgir, eu realmente estava bem cansada da viagem que havíamos feito. Entretanto, esse sono foi interrompido assim que escutei um barulho estranho vindo de algum lugar muito próximo.
Me sentei na cama, entrando em alerta de repente.
Estava com um mal pressentimento, e para piorar eu sentia que não eram os meus vizinhos, afinal já era bem tarde.
Olhei ao redor parando na janela que ficava há alguns centímetros de onde minha cama estava. Nela não haviam cortinas, mas havia uma pequena fresta que eu havia deixado aberta por conta do calor.

O meu coração estava palpitando.
Eu estava sendo observada.
A janela e a porta do meu quarto estavam destrancadas...

Olhei para a porta e esperei por qualquer sinal que me indicasse que alguém estava do outro lado só esperando o momento certo para me surpreender.
Foi quando decidi pegar uma de minhas kunais que estavam dentro da bolsa de armas pendurada na cabeceira da cama. Segundos depois surgiu uma risada baixa e sinistra que acabou congelando o sangue por entre as minhas veias.
Olhei na direção por onde estava vindo aquela voz, e de um dos cantos mais escuros do quarto, um homem alto e magro surgiu da sombras.
Embora o quarto estivesse mal iluminado agora, pelo brilho da lua que atravessava os vidros da janela, eu podia ver parte de seu rosto jovem, assim como o símbolo gravado que brilhava sobre a bandana que ficava amarrada no braço direito dele.
Era um ninja da equipe Anbu da vila da areia.
- Não precisará disso portanto guarde está arma Hikari. - Ordenou ele enquanto se aproximava da minha cama aos poucos.
Abaixei a kunai, porém não a soltei. Em seguida me ajeitei devagar na cama, encostando as costas na parede enquanto tentava me recompor do susto.
Não demorou muito para eu notar que ele era um dos lacaios de Baki, meu ex-sensei, e isso tornava a situação ainda pior.
- O que está fazendo aqui...? - Perguntei, sentindo um enorme arrepio percorrer por minha espinha.
- Estou aqui apenas para bater um papinho com você.
Apertei os dedos em volta da kunai com força.
- Acha mesmo que irei acreditar nesta baboseira? - Mantive o tom de voz baixo, pois não queria correr o risco dos vizinhos escutarem aquela indesejável conversa. - Será que um dia vocês irão me dar um pouco de paz?
K, codinome do qual ele havia recebido ao entrar para a Anbu, também conhecido por mim como "o pesadelo", era um dos ninja mais habilidosos da organização. Um ser desprezível que adorava destruir tudo e a todos que estivessem em seu caminho apenas por prazer.
Não era atoa que K era um dos favoritos de Baki. Assim como também não era surpresa ele ter sido escolhido para estar ali, me espionando.
Assim que se aproximou da cama, pude notar que ele não estava usando seu uniforme habitual Anbu e sim um Kimono preto tradicional com detalhes em vermelhos. Era claramente um disfarce para não chamar a atenção na vila, entretanto, K podia até tentar usar disfarces, mas em seu rosto as marcas de guerra continuavam gravadas em cicatrizes e elas por si só já chamavam a atenção de todos por onde ele passava.
Um dos motivos por ele optar por deixar a sua franja crescer a ponto dela esconder boa parte de seu rosto.
- Não sei o porquê de tanta reclamação de repente... - Comentou ele, fingindo desentendimento enquanto se sentava de lado na beirada da cama. - Você estava ciente de algumas das condições dadas pelo conselho antes de ser liberada para vir ajudar o país do fogo.
Ele disse certo, algumas.
- Não os leve a mal. Sabe o quanto se importam com você, principalmente Baki, não é mesmo Hikari?
Precisei me segurar ao máximo para não partir pra cima daquele cretino após ouvir tamanha tolice.
- Que grande discurso K... Deve ter praticado bastante durante a viagem até aqui. Às vezes você ainda consegue me impressionar com o resto de inteligência que te sobrou.
Senti minha respiração falhar por alguns segundos antes de notar que a kunai, que antes estava presa em minha mão, agora estava sendo usada para me ameaçar, pressionada contra o meu pescoço.
- Não sabe o quanto me agrada ver você agindo dessa forma após tudo o que passamos juntos... Isto mostra o quanto é dura na queda... - O sorriso diabólico de K agora se destacava sob o brilho da lua. - Porém, se eu fosse você, tomaria muito cuidado com as palavras. Eu já te disse muitas vezes antes. Elas podem ser o motivo por trás de uma morte repentina.
Enquanto K se divertia dizendo aquelas coisas pra mim, eu sentia meu corpo tremer. Mas não por medo da ameaça que ele havia acabado de fazer. Eu estava acostumada a ser ameaçada com frequência. O problema era que devido a tantas sessões de tortura no passado, o trauma ainda permanecia marcado em minha alma e a cada vez que a ferida era reaberta, o pânico insistia em vir a tona me deixando paralisada.
Nos encaramos por alguns longos segundos antes dele dizer:
- Esse é o olhar que me fascina... Um olhar cheio de dor e rancor do qual você aprendeu a esconder com o tempo.
Engoli em seco e afastei a mão dele com força para longe de mim.
- Me deixe em paz. - Tentei manter uma certa estabilidade em meu tom de voz, mas infelizmente o esforço foi em vão.
K virou a kunai com extrema habilidade e em seguida ergueu a mesma pra mim.
- Não vim aqui para brigar contigo. - Lembrou ele. - Porém, você faz questão de me irritar e acaba fazendo eu perder o controle.
Peguei a arma e a deixei sobre a cama.
- Aliás, o que foi isso em seu pescoço?
- Desde quando você fica preocupado comigo?
- Está vendo só? Isso só comprova o que acabei de te dizer Hikari.
K era um cretino, isso era um fato comprovado e quanto mais eu era obrigada a conversar com ele, mais enojada eu me sentia.
- Não é nada demais, apenas uma alergia idiota. - Por sorte consegui demonstrar firmeza em minhas palavras obviamente falsas. - Diferente da nossa vila, aqui tem inúmeras plantas consideradas perigosas.
K ergueu uma das sobrancelhas, claramente desconfiado por natureza, mas no final acabou engolindo aquela minha explicação. Afinal, ele sabia muito bem que eu vivia enfiada dentro de florestas a procura de novas espécies de plantas e pequenos insetos venenosos espalhados pelo mundo afim de realizar novas pesquisas.
Algo que ele achava completamente entediante.
- Sei sei... Bom, de qualquer forma isso irá para o relatório. - O que mais andou fazendo?
- Eu achei que o relatório seria feito ao lado da Godaime.
- Não se preocupe quanto a isso, apenas responda a minha pergunta.
Senti um mal pressentimento quanto aquilo, não era bem assim que imaginei que seriam feitas as visitas da equipe Anbu. Algo claramente estava errado e eu precisava ficar em alerta.
Eu não podia falar sobre a missão que havia feito com Kakashi na divisa do país do som e esperava que Tsunade também fizesse o mesmo. Entretanto, eu não podia mentir, apenas precisava enrolar K para evitar que aquele assunto viesse a tona.
- Eu acabei de chegar, não tive tempo nem de conhecer os meus novos colegas de trabalho. - Desviei o olhar. - Tive uma breve reunião com a Hokage e ela me passou algumas informações a respeito da vila destruída, resultado dos ataques impulsionados por aquele demônio.
- Não devia falar mal de quem um dia te acolheu e te alimentou.
Olhei para K com raiva em meu olhar após ouvir aquela frase, o meu interior queimando em ódio.
- Foi apenas uma brincadeira. - O sorriso nos lábios dele diziam o contrário. - Porra Hikari, você é chata pra caralho!
Suspirei.
- Olha, por um lado eu fico até aliviado que esteja aqui, sabia? - Ele agora apontava o indicador em minha direção. - Porque olhar para a sua cara diariamente sempre me causa desgosto.
Mal sabia ele que esse sentimento era recíproco...
- É melhor eu ir agora antes que acabe saindo do controle contigo de novo pois vontade não me falta.
Me mantive em silêncio, pois sabia que ele estava dizendo a verdade. K possuía um pavio bem curto comigo, com todos para falar a verdade. Bastava pouco para ele ficar irritado ao ponto de sentir a necessidade de me agredir fisicamente.
Por isso o nomeei como "o pesadelo".
- Aliás, irei refrescar a sua memória. - Anunciou ele enquanto olhava em meus olhos com aquele olhar que me causava tensão. - Estaremos de olho em você. Qualquer passo em falso a partir de hoje e eu te levo embora para nunca mais voltar a pôr os pés neste lugar. Não pense que irá se divertir enquanto estiver em Konoha, você sabe muito bem o seu lugar Hikari.

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora