Capítulo 92 - Bronca

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   — Me chamou, senhor?
Baki olhou para mim pelo reflexo da janela, o olhar afiado e cheio de frieza do qual eu já estava acostumada.
— Entre e feche a porta.
Como sempre usando aquele tom de voz autoritário…
Entrei e fechei a porta.
— Sente-se.
Fui até uma das poltronas que ficavam em frente para a mesa dele e me sentei.
— Como você está se sentindo?
Ele fingindo estar preocupado comigo conseguia ser ainda mais irritante do que lidar com suas ordens. 
— Eu estou bem, obrigada por perguntar, senhor.
Baki veio até mim, parando há poucos centímetros de onde eu estava sentada.
— Eu não pensei que fosse te ver tão rápido.
— Eu digo o mesmo. Mas imprevistos costumam acontecer.
Ele ficou me observando por um momento, o que conseguiu me deixar desconfortável, pois lidar com ele calado conseguia ser ainda pior do que quando estava irritado.
— O que aquele Jounnin está fazendo aqui?
Engoli em seco.
Eu acabei sendo inocente demais ao pensar que talvez ele não soubesse daquele pequeno detalhe.
Devia estar furioso pelo fato de um homem ter passado a noite no meu quarto.
Baki agia como um pai extremamente rigoroso e conservador em boa parte do tempo.
— Ele está cumprindo uma ordem da Godaime, que inclusive é uma das regras que o conselho exigiu para que eu continuasse em Konoha. A de que eu só posso deixar o país estando ao lado de um superior. — Lembrei ele, me sentindo agradecida pelo conselho ter inventado aquela regra que antes eu achava estupida. — Ele está esperando para me levar de volta ao país do fogo, afinal, segundo vocês, eu sou…
— …Propensa a fugas. — Completou ele. — Sim, você é. E este é apenas um de seus…
Olhei para ele, esperando que fosse completar aquela frase. Mas ao invés disso ele apenas sorriu, gostando de ver a expressão de raiva estampada em meu rosto.
— Quando é que você vai aprender a matar essas suas emoções?
Suspirei.
— Eu vou perguntar isso quantas vezes forem necessárias, até você aprender a lição.
— Baki, será que dá para irmos direto ao assunto pelo menos dessa vez?
— Me chame pelo meu nome novamente e eu acabo com você!
Precisei desviar o olhar imediatamente para que o medo não conseguisse me dominar naquele momento.
— A cada dia que passa eu me arrependo mais de ter te dado essa bandana.
Eu sei…
“Você não me deixa esquecer disso Baki.”
Permaneci em silêncio, que era o melhor jeito de acalmar o ânimos dele.
Ele gritava e eu me calava, se caso ousasse revidar, ele partia para a agressão sem nem pensar duas vezes.
Alguns minutos depois ele finalmente saiu de perto de mim para ir sentar sobre a sua poltrona.
— Eu não vou negar que achei toda essa situação engraçada.
— Engraçada?
— Como foram cair num truque tão idiota?
Ao invés de responder, peguei a carta que estava toda dobrada em um dos bolsos do meu colete e em seguida deixei a mesma aberta sobre a mesa dele.
Ele pegou o papel e em seguida começou a analisar os detalhes.
— Isso é obra do Kaname? — Perguntou ele, incrédulo.
— Eu creio que sim, afinal, ele estava por trás disso tudo.
— Como que esse desgraçado conseguiu o carimbo de permissão do conselho do país do vento?!
— Acho que agora você entende bem porque aceitamos a "missão" sem questionamentos.
— Mesmo assim, você devia ter parado eles quando descobriu o disfarce.
— Eles ameaçaram atacar Konoha se eu não continuasse fazendo o que ele queriam.
— Acha mesmo que Hideki e Junpei conseguiriam durar muito num ataque aquela vila?
— Do jeito em que a vila se encontra, sim.
— Você, por um acaso, já se esqueceu aonde mora?
Ele abaixou a folha sobre a mesa, batendo com a mão sobre ela.
— O seu lugar é aqui, neste país. Então não deve misturar as coisas.
— O que…?
— É exatamente o que você ouviu.
— Mas senhor, eles foram atrás de mim, acha mesmo que eu deveria ter ignorado o pedido e deixado eles atacarem pessoas inocentes?
— Isso acontece o tempo todo, mas o único país pelo qual você tem que arriscar a sua vida protegendo é o do vento.
— Tecnicamente não, pois eu nasci no do fogo.
Baki deu uma breve risada ao ouvir aquilo.
— Então agora você tem orgulho disso? — Ele perguntou sem esperar por uma resposta. — Foi passar apenas alguns dias lá e já está começando a perder o juízo.
— Não é questão de orgulho...
— A sua sorte é que a Godaime ordenou você ir em frente com essa loucura, mesmo sabendo que algo nessa história estava errada. E será isso o que salvará a sua pele dessa vez.
Uma notícia boa pelo menos.
— Agora eu vou te fazer uma pergunta e quero sinceridade total na resposta. — Ele olhava fixamente em meus olhos agora. — O que exatamente o seu irmão queria?
Não adiantaria tentar mentir ou modificar a história, Baki iria descobrir uma hora ou outra e esse seria como me colocar automaticamente dentro da armadilha dele.
— Ele queria me usar para chegar em Orochimaru.
Baki franziu o cenho ao ouvir aquilo.
— Ele está iludido, achando que vai conseguir alcançar os seus objetivos estando do lado dele.
— E deixe me adivinhar, você deve ter dado ótimos conselhos para que ele, já que um dia foi subordinada.
— Eu não faria isso nem se fosse o meu pior inimigo.
— Tinham que ser irmãos mesmo, compactuam até das mesmas loucuras.
— São situações completamente diferentes.
— Ah, é verdade. — Ele deu uma de desentendido. — Às vezes eu esqueço que você só fez o que fez pelo falso amor que Kimimaro despertou em você.
— Senhor...
— O que foi? Ele te iludiu para conseguir o que queria, bom, os dois conseguiram fazer isso.
— Chega, pra mim já chega! — Me levantei e em seguida fui em direção a porta. — Eu estou cansada de ouvir você jogar isso na minha cara.
Eu estava prestes a chegar na porta quando fui empurrada contra ela.
— Nós ainda não terminamos essa conversa. — Ele disse enquanto mantinha meu corpo pressionado contra a porta.
Me mantive imóvel para não irritá-lo ainda mais.
— Eu irei refrescar a sua memória, já que ela costuma ser meio ruim... — Ele sussurrava em meu ouvido. — …Eu não sou mais o seu sensei, mas continuo sendo o seu superior, eu sempre serei. Fui claro?
— Sim, senhor...
Meu rosto começou a doer ainda mais após ele começar a pressionar meu rosto contra a porta.
— Se está realmente arrependida, sabe o que fazer.
Pensei em Gaara naquele momento, o que conseguiu me dar forças para aguentar aquela humilhação e em seguida me ajoelhei na frente dele, permanecendo de frente pra porta, pois isso não faria diferença.
— Perdão senhor. Eu agi por impulso. Eu estou errada.
Baki permaneceu em silêncio por alguns bons segundos antes de deslizar os dedos de uma das mãos por entre os fios do meu cabelo.
— Boa garota. Agora levante-se.
Fiz o que ele pediu, me sentindo derrotada.
— Se dependesse de mim você não voltaria mais para Konoha, mas o conselho chegou a conclusão de que você deve permanecer lá por mais um tempo. Entretanto, se eu fosse você, eu tomaria muito cuidado a partir de agora, qualquer passo em falso e você deixará de pôr os pés lá para sempre.
— Eu irei me lembrar muito bem desse detalhe.
— É bom mesmo. E aliás, eu espero que tenha se despedido do seu irmão, pois iremos mata-lo assim que o encontrarmos.
Fiquei em silêncio pois de nada adiantaria eu dizer alguma coisa, ele iria em frente com aquele plano de qualquer maneira.
— É para se manter longe de problemas. Fui claro?
— Sim.
— Sim, o que?
— Sim, o senhor foi claro.
Baki deu meia volta, seguindo em direção a sua mesa e em seguida encostou o corpo sobre ela.
— Aliás, o conselho me pediu para te dar a notícia, já que está aqui.
— Que notícia?
— Eles já escolheram quem será o próximo Kazekage. Gaara.
Senti um misto de sentimentos ao ouvir aquilo. Na verdade, eu não conseguia definir se eu estava muito feliz ou muito assustada com aquilo.
No passado eu nunca imaginaria que a vila seria confiada aos cuidados de Gaara um dia, não após tudo o que ele passou.
— Me parece surpresa.
— Eu estou surpresa, também estou feliz e orgulhosa por ele.
— Que bom, porque após ele começar a pegar o jeito, você irá ser o braço direito dele, assim como foi com o pai.
— O que…?!
— A maioria dos integrantes votaram em você para continuar nessa missão.
Foi difícil esconder a decepção em meu rosto ao ouvir aquilo, pois eu iria continuar fazendo algo que eu no fundo eu sabia que não gostava. Mas eu não possuía escolhas, eram apenas ordens das quais eu precisaria cumprir.
— Ei, não fique triste, eu estarei aqui para te apoiar e te aconselhar como sempre.
Como se isso fosse ser algo bom…
— Você é um exemplo para as pessoas. Eu quero que continue nesse caminho.
Assenti.
— Aliás, como Gaara reagiu quando soube?
— Ele não te contou?
— Ainda não. — Respondi. — Não tivemos tempo para conversar direito.
— Ele lhe contará os detalhes depois, mas parece confiante, aliás, ele quer ganhar a confiança de todos na vila.
— Chegou a hora de todos verem do que ele é capaz, e tirar de uma vez por todas essa ideia de que ele é apenas uma fonte de destruição.
— Veremos na prática em breve.

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