Capítulo 68 - Koji

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   Acordei aos poucos e a primeira coisa que notei foi que o ambiente estava iluminado apenas por uma luz fraca de abajur.
Eu estava deitada e sobre o meu corpo estava um lençol com o cheiro do qual eu já estava me familiarizando, o perfume de Kakashi...
Oh…!
Despertei de vez ao notar que eu não estava na cama dele e sim no sofá…
Olhei ao redor e me deparei com a cena de Kakashi sentado ao meu lado enquanto segurava um livro em uma das mãos e apoiava os pés sobre a mesa de centro.
Assim que notou que eu estava acordada, ele sorriu gentilmente e em seguida abaixou o livro, deixando em seu colo.
— Já acordou?
— Porque me deixou dormir? — Perguntei após conseguir me sentar no sofá.
— Hum…  Digamos que eu estava sem sono então não vi motivos para te proibir de ficar aqui.
— Eu acabei quebrando as regras.
Ele riu brevemente.
— Hikari, era apenas uma brincadeira, não precisava ter levado isso a sério. E além do mais, eu já havia considerado ir dormir no meu quarto hoje, porém, como eu havia dito antes, eu estava sem sono.
— Hum… — Ajeitei minha postura no sofá macio. — Então, nesse caso tudo bem.
— Quer que eu te faça um chá para conseguir dormir melhor?
Quanta generosidade…
Kakashi não parava de me surpreender.
— Muito gentil da sua parte Kakashi, mas eu não quero interromper a sua leitura. Pode deixar que eu faço para nós, pra mim não será nenhum incômodo.
Comecei a dobrar o lençol quando notei que ele me observava.
— O que foi…?
— Nada não, eu só estava pensando em umas coisas.
— Quer compartilhar esses pensamentos?
— Quem sabe após tomarmos uma boa xícara de chá…
— Eu acho uma ótima ideia. — Eu disse após me levantar. — Então continuamos essa conversa após eu terminar de fazer o chá.
— Certo.
Fui para a cozinha e acendi somente a luz do cômodo.
Eu provavelmente havia dormido pouco porém me sentia bem descansada, fora que não havia tido nenhum sonho estranho ou pesadelos horríveis para me deixar ainda mais perturbada.
— Desculpe, mas quer algum sabor específico?
— Fique a vontade para escolher, eu gosto de todos esses.
— Tudo bem.
Após escolher um dos sabores de chá, comecei o preparo do mesmo e enquanto isso Kakashi aproveitou para voltar com a sua leitura.
Acabei me perdendo em pensamentos durante esse meio tempo, notando só agora o quanto eu me sentia feliz naquele momento.
Embora eu tivesse tido alguns contratempos durante as últimas semanas, eu estava gostando muito de ficar em Konoha.
Notei também que, por mais que me deixasse com vergonha admitir aquilo para mim mesma, estava gostando de ficar na casa de Kakashi, a companhia dele já vinha sendo agradável desde a primeira vez em que havíamos trabalhado juntos, então foi inevitável para mim não me sentir daquela forma.
Entretanto, eu me sentia mal sempre que me pegava tendo certos tipos de devaneios.
Estava começando a se tornar cada vez mais difícil continuar negando para mim mesma que Kakashi era um homem interessante em todos os sentidos.
Olhei para ele por um breve momento, gostando de vê-lo tão relaxado daquele jeito enquanto se mantinha imerso na história do livro.
Olhando assim ele nem parecia aquele mesmo homem que estava bravo mais cedo por conta das palhaçadas de Genma.
Suspirei.
Aquilo foi por pouco...
Eu precisava tomar mais cuidado ao ter esse tipo de conversa no ambiente de trabalho da próxima vez. 
Pisquei os olhos algumas vezes, saindo daquele estado de torpor do qual eu me encontrava e em seguida desviei o olhar para a água que já estava fervendo.
Aproveitei para desligar o fogo e fui terminar de preparar o chá.
— Prontinho. — Deixei as xícaras sobre a mesa de centro após ele retirar os pés dela. — Espero que eu não tenha adoçado demais.
Voltei até a cozinha ao lembrar que precisava apagar a luz.
— Obrigado Hikari.
– Por nada.
Kakashi trocou o livro pela xícara e em seguida deu um gole em sua bebida.
— Hum... Está do jeito que eu gosto.
— Que bom saber disso. Pelo menos o chá eu consigo fazer direito.
Ele começou a rir enquanto eu voltava para o sofá.
— Pare de se subestimar.
— Ok, já não está mais aqui quem falou. Aliás, eu não esqueci, quero saber quais os pensamentos que pairavam em sua mente naquele momento.
Kakashi ajeitou sua postura, e por um momento ficou olhando em meus olhos.
— Não eram nada demais pra falar a verdade, às vezes eu só não consigo controlar direito os meus pensamentos.
Fiquei um pouco surpresa ao ouvir aquilo.
Era outra coisa que havíamos em comum pelo jeito.
— Um dos meus pensamentos naquele momento foi… — Ele fez uma breve pausa que conseguiu me deixar ainda mais curiosa. — Bom, como eu posso dizer isso sem soar meio estranho…?
— Só diga Kakashi.
— É que eu tinha uma imagem de você quando te conheci anos atrás, e essa imagem permaneceu bem viva em minha mente desde então. — Ele continuou. — É surreal pensar que agora você está aqui, morando comigo.
Precisei de alguns segundos para conseguir digerir bem aquelas palavras. E durante esse meio tempo senti que a minha frequência cardíaca havia aumentado.
Havia se passado tantos anos desde aquele acontecido e mesmo assim ele se lembrava como se tivesse sido ontem.
Talvez se eu não tivesse começado a ter lapsos de memória, teria me lembrado dele assim que nos se encontramos novamente.

Quantas memórias eu havia perdido durante esse meio tempo…?

O que mais eu havia esquecido do meu passado…?

— Soou meio estranho, não foi?
Pisquei os olhos algumas vezes antes de voltar a olhar nos olhos dele.
— Não! Não soou estranho. — Levei uma mecha do meu cabelo para a parte de trás da minha orelha. — Eu só estava tendo algumas recordações daquele dia.
Ele permaneceu em silêncio, o que me incentivou a continuar a falar.
— Fiquei triste quando me disse que seu amigo havia falecido.
— Eu notei... — O olhar dele estava cheio de compaixão agora. — ...Assim como eu também notei a força de vontade que teve naquele dia para salvar a vida dele.
Olhei para as minhas mãos por um momento, pensando no assunto.
— Se tivesse sido outro ninja, daquele esquadrão do qual fiz parte naquele dia… Com certeza teria ignorado a presença de vocês ou teria feito coisa pior…
— Nós tivemos sorte, muita sorte em ter nos encontrado antes deles.
Senti o meu rosto aquecer após ouvir aquilo.
— Se me permite perguntar, o que aconteceu com o Koji depois daquele dia?
Kakashi pensou brevemente em alguma coisa e em seguida disse:
— Nós recebemos um pedido de recolhimento devido as baixas durante aquela missão. No dia seguinte, Koji me disse no hospital que não queria mais seguir a vida como um ninja.
Olhei para ele, surpresa por ter escutado aquilo, mas me mantive em silêncio para não interrompê-lo.
— Ele passou anos aprendendo diversas  técnicas das quais aperfeiçoou rapidamente. Ele era um gênio. — Continuou ele. — Conquistou diversos cargos até conseguir entrar para a Anbu, onde ficou durante muitos anos, e naquela noite ele decidiu que havia sido a sua última missão como um ninja.
— Nossa…
— “Não é essa vida que eu quero pra mim Kakashi. Eu cheguei a uma conclusão de que não é assim que eu quero morrer. Eu não me arrependo de ter entrado para o mundo ninja pois consegui salvar diversas pessoas, mas eu quero poder viver a minha vida de outra maneira a partir de agora.” Foi o que ele me disse alguns dias depois.
Eu estava ficando cada vez mais impressionada com o andar que estava indo aquela conversa. 
Quem diria…
— Pouco tempo depois ele conheceu uma pessoa e com ela construiu uma bela família. Abriu um restaurante, que inclusive está aberto até hoje, sendo administrado pela esposa. — Continuou ele. — Eles tiveram uma filha e durante um longo tempo viveu feliz ao lado delas. Koji faleceu devido a uma doença rara, o médico havia dito que era genético e que não havia cura.
— Ele aproveitou o resto da vida dele da melhor maneira que conseguiu, que foi estando ao lado da família dele.
Ele assentiu. 
— É necessário muita coragem para fazer parte do mundo ninja, mas para sair dele exige muito mais.

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora