Capítulo 83 - Feridas

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   Fiquei surpresa ao ver Gaara entrando no escritório após Tsunade e mais um aliado da vila da areia.
— Gaara?!
— Oi Hikari.
— O que está fazendo aqui…? — Perguntei sem esperar por uma resposta. — Espera, foi você quem trouxe a carta?
Ele assentiu.
— Nós.
— Mas porque se deram ao trabalho? Podiam ter enviado do jeito tradicional.
— Precaução.
Franzi o cenho ao ouvir aquilo.
Aquela história estava ficando cada vez mais estranha...
— Seus irmãos também vieram?
Ele negou com a cabeça.
— O que houve? Porque o conselho pediu uma "missão confidencial" justamente para mim sendo que eu estou aqui?
Tsunade voltou para a sua mesa, enquanto isso Gaara ficou olhando fixamente em meus olhos e eu conhecia bem aquele olhar desconfiado dele.
— É confidencial. — Lembrou ele. — Apenas me pediram para vir te entregar e dizer que é pra você retornar a vila o quanto antes.
— Desculpa, mas isso não faz sentido.
— Ouvi dizerem que medidas importantes estão prestes a serem tomadas.
Olhei para Tsunade, demonstrando a minha impaciência.
— É melhor você ir logo, assim já elimina de vez todas essas dúvidas.
— Você era o braço direito do meu pai. O conselho não vai excluir você de acontecimentos importantes para a vila, você esteja nela ou não.
Olhei para Gaara ao ouvir aquilo.
Ele estava certo.
Entretanto, mesmo ele dizendo aquilo com confiança, dava pra notar que tanto ele quanto o aliado estavam agindo de forma um pouco estranha...
— Estamos tendo que lidar com muitas situações ao mesmo tempo, e você sabe como os integrantes do conselho costumam ser em momentos como este.
— Infelizmente sim. Bom, eu vou com vocês.
— Quer que eu peça para Genma ir com vocês Hikari?
— Não será preciso. — Gaara negou imediatamente. — Já trouxe um subordinado e está de bom tamanho. Obrigado. — Ele voltou a sua atenção para mim antes de continuar. — Estaremos te esperando nos portões de Konoha.
Esperei até que os dois se retirassem do escritório para olhar para Tsunade.
Notando que ela parecia estar tão confusa quanto eu naquele momento.
— Tem certeza de que não é melhor que Genma os acompanhe?
— Gaara tem razão, é melhor não envolver mais pessoas nisso.
— Tudo bem, como quiser.
— Bom, é melhor eu ir arrumar a minha mochila.
— Irá levar Hiro com você?
Senti o meu sangue gelar por entre as veias só de pensar naquela ideia, ainda mais após o resultado da última vez em que havia levado ele comigo.
— Eu acho melhor não, ele ainda é pequeno demais para fazer viagens tão longas, fora que eu não sei o nível de gravidade dessa missão.
— Realmente, seria arriscado...
— Eu vou ver se Kakashi pode ficar com ele pra mim enquanto isso.
— Não.
Fiquei surpresa com o tom de voz dela.
— Quero dizer, é melhor deixar que Genma cuide dele, afinal, ele não vai mesmo. — Explicou ela. — Kakashi terá outras missões para realizar, então presumo que não conseguirá dar a atenção que ele precisa.
— Por mim tudo bem.
— Eu cuido dessa parte, Hiro ficará bem. — Ela disse após me entregar a carta da missão. — Agora vá.

                                 ***

— Eles estão saindo. — Comentou Shizune assim que viu Hikari sair da vila acompanhada por Gaara e o aliado deles.
— Vai me dizer agora o motivo por trás de estarmos espionando eles?
— Bom, a nossa missão será vigiar Hikari.
Kakashi franziu o cenho ao ouvir aquilo.
— Pode continuar a explicação.
— Gaara veio entregar pessoalmente uma carta de solicitação de missão confidencial. Nela estava escrito que Hikari seria a pessoa escolhida para tal responsabilidade.
— Que estranho.
— Nem tanto, se pediram exclusivamente pra ela, é porque o conselho da vila da areia sabe que só ela tem os requisitos necessários para tal missão.
— E porque vieram entregar pessoalmente?
– Essa é uma boa pergunta Kakashi.
— E porque iremos espionar ela?
— Por precaução, até descobrirmos a gravidade dessa missão da qual não foi especificada como deveria ter sido.
Após sentir que aquela seria uma distância segura para que Hikari e os outros não perceberem a presença deles, Shizune começou a seguí-los e Kakashi foi logo atrás dela.
Kakashi logo sentiu um mal pressentimento.
— Tsunade está achando essa história toda meio suspeita então pediu para que eu escolhesse alguém para ir comigo averiguar.
— Entendi…
— Precisamos ser o mais discreto possível, eles não podem nem sonhar que estamos fazendo isso.
— Quanto a isso pode ficar tranquila. — Ele olhou para ela pelo canto do olho.
— O mais engraçado é que dentro da carta havia dinheiro, muito dinheiro.
— Espera, eles pagaram pela missão?
Ela assentiu.
— Quanto mais me conta sobre essa história, mais estranha ela se torna.
— A partir de agora, todo cuidado é pouco.
Kakashi desviou o olhar para Gaara e em seguida para o ninja estranho que estava com eles.
Eles pareciam estar conversando sobre alguma coisa.

                                ***

— Gaara…
— Sim.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Porque não veio com os seus irmãos dessa vez?
Gaara nem sequer olhou pra mim, manteve o olhar fixo no caminho a nossa frente.
Como ele era uma pessoa impassível de emoções, era difícil sequer imaginar o que poderia estar passando pela mente dele naquele momento.
Olhei pôr sobre o meu ombro, para o ninja que nos seguia e me senti desconfortável ao ver que ele me observava com um olhar desconfiado.
Ele usava uma roupa larga, com um tecido na cabeça que só deixava os olhos a mostra.
— Eles estão ocupados no momento. — Respondeu Gaara, me fazendo desviar para ele. — Eu não tive escolha, o conselho ordenou que essa mensagem chegasse o quanto antes a você.
— Entendi…
— Aliás, deve estar estranhando a presença do nosso aliado, mas foram ordens do conselho.
— Eu imaginei. Afinal, sabemos muito bem que você não precisa de nada disso.
— Não mesmo.
Estava prestes a contar pra ele sobre as minhas últimas novidades, mas por algum motivo decidi não fazer isso. Gaara estava distante e parecia não estar muito afim de perder tempo conversando.
Podia ser apenas fruto da minha imaginação, mas ele estava agindo de forma estranha.

Algumas horas depois…

— Gaara, estamos na vila oculta do rio. — Alertou o ninja aliado, quebrando o silêncio que havia se formado entre nós durante horas.
— Mais algumas horas e estaremos em casa. — Gaara disse, olhando pra mim pelo canto dos olhos.
— Essa missão é mesmo urgente?
— É sim.
— Então porque estamos indo nesse ritmo normal?
— Não há motivo para gastarmos as nossas energias de uma só vez.
— Mas…
— Meu Deus, quantas perguntas! — Berrou o outro ninja ao entrar na minha frente, o que me fez parar de andar no mesmo instante. — Como você conseguiu ficar ainda mais insuportável?!
Engoli em seco ao ouvir aquele tom de voz familiar.
Olhando nos olhos dele com mais atenção notei que o conhecia.
— Junpei…? — A minha voz era um mero sussurro.
Ele retirou o tecido da cabeça, revelando a sua face diabólica da qual havia ficado marcada em minha mente.
Aquele era Junpei, um ex-subordinado do falecido Kazekage.
— Eu mesmo.
— Gaara, o que está acontecendo…?
— É Gaara, conte a ela o que está acontecendo. Está na hora de revelar qual será a missão dela a partir de agora.
Gaara sorriu, um sorriso estranho do qual conseguiu me deixar desconfortável.
— Junpei, você poderia ter esperado mais um pouco para ter se revelado, não acha?
— Foi mal, eu não resisti.
— Quem é você e porque está fingindo ser Gaara?!
O impostor começou a gargalhar, claramente se divertindo com a situação. E em seguida uma nuvem de fumaça preencheu o ambiente ao redor dele.
— Como é bom rever você Hikari.
Senti o ar fugir dos meus pulmões assim que eu vi a pessoa por trás daquele disfarce.
— Não pode ser… Hideki…?!
— Ela realmente ficou surpresa em nos ver Hideki.
Eu mal conseguia sustentar o olhar enquanto olhava nos olhos daquele homem.
Ambos fizeram parte do meu passado.
O Kazekage costumava me deixar nas mãos dele quando queria me punir. O que aconteceu inúmeras vezes após a mulher dele ter morrido.
— Porque vocês vieram atrás de mim?
— Porque isso, porque aquilo, porque, porque, porque! — Gritou Junpei, impaciente como sempre. — Como sempre cheia de perguntas para fazer e nos irritar.
Me segurei para não rir da situação.
Eu realmente não estava acreditando naquilo.
— Se acalme Junpei, não precisa assustá-la, bom, pelo menos não agora.
— O que querem de mim…?
— Desculpe mas eu ainda não posso falar sobre isso, é uma missão confidencial, lembra?
Levei uma das mãos até minha bolsa de arma, aproveitando para puxar uma kunai da qual foi arrancada da minha mão segundos depois por Junpei, após ele aparecer atrás de mim.
— Sem gracinhas ou vai perder as suas mãos... — Ele sussurrou em meu ouvido enquanto entregava a arma para Hideki.
— Sempre tão ingênua. — Comentou Hideki após começar a girar a kunai no ar. — Ainda continua utilizando técnicas fracas como essa?
Me mantive em silêncio enquanto olhava para a cicatriz que ele possuía abaixo do olho esquerdo.
— Creio que o aprendizado não foi o suficiente. Seria bom se você voltasse a treinar conosco como nos velhos tempos.
— Aquilo nunca foi um treinamento. — Tentei manter o meu tom de voz impassível de emoções. — Eram apenas torturas físicas e psicológicas.
— Tudo aquilo foi necessário para você ser quem você é hoje.
Neguei com a cabeça.
— Está enganado.
— Você costumava dar muito trabalho para o Kazekage.
— Graças a você, ele passou a ficar cada vez mais estressado.
— Parem…
— Graças a você, a mulher dele morreu!
Desviei o olhar e em seguida levei as mãos até os ouvidos.
— A verdade costuma doer, não é mesmo…?

O Ninja Que CopiavaOnde histórias criam vida. Descubra agora